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Cristãos iraquianos se refugiam no Líbano

A imigração dos cristãos iraquianos, uma constante desde o início da invasão americana no país em 2003, foi intensificada depois que radicais tomaram Mossul

Cristão da minoria Yazidi foge do Iraque e vai para o Curdistão (Reuters/Rodi Said)
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Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2014 às 07h11.

Baabda (Líbano) - Expulsos pelos jihadistas do Estado Islâmico ( EI ) de sua terra natal, o Iraque , vários cristãos passaram pelas fronteiras e, agora, tentam esquecer o calvário acompanhados de fiéis da mesma religião no Líbano.

A arquidiocese do Líbano , na cidade de Baabda, nos arredores da capital, se transformou em um centro de amparo para os cristãos iraquianos que fugiram de seu país, especialmente da cidade de Mossul.

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Lá e em outras regiões do norte do Iraque, os extremistas sunitas tomaram o controle e ameaçaram de morte os cristãos que não se converterem ao islã, e não há alternativa a não ser escapar.

É o que fez um industrial iraquiano, que não quer se identificar por medo de represálias contra seus familiares, que ainda estão no Iraque.

"Os radicais me convocaram e disseram que minha casa e minha fábrica pertenciam ao EI. Roubaram tudo o que tinha lá, além do dinheiro", afirma o empresário, casado e com três filhos.

Ele lembra como os radicais arrancaram os brincos que suas filhas usavam e bateram na mais nova, deixando hematomas no rosto, quando ela reclamou que estavam quebrando seus pertences.

O único que deixaram foi o carro com o qual o industrial pôde fugir a Arbil, a capital da região autônoma do Curdistão iraquiano, ainda tranquila. Por lá ele vendeu o veículo e com o dinheiro comprou passagens de avião para o Líbano.

A salvo na arquidiocese, outro iraquiano - que também pede anonimato - considera que há moradores de Mossul que se aproveitam das circunstâncias e se passam por membros do EI para extorquir os cristãos. "O sotaque denuncia. E muitos deles são conhecidos nossos", conta.

A imigração dos cristãos iraquianos, uma constante desde o início da invasão americana no país em 2003, foi intensificada depois que em 10 de junho os radicais tomaram Mossul.

"Não sabemos o número exato de iraquianos cristãos que fugiram para o Líbano, já que muitos não se registram, mas calculamos que sejam cerca de duas mil famílias desde 2003", diz à Agência Efe o bispo de Beirute, monsenhor Michel Kassargi.

Vindo de uma família que teve vários membros massacrados pelos turcos no século passado, Kassargi acrescenta que fazem tudo o que está ao alcance para poder ajudar, e crítica à comunidade internacional pela "inação" frente ao que acontece no Iraque e em outros países do Oriente Médio, com cada vez menos cristãos.

Se no começo do século XX representavam 20% da população na região, atualmente calcula-se que sejam apenas 5%.

"Somos contra a imigração dos iraquianos (cristãos) e condenamos os países ocidentais que a favorecem em vez de ajudar a que resistam e não fujam", lamenta Kassargi.

Roy Merhab, encarregado de coordenar a ajuda recebida na sede episcopal para os iraquianos, se declara "impressionado" com estado em que os refugiados chegam, "desprovidos de tudo", já que na fuga tiveram tudo roubado.

"Todos têm muito medo e garantem que não querem retornar ao Iraque enquanto essa situação continuar acontecendo", declara Merhab, que explica que há voluntários para repartir ajuda alimentar, encarregados de hospitalizar os que necessitam, os que fazem as matrículas das crianças nas escolas e os que dão apoio psicológico.

O governo libanês não considera os iraquianos refugiados e os trata de maneira diferente da que trata os sírios que fogem da guerra em seu país, segundo Merhab. Ele detalha que os iraquianos ganham visto renovável de 15 dias, mas alguns são detidos por permanecer ou trabalhar ilegalmente no país.

"Eles só desejam viver de forma digna, sem medo e sem mendigar", diz.

Enquanto isso, a arquidiocese se transforma em um vai e vem de carros com famílias libanesas que levam alimentos e utensílios para os iraquianos.

Uma das doadoras, identificada como Claire, lembra o conflito civil entre 1975 e 1990, e diz: "Temos que cooperar porque sabemos o que é uma guerra e não podemos esquecer que pode nos acontecer o mesmo". EFE

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