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Crimes de supremacistas brancos crescem nos EUA

De 2016 para 2017, casos de violência cometidos por grupos de extrema direita e supremacistas brancos saltaram de 20% para 59% do total de ataques

Em outubro, um atirador abriu fogo em duas sinagogas em Pittsburgh e assassinou 11 pessoas (Cathal McNaughton/Reuters)

Em outubro, um atirador abriu fogo em duas sinagogas em Pittsburgh e assassinou 11 pessoas (Cathal McNaughton/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de maio de 2019 às 16h50.

Washington - "Essa terra é nossa! Essa terra é a nossa!" Esse foi o grito de ordem usado por um grupo de pouco mais de dez pessoas que se definiram como "nacionalistas" e "identitários" para interromper, há duas semanas, um debate na livraria Politics & Prose, em Washington. A conversa no local era sobre um livro que discute impactos de um ressentimento de fundo racial nos Estados Unidos.

O episódio, sem desdobramentos criminais, ilustra o que especialistas apontam como uma tendência de crescimento dos extremistas que defendem o nacionalismo e a supremacia branca - em oposição a negros, judeus e muçulmanos. Nem Washington, que já foi considerada uma das "cidades-santuário" para acolhimento de imigrantes, escapa mais das manifestações radicais.

Os dados variam dependendo do método usado pela instituição que conduz a análise, mas o aumento é constante. A Liga Anti-Difamação (ADL, na sigla em inglês) aponta que, em 2017, os casos de violência cometidos por grupos de extrema direita e supremacistas brancos representaram 59% do total de todos os ataques extremistas nos EUA. Um ano antes, eles eram responsáveis por apenas 20% dos casos. Pesquisa do Centro para Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS) também indica um crescimento dos casos de violência praticada pela extrema direita.

Há duas semanas, um ataque contra uma sinagoga na Califórnia reacendeu as preocupações com o tema. O suspeito de abrir fogo e matar uma pessoa, além de ferir outras três, tem 19 anos e foi acusado de 109 crimes de ódio e crimes federais.

Nos últimos dois anos, os EUA foram palco de ataques de crimes de ódio ligados a radicais nacionalistas. O caso mais notável foi Charlottesville, em 2017, quando supremacistas brancos e simpatizantes do neonazismo fizeram uma manifestação na cidade. Um ato contrário ao grupo foi atacado por um motorista, que jogou o carro contra manifestantes, matando uma mulher e ferindo 19 outras pessoas.

Brian Levin, diretor do Centro para Estudo do Ódio e Extremismo, da Universidade da Califórnia, aponta que o número de homicídios causados por extremistas de direita e nacionalistas brancos subiu de 13 casos, em 2017, para 17, em 2018, nos EUA. "A questão está afetando não só os EUA, mas muitos países do mundo", afirma.

"Qualquer movimento radical e de ódio pode cometer um ataque em massa. Mas há algumas ideologias que estão tendo um incentivo maior. Hoje, os nacionalistas brancos são a ameaça extremista mais proeminente", completa Levin.

Em outubro, um atirador abriu fogo em duas sinagogas em Pittsburgh e mudou a rotina dos judeus da Pensilvânia. Na ocasião, 11 pessoas foram assassinadas. O atirador passou meses usando as redes sociais para fazer postagens racistas, antissemitas, nas quais chamava os imigrantes de "invasores". No dia em que decidiu entrar nas sinagogas com um rifle e três pistolas, ele postou: "Não posso sentar e assistir a meu povo ser abatido. Dane-se sua ótica, eu estou entrando."

Desde então, as sinagogas passaram a ampliar os botões de pânico espalhados pelo ambiente - de menos de dez para algumas dezenas. O mecanismo permite um comunicado direto às autoridades policiais. As sinagogas na Pensilvânia também realizaram treinamento de como fugir ou se esconder em caso de ataques. A Federação Judaica da Grande Pittsburgh promoveu cerca de oito treinamentos por semana depois do atentado.

A ação em Pittsburgh teve efeitos políticos. Congressistas estaduais da Pensilvânia anunciaram na quinta-feira, 9, que discutirão seis projetos de lei com foco no combate aos crimes de ódio. As medidas no pacote incluem a criação de um banco de dados de grupos de ódio, a exigência de que os criminosos façam aulas sobre diversidade e um rigor maior na investigação e na punição dos casos, que passarão para a alçada do procurador-geral do Estado.

Para Seth Jones, diretor do projeto de ameaças transacionais do CSIS, o atirador de Pittsburgh é um sinal do quadro nacional. "Apesar de a violência de grupos de extrema esquerda também representar uma ameaça, as redes de extrema direita aparentam estar mais bem armadas e serem maiores", afirmou. Ainda segundo ele, o número de ataques da extrema direita, desde 2014, foi maior do que os ataques de extremistas islâmicos.

O diretor do CSIS usa dados coletados por um consórcio da Universidade de Maryland para estudo do terrorismo. Segundo ele, os ataques terroristas de extremistas de direita subiram nos EUA para 31 casos em 2017. Entre 2007 e 2011, foram contabilizados menos de 5 casos por ano. Na Europa, o número de ataques subiu de 9, em 2013, para 30, em 2017. Em 31% dos atentados, os alvos são figuras religiosas ou instituições e a arma de fogo é usada em 38% das vezes.

Republicanos e democratas divididos

O crescimento dos ataques de extremistas de direita nos Estados Unidos é um dos temas que polariza o cenário político americano. Enquanto os democratas condenam unanimemente as ações de nacionalistas e de supremacistas brancos, a maioria dos republicanos hesita em criticá-los.

Os deputados estaduais da Pensilvânia que fizeram o anúncio de um pacote de lei para combater o extremismo eram todos democratas. "A questão precisa ser bipartidária e não há razão para que isso não aconteça", afirmou o deputado democrata Dan Frankel, que busca apoio de republicanos.

A forma de lidar com o problema divide os dois partidos e expõe o presidente dos EUA, Donald Trump, a críticas severas. Na época das manifestações nacionalistas de Charlottesville - e dos protestos contra os supremacistas brancos -, Trump disse que havia "muito ódio e violência" em "ambos os lados". Em abril, ele voltou a defender a manifestação.

"As pessoas estavam lá para protestar contra a retirada de uma estátua do general Robert Lee", disse Trump, em referência ao líder confederado que lutou para manter a escravidão na guerra civil, no século 19. "Gostem ou não, ele foi um grande general."

No entanto, depois do ataque a tiros contra duas mesquitas na Nova Zelândia, em março, Trump foi questionado se achava que havia um crescimento dos crimes cometidos por supremacistas brancos. Ele rejeitou a ideia. "Realmente não. Acho que é um pequeno grupo de pessoas que têm problemas muito sérios", respondeu o presidente americano.

Trump tem sido constantemente criticado e advertido por aliados republicanos que o tema pode entrar no foco da campanha presidencial de 2020 e ser usado contra ele pelos pré-candidatos democratas, especialmente em Estados com grande número de eleitores moderados e independentes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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