Conte, Merkel e os imigrantes: ele não quer; ela, não se sabe mais
As migrações são uma questão importante para os dois países: em 2016, 181.436 imigrantes entraram na Itália, e 482.000 foram para a Alemanha
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2018 às 06h20.
Última atualização em 18 de junho de 2018 às 10h10.
O primeiro-ministro da Itália , Giuseppe Conte, se encontra nesta segunda-feira com a chanceler da Alemanha , Angela Merkel, para tratar sobre a relação diplomática entre os países e os novos caminhos da política migratória do continente. É um encontro de opostos.
Conte acabou de assumir, e colocou em sua equipe Matteo Salvini, líder da aliança de direita Liga, para ser ministro do Interior do país. Uma das primeiras decisões do novo governo italiano foi rejeitar o desembarque do navio Aquarius, com 629 imigrantes refugiados a bordo. A decisão foi duramente criticada pela comunidade internacional e de direitos humanos, que afirmou que os tripulantes corriam risco de vida se permanecessem em alto mar. Espanha e França se comprometeram a receber os refugiados.
Embora a política migratória do novo governo italiano seja também rejeitada por outros países europeus ( o presidente francês Emmanuel Macron criticou a ação), a Alemanha pode estar migrando suas ideias migratórias para o mesmo sentido. Não há dúvidas que as migrações são uma questão importante para os dois países: em 2016, 181.436 imigrantes entraram na Itália, e 482.000 foram para a Alemanha.
Na semana passada, a chanceler alemã se reuniu com o grupo conservador da Baviera para debater o assunto, e mostrou que seu governo pode romper mais uma vez caso uma medida nacionalista não seja tomada. Que a entrada de imigrantes na Alemanha deve ser rediscutida e remodelada é uma questão unânime para o governo, que propõe que os novos e futuros imigrantes sejam distribuídos de maneira “mais equitativa” entre os países europeus. O ponto de cisão entre o governo de Merkel e os conservadores está no momento desta decisão: para Merkel, a questão deve ser discutida e votada com outros países da União Europeia; para os conservadores, deve ser tomada imediatamente.
Semelhanças à parte, o que os dois países não podem comparar são suas situações econômicas. A Alemanha é, atualmente, o motor econômico da União Europeia, enquanto a Itália cambaleia em meio ao fraco crescimento econômico. O governo italiano, formado pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, encampa pautas populista e eurocéticas.
Uma pesquisa do instituto Eurobarometro mostrou que somente 44% dos italianos acreditam que fazer parte do bloco seja positivo para o país, e apenas 36% acha que a Itália ainda tem alguma relevância nas reuniões do bloco. Sobre o que pensam os italianos, Merkel não tem nenhum controle. Sobre o resto, ela tentará chegar a bons termos com Conte.