Agência de notícias
Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 06h38.
Última atualização em 10 de janeiro de 2025 às 06h41.
O líder da oposição, Edmundo González Urrutia, disse na quinta-feira, 9, que "muito em breve" estará "em liberdade" em Caracas. Exilado desde setembro, o ex-diplomata tem feito uma tour por diversos países americanos para denunciar o que acusa ser uma fraude nas eleições do dia 28 de julho e contestar a vitória de Maduro. Ele promete ainda voltar ao seu país nesta sexta-feira, 10, no dia da posse, para assumir a Presidência no lugar do ditador. González é alvo de um mandado de prisão e por quem as autoridades venezuelanas oferecem R$ 620 mil pela captura.
Na quinta-feira, o ex-diplomata esteve na República Dominicana, onde se encontrou com o presidente Luis Abinader para mostrar as atas que, segundo a oposição argumenta, comprovam sua vitória acachapante sobre Maduro. O país foi o último do giro que começou há quase uma semana pela Argentina, tendo passado também pelo Uruguai, Estados Unidos e Panamá, em busca de apoio internacional para tentar assumir o poder.
Enquanto isso, na Venezuela, a líder da oposição e sua aliada, María Corina Machado, encabeçava uma manifestação em Caracas contra a posse de Maduro. A opositora saiu da clandestinidade, na qual estava há 133 dias, e surgiu em meio à multidão no bairro de Chacao. Mas, no fim da mobilização, a oposição relatou que a ex-deputada foi detida temporariamente, sendo solta após ser forçada a gravar vídeos. O regime, que também chamou seus apoiadores às ruas em apoio ao chavista, negou a detenção, classificada pelo ministro do Interior, Diosdado Cabello, como "invenção, mentira".
González chegou ao Palácio Nacional dominicano acompanhado de ex-líderes do Grupo IDEA (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas). Esses ex-presidentes estão tentando coordenar um avião para levá-los, junto com González, à Venezuela. Em resposta à ação, o ministro do Interior, Diosdado Cabello, número dois do regime, disse que o governo irá "neutralizar" qualquer aeronave que tente "violar o espaço aéreo venezuelano", informou o jornal venezuelano El Tiempo.
"Estão correndo um risco muito sério. Recomendo que não comecem a inventar coisas", afirmou, acrescentando que a presença do grupo "indica uma invasão de um país". — Esperamos por eles como invasores, serão detidos e colocados à disposição da Justiça venezuelana
Desde a crise que eclodiu após as eleições de 28 de julho, contestadas também por boa parte da comunidade internacional, o acesso ao país por via aérea tornou-se mais restrito. Maduro suspendeu voos para quatro dos principais destinos da região, como Panamá, Peru, Chile, e a própria República Dominicana, informou o jornal La Patilla. Caracas rompeu relações com esses países após eles contestarem a proclamação da vitória do chavista sem a apresentação das atas eleitorais.
As conexões aéreas que permanecem abertas são com Bogotá, capital da Colômbia, e alguns países europeus.
Além disso, as autoridades policiais mantêm rigorosos pontos de controle de entrada e saída de passageiros em mais de dezenas de terminais aéreos, em especial no aeroporto internacional Simón Bolívar, a principal porta de entrada do país e da capital. No local, as telas de informação dos voos mostram as mensagens com a ordem de prisão contra González, continuou o jornal.
Para além dos aeroportos sob controle das Forças Armadas, há ainda três pequenos aeroportos privados, todos também sob custódia militar.
As possibilidades de entrada no país por terra também não são muito animadoras. Apesar de partilhar uma extensa fronteira com a Colômbia, a Guiana e o Brasil, as possibilidades de acesso por essas regiões são limitadas, observou o jornal, cobertas de selvas, rios caudalosos e montanhas. As rotas mais "tranquilas" estão sob forte proteção das forças armadas, em especial, destacou o jornal, as quatro que ligam a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela e a localizada em Santa Elena de Uairén, que liga o país ao Brasil. Esta porém está a mais de mil quilômetros de distância da capital.
Se os militares não forem suficientes, o jornal destaca que essas faixas são tomadas por rotas irregulares conhecidas como "trochas", geralmente controladas por narcotraficantes e criminosos comuns, o que amplia ainda mais os riscos para aqueles que tentam utilizá-las. Mas também não são intransponíveis: em fevereiro de 2019, o líder opositor Juan Guaidó atravessou a fronteira entre a Venezuela e a Colômbia e apareceu de surpresa em um megashow organizado na cidade colombiana de Cúcuta. Ele estava proibido de sair do país.
Então líder da Assembleia Nacional e autoproclamado presidente interino, Guaidó envolve-se em uma polêmica ao aparecer posando para fotografias com membros dos Rastrojos, uma quadrilha de narcoparamilitares colombiana que atua na fronteira entre os dois países. Como vídeos e imagens daquele dia mostram, o opositor atravessou a fronteira através de trilhas e estradas secundárias e informais sem vigilância.
E, caso estejam bloqueados os caminhos por terra e por ar, González ainda poderia tentar entrar no país através do mar. O que, assim como nas outras duas opções, não seria fácil: de acordo com La Patilla, os 2,8 mil km de faixa costeira do país estão sob vigilância constante das forças armadas e policiais venezuelanas. Também não são totalmente seguras devido às habituais denúncias de ataques piratas e narcotraficantes aos navios pesqueiros e embarcações privadas.
O jornal aponta que o país tem uma localização estratégica no Caribe e compartilha fronteiras marítimas com diversas ilhas da região, como Curação, Aruba, e Trindade e Tobago, todos a menos de 100 km da costa venezuelana. Há ainda países um pouco mais distantes como Porto Rico e a República Dominica, onde González esteve na quinta-feira.
O ex-diplomata, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após uma ordem de prisão, afirma que quer retornar à Venezuela para assumir o poder. A cerimônia de posse presidencial está marcada para 10 de janeiro ao meio-dia (13h em Brasília), no Parlamento, controlado pelo chavismo. A reeleição de Maduro também provocou protestos que deixaram 28 mortos, 200 feridos e mais de 2.400 presos, inclusive adolescentes, acusados de terrorismo e encarcerados em prisões de segurança máxima. Até o momento, cerca de 1.500 foram libertados.