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Como, afinal, o Estado Islâmico financia as suas atividades

O Estado Islâmico se tornou a organização terrorista mais rica do mundo e ganha hoje cerca de dois milhões de dólares por dia com o contrabando de petróleo


	Membro do Estado Islâmico: grupo ganha 2 milhões de dólares por dia apenas com extração e contrabando de petróleo para diferentes locais
 (Stringer/Reuters)

Membro do Estado Islâmico: grupo ganha 2 milhões de dólares por dia apenas com extração e contrabando de petróleo para diferentes locais (Stringer/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 11h08.

São Paulo – O grupo extremista Estado Islâmico (EI) segue tentando consolidar o seu autoproclamado califado. Fortemente armados com equipamentos roubados dos exércitos da Síria e do Iraque, os jihadistas não se amedrontaram pelos ataques aéreos que são realizados pela coalização internacional liderada pelos Estados Unidos (EUA).

Os avanços territoriais parecem ter sido timidamente freados, mas não há sinais de que o EI está enfraquecido. E um dos motivos para tanto é o fato de que o grupo está ficando cada vez mais rico e organizado.

Petróleo, o principal negócio

Considerado “o grupo terrorista mais rico do mundo”, conforme escreve Luay Al-Khateeb, fundador do Instituto de Energia do Iraque, o EI há tempos deixou de ter as doações de simpatizantes como sua principal fonte de renda.

De acordo com suas estimativas, o EI hoje controla 60% dos ativos de petróleo da Síria, além de possuir sete deles no Iraque. Segundo Al-Khateeb, é justamente esse o maior e mais rentável negócio dos jihadistas, capaz de gerar cerca de dois milhões de dólares por dia.

“O EI está em condições de contrabandear 30 mil barris de petróleo bruto por dia para territórios vizinhos e vende o barril por entre 20 e 60 dólares, dependendo da quantidade de homens envolvidos naquela produção”, explica o analista.

Para efeitos de comparação, o barril de petróleo Brent custa, em média, 85 dólares no mercado regulado.

“A quantidade retirada por eles é uma gota no oceano do volume hoje produzido em âmbito global e regional. Mas são suficientes para impactar na trajetória do grupo”, lembra Valérie Marcel, analista de Energia, Ambiente e Recursos da Chatham House, instituto britânico de relações internacionais.

Contrabando

“O EI vende o petróleo para uma máfia de intermediadores que levam os barris para refinarias na região do Curdistão do Iraque, Turquia e também Irã”, explica Valérie. Há ainda refinarias improvisadas construídas pelo grupo. Nelas, conseguem tratar o petróleo para o repasse aos consumidores locais, que utilizam o produto na geração de energia. 

Para os EUA, cortar essa fonte de financiamento faz parte da estratégia para desestabilizar o grupo e os campos e refinarias de petróleos dominadas pelos jihadistas são alvos frequentes dos ataques aéreos da coalização.

Mas um dos obstáculos é acabar com o contrabando propriamente dito. Especialmente as rotas que seguem para a Turquia. 

Analistas ouvidos pelo jornal The New York Times acreditam que autoridades turcas fazem vista grossa para a situação, pois estão de alguma forma se beneficiando dela. “Tenho certeza de que há um significativo número de pessoas ganhando dinheiro com isso na Turquia”, disse um deles para a publicação.

Saques, pedágios e impostos

O contrabando de petróleo é, sem dúvidas, um importante pilar nas operações do EI. Contudo, o grupo vem diversificando suas atividades.

“Ao contrário do Al Qaeda, que trabalha de forma transnacional e por meio da comunicação de várias células em diferentes países, o EI tem uma visão geopolítica”, explica Pedro Costa Júnior, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, em entrevista para EXAME.com.

“E isto significa ocupar um território e transformá-lo em seu”, prossegue. Segundo o professor, é justamente essa “visão geopolítica” que dá ao grupo a possibilidade de diversificar suas fontes de receita, pois podem, por exemplo, saquear bancos, estruturar pedágios e cobrar impostos da população. Algo que outras organizações, como o próprio Al Qaeda, não conseguem fazer.  

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