Antes da descoberta dos fragmentos do vírus no leite, um surto de H5N1 foi identificado em 33 rebanhos de oito Estados dos EUA (Jose A. Bernat Bacete/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 29 de abril de 2024 às 16h22.
Última atualização em 29 de abril de 2024 às 17h07.
Na última sexta-feira, 26, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta sobre o risco de transmissão do H5N1, vírus causador da gripe aviária, por meio do consumo de leite fresco. A doença, que inicialmente era conhecida por afetar principalmente aves domésticas e silvestres, tem despertado preocupações devido à capacidade de infectar uma variedade cada vez maior de espécies e à expansão de seu alcance geográfico.
Testes mostram que atual vacina da gripe protege contra H3N2 DarwinEmbora a presença do vírus H5N1 tenha sido detectada no leite, ainda não está claro se a doença pode ser transmitida pelo consumo desse alimento. No entanto, a OMS solicitou que os países permaneçam vigilantes diante da possibilidade de transmissão do vírus de animais para seres humanos.
O alerta foi emitido pela OMS após a Food and Drug Administration (FDA), órgão americano de vigilância sanitária, anunciar a detecção de fragmentos do vírus em uma em cada cinco amostras de leite cru comercializadas nos Estados Unidos. Portanto, ambos os órgãos recomendam o consumo de leite pasteurizado, submetido a altas temperaturas para eliminar possíveis micro-organismos, como medida de segurança.
"A investigação sobre o vírus detectado no leite, bem como seu potencial papel na transmissão, está em andamento", afirmou a OMS em comunicado.
A entidade internacional recomenda que os países implementem medidas de controle de infecções e reduzam a exposição humana a aves e mamíferos possivelmente infectados com a gripe ou outros vírus da influenza.
Antes da descoberta dos fragmentos do vírus no leite, um surto de H5N1 foi identificado em 33 rebanhos de oito Estados dos EUA, fato que motivou a investigação sobre o leite.
Pelo menos uma pessoa no Texas foi diagnosticada com gripe aviária após ter contato direto com vacas leiteiras supostamente infectadas, mas não apresentou sintomas graves.
A gripe aviária é uma doença altamente contagiosa, causada por variantes do vírus Influenza. Atualmente, grande parte dos casos de alto potencial transmissível no Brasil e em outras partes do mundo é da cepa H5N1.
Até o momento, a doença foi identificada em aves domésticas e silvestres, planteis de criação, além de mamíferos. O ser humano também pode contrair, embora isso seja mais raro.
Notificada pela primeira vez em 1878, na Itália, a "praga aviária", como era conhecida na época, só foi classificada como influenza A em 1955. O primeiro relato de contágio pela variedade H5N1 ocorreu em 1997, em Hong Kong. O Brasil, até 15 de março de 2023, nunca havia registrado focos da doença.
De acordo com dados de março do Ministério da Agricultura, o Brasil registrou 158 casos de gripe aviária, sendo 155 em aves silvestres e três em aves de criação para subsistência.
A médica infectologista Nancy Bellei, docente e chefe do laboratório de pesquisa sobre vírus respiratórios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explicou ao Estadão que o atual surto no Brasil e na América do Sul, regiões onde a gripe aviária não havia sido detectada anteriormente, está relacionado ao desenvolvimento de uma versão mais patogênica do vírus influenza em aves migratórias, que viajam entre os países em busca de melhores condições de vida.
Nancy afirma que a transmissão para seres humanos é considerada rara, pois estes não possuem os receptores necessários para o vírus da gripe aviária, ao contrário das aves. No entanto, isso não significa que a população humana esteja imune à doença.
A especialista destaca que o risco de contágio pelo H5N1 depende da capacidade do vírus de sofrer mutações que o tornem adaptado à espécie humana.
Geralmente, a transmissão ocorre por meio do contato com secreções, sangue, fezes e até tecidos de animais infectados.
Nancy explica que, devido ao histórico de contaminação em humanos, as pessoas tendem a pegar a doença ao manipular diretamente aves infectadas para prepará-las para o consumo.
Além disso, a transmissão também pode ocorrer por meio de partículas de aerossóis liberadas nas fezes das aves doentes, contaminando o ar.
Os sintomas da gripe aviária em humanos são semelhantes aos da gripe comum, incluindo febre alta, dores musculares, dor lombar, dor de cabeça, náusea, fadiga e sintomas respiratórios como tosse e expectoração. No entanto, o quadro pode evoluir gravemente, levando a dificuldades respiratórias e até hemorragia pulmonar. Além disso, há casos de infecção assintomática, em que o paciente não apresenta sinais de doença.
Nas aves, os sintomas podem incluir problemas no sistema nervoso e de coordenação motora, como andar desajeitado, redução na produção de ovos (em aves poedeiras) e mortes em larga escala.
O que fazer se está com suspeita?
Se uma pessoa for exposta a aves suspeitas ou confirmadas com H5N1, ela deve ser monitorada pelo serviço de saúde local, e ficar isolada por 10 dias, tempo de incubação do vírus (período em que os sintomas se manifestam).
Se o paciente apresentar sintomas, é necessário coletar secreções de região da nasofaringe - como feito na covid-19 com o swab - e permanecer isolada até os sintomas desaparecerem.