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Eleição de Milei triplicou número de argentinos que vê país na direção correta — até agora

Novo presidene gerou expectativa recorde, mas agora tem risco à frente, diz CEO da Ipsos para a América Latina, Jean-Christophe Salles

Javier Milei, presidente da Argentina, durante evento em Buenos Aires (Luis Robayo/AFP)

Javier Milei, presidente da Argentina, durante evento em Buenos Aires (Luis Robayo/AFP)

Publicado em 2 de fevereiro de 2024 às 06h04.

O presidente Javier Milei gerou um efeito extraordinário na Argentina. No ano passado, só 19% dos argentinos acreditava que o país estava indo em uma boa direção. Após sua posse, em dezembro, esse percentual aumentou para 66%, segundo dados da Ipsos, instituto de pesquisas que atua em diversos países.

"A Argentina passou de país com satisfação mais baixa entre seis pesquisados na região, para o posto com satisfação mais alta", disse à EXAME Jean-Christophe Salles, CEO da Ipsos para a América Latina, em entrevista em São Paulo.

Salles explica que, em países como México e Brasil, o percentual de satisfação com o país está em torno de 55% a 60%. "O impacto na Argentina foi tremendo", analisa.

No entanto, é comum que a animação trazida por um novo governo vire frustração ao longo do tempo, conforme os meses passam e a nova administração falha ao entregar o que prometeu.

"A grande pergunta é o que vai acontecer amanhã. E todo mundo espera muito. Quando há mais expectativa, há mais risco de decepção. Se as coisas melhorarem de forma realmente rápida, tudo ok. Mas haverá um período de tempo que as pessoas estarão dispostas a aguentar e depois tem que haver mudanças e melhorias", disse Salles.

"Milei disse que haverá melhoras com a inflação em três ou seis meses. Então creio que o grande desafio está em que os preços parem de subir", prossegue.

Após tomar posse em dezembro, Milei tomou uma série de medidas para liberar controles de preços e desregulamentar a economia, o que gerou uma alta na inflação. Ele defende que as medidas darão resultado a longo prazo, ao cortar gastos públicos e estimular novos negócios no país, mas deixa claro que pode levar alguns anos para que as soluções funcionem de fato.

O novo presidente concentrou as mudanças em um decreto de urgência, que entrou em vigor mas ainda pode ser derrubado pelo Congresso, e em um projeto de lei com mais de 300 itens, que está em debate na Câmara e deve ser votado nesta semana.

Milei não tem maioria no Congresso e precisa do apoio de outros partidos para aprovar medidas. Com isso, o projeto de lei que ele apresentou foi desidratado: o governo retirou dele propostas de mudanças fiscais, de reforma eleitoral e nas aposentadorias. A proposta ainda inclui dar poderes extras ao presidente por um período determinado, privatizações de empresas e alterações no funcionamento da Justiça.

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