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Colômbia vai às urnas no domingo com liderança inédita da esquerda

O senador Gustavo Petro é favorito para chegar ao segundo turno nas eleições na Colômbia neste domingo, 29. Mas seu oponente ainda é uma incógnita

Eleições presidenciais ocorrem neste domingo, 29 (Sebastian Barros/NurPhoto/Getty Images)

Eleições presidenciais ocorrem neste domingo, 29 (Sebastian Barros/NurPhoto/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 27 de maio de 2022 às 06h00.

Última atualização em 29 de maio de 2022 às 09h59.

A Colômbia vive neste fim de semana uma eleição presidencial que caminha para ser diferente de todas as anteriores. O país de 51 milhões de habitantes vai às urnas para o primeiro turno neste domingo, 29, com a liderança nas pesquisas do senador de esquerda Gustavo Petro e uma segunda vaga ainda em disputa.

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Aos 62 anos e ex-prefeito da capital Bogotá, Petro vem liderando as sondagens desde o começo da campanha. O candidato tem entre pouco mais de 35% e 40% das intenções de voto, a depender da pesquisa. Apesar de sua rejeição em alguns setores do eleitorado, Petro é visto como quase confirmado no segundo turno.

A incógnita está em qual será seu oponente. O segundo colocado é hoje Federico "Fico" Gutiérrez, candidato de direita e ex-prefeito de Medellín, que tem entre 20% e 25% dos votos.

Ele é seguido de perto pelo magnata da construção civil Rodolfo Hernández, que hoje alcança 19% das intenções de voto. Outros candidatos de direita e centro-direita correm por fora.

Ainda há entre 10% e 15% de indecisos. Além disso, a expectativa é que somente cerca de 50% ou 60% dos eleitores votem, o que também dificulta parte das projeções.

VEJA TAMBÉM: Candidato líder na Colômbia, Gustavo Petro sofre ameaças de morte

Elogiado por sua gestão em Medellín, visto como nome de renovação aos 47 anos e candidato favorito de parte do empresariado, Gutierrez tem o desafio de popularizar sua imagem entre os mais pobres. Também tem sofrido para desvincular sua candidatura do grupo político do atual presidente, Iván Duque, altamente impopular após protestos que sacudiram a Colômbia nos últimos anos, embora não seja do mesmo partido de Duque.

Já Hernández, aos 77 anos, foi o candidato que mais cresceu nas últimas semanas. O empresário foi prefeito da cidade de Bucaramanga e tem posições de direita radical, já tendo dito publicamente que admirava o ditador alemão Adolf Hitler e dado um soco em um vereador. Sem estar vinculado a um partido, ele afirma que seu objetivo é fortalecer o combate à corrupção, à violência e à imigração na Colômbia, e tem feito sucesso na internet - virando um fenômeno no TikTok - como candidato antissistema.

Hernández (ao centro), ao lado de Fico Gutiérrez (à esq.) em debate: magnata tem feito sucesso nas redes sociais (Ivan Valencia/Bloomberg)

Como em outras eleições latino-americanas recentes, o pleito na Colômbia será marcado por ampla desconfiança dos eleitores com os políticos tradicionais. A confiança dos colombianos na democracia também é uma das piores na região. Os três favoritos para ir ao segundo turno são políticos que não estiveram amplamente no governo nacional nos últimos anos e se vendem como algum tipo de renovação.

Colômbia pós-Uribe?

As eleições deste ano se tornam mais imprevisíveis por serem as primeiras em duas décadas que não contarão com um candidato oficial do grupo do ex-presidente de direita Álvaro Uribe. Uribe governou a Colômbia de 2002 a 2010 e fez dois sucessores: Juan Manuel Santos (com quem romperia depois por um acordo de paz com os guerrilheiros das Farc), e o atual presidente, Iván Duque.

Duque não pode se reeleger pelas leis eleitorais. Além disso, o grupo de Uribe e Duque perdeu popularidade em meio a protestos da chamada "primavera colombiana" em 2019 e, mais recentemente, em 2021. A última onda de protestos veio após uma reforma tributária proposta pelo governo, que aumentaria impostos para a classe média. Duque também foi criticado também pela violência policial nos protestos, com mais de 60 mortos em todo o país, a maioria civis.

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Passadas as eleições deste domingo, o segundo turno, em 19 de junho, tende a ser acirrado. Tanto Hernández quanto Fico Gutiérrez se aproximam de Petro nas pesquisas, e tendem a aglutinar votos dos que rejeitam a esquerda.

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Petro, por sua vez, tenta surfar a onda de rejeição à direita tradicional na Colômbia e o momento favorável à esquerda na América Latina, com pautas como redução da dependência de carvão e combustíveis fósseis, maior tributação aos mais ricos e ampliação do Estado. O grupo de Petro foi o grande vitorioso das eleições legislativas da Colômbia realizadas neste ano. A aliança Pacto Histórico, liderada por ele, empatou com os conservadores e liberais em força no Senado e na Câmara, um resultado sem precedentes na história recente.

Se eleito, Petro seria o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.

As propostas do senador - que no passado foi guerrilheiro e hoje moderou parte do discurso - vão em linha com nomes da nova esquerda local, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. Petro visitou Boric na posse do novo chileno neste ano, e o mandatário do Chile disse que espera poder colaborar com Petro se o colombiano for eleito.

O ex-presidente brasileiro Lula também citou Petro em sua entrevista à revista Time e elogiou o colombiano, mas disse discordar de sua proposta de caminhar para eliminar o uso de petróleo, afirmando que isso ainda não é possível no Brasil.

Enquanto isso, segue o risco de que a tensão aumente na Colômbia, marcado por violência política histórica. Petro tem sofrido ameaças de morte, ao mesmo tempo em que causou polêmica nas últimas semanas a fala de um empresário que ameaçou demitir seus funcionários caso votassem no senador. Da votação neste domingo até a decisão final dos colombianos em junho, o cenário político no país seguirá conturbado.

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