Chuvas podem servir de lobby para lei que regula o lixo
A instituição de uma política de gerenciamento do lixo espera decisão no Congresso há 19 anos
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
Depois dos desastres causados pela chuva no Rio de Janeiro, há uma lei parada no Congresso Nacional que pode ajudar a evitar esse tipo de problema. O projeto de lei que institui a Política Nacional de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PNRS) foi proposto em 1991, mas só foi aprovado pela Câmara no mês passado. O projeto ainda espera para ser votado no Senado Federal, mas não tem previsão de quando entrará na pauta do dia.
"O projeto demorou a ser aprovado porque os deputados estavam divididos em interesses de setores industriais diferentes", justifica o deputado Fernando Gabeira, militante verde há anos. Esperando aprovação há 19 anos, a PNRS finalmente foi votada e aprovada pela Câmara em março. "Os setores perceberam que era melhor ter uma lei que não agradasse a todos do que não ter lei nenhuma", aponta Gabeira.
Segundo o deputado, "não existe uma campanha para adiantar a aprovação dessa lei no Senado, mas as chuvas poderiam ser um instrumento excelente para isso". A lei deve reduzir o volume de lixo, já que as empresas estariam obrigadas a se responsabilizar pela reciclagem do que é produzido.
Falta de planejamento
Em Niterói, um dos principais agravantes para o acidente no Morro do Bumba foi o fato de as casas terem sido construídas em área antes ocupadas por um lixão. "O problema do lixo nessas disposições inadequadas é que quando ele degrada, o solo apoiado nele cria regiões de ruptura e as construções podem tombar", explica o professor de engenharia civil e ambiental da Universidade de Brasília Ricardo Bernardes.
Por causa do solo frágil, a água da chuva só conseguiu escoar quando atingiu a rocha, causando o deslizamento de terra. "É preciso parar de culpar a chuva, porque ela caiu em um nível previsível. O problema é que as grandes cidades não foram planejadas e não respeitam os espaços possíveis de ocupação", acredita Bernardes.
De acordo com o deputado Fernando Gabeira, o que aconteceu em Niterói já está proibido. "Não se pode mais fazer lixão a céu aberto, e o que se espera no futuro é que não se tenha nem aterros sanitários", afirma.