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China acelera exportações e supera a queda nas vendas para os EUA

Apesar das tarifas de Trump, as exportações chinesas para mercados externo seguem crescendo e alcançam US$ 322 bilhões em julho

Agência o Globo
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Publicado em 7 de agosto de 2025 às 10h36.

O crescimento das exportações da China acelerou inesperadamente no mês passado, registrando o maior avanço desde abril, à medida que a demanda global compensou a contínua queda nos embarques para os Estados Unidos.

As exportações totais subiram 7,2% em julho em relação ao ano anterior, alcançando US$ 322 bilhões, surpreendendo a maioria dos economistas, que previam uma desaceleração após o aumento revisado de 5,9% em junho. O efeito estatístico de uma base fraca no ano passado provavelmente explica parte do crescimento em termos anuais.

Exportações impulsionadas por novos mercados

Os dados divulgados nesta quinta-feira pelas autoridades aduaneiras mostram que o aumento foi impulsionado pelo forte crescimento dos embarques para a União Europeia, Sudeste Asiático, Austrália, Hong Kong e outros mercados — o que mais do que compensou o quarto mês consecutivo de quedas de dois dígitos nas compras dos EUA.

“O que realmente sustentou os embarques internacionais mais fortes que o esperado nos últimos três meses foram as exportações para mercados fora dos EUA”, disse Jacqueline Rong, economista-chefe para a China no BNP Paribas SA.

A resiliência dos embarques internacionais ocorre apesar das altas tarifas impostas pelos EUA, demonstrando que a demanda global por produtos chineses continua forte e ainda representa um impulso significativo para a economia doméstica.

O impacto das tarifas e a trégua comercial

Pequim e Washington enfrentam um prazo até 12 de agosto para prorrogar a trégua tarifária de 90 dias. Enquanto o lado chinês afirmou que os dois países concordaram em estendê-la após conversas na Suécia no mês passado, autoridades dos EUA sinalizaram que o presidente Donald Trump tomará a decisão final sobre a manutenção do acordo.

“A leitura de julho reforça nossa visão de que as exportações podem permanecer amplamente resilientes, apesar do comércio mais fraco com os EUA. O principal risco depende de se e como outros países podem apertar os controles sobre transbordo sob seus acordos comerciais com os EUA”, avalia Eric Zhu, da Bloomberg Economics.

Previsões para o segundo semestre

A melhora na demanda fora dos EUA significa que o valor das exportações em 2025 já está acima de qualquer ano anterior e poderá atingir quase US$ 3,8 trilhões, mantido o ritmo atual. No entanto, alguns economistas preveem uma desaceleração no segundo semestre.

"Esperamos uma desaceleração das exportações na segunda metade do ano, devido às tarifas, esgotamento de antecipações de pedidos e menor demanda dos EUA,” escreveram analistas do Morgan Stanley. “A intensidade dessa desaceleração também dependerá de mercados alternativos, como África e certos setores específicos,” diz o relatório.

A estratégia da China para contornar barreiras tarifárias

A China tem dependido cada vez mais de terceiros países para contornar barreiras tarifárias e para a fabricação de produtos finais ou componentes. No entanto, essa tendência agora enfrenta o teste do maior escrutínio dos EUA sobre o redirecionamento de embarques chineses, o que pode afetar as exportações nos próximos meses.

Os EUA ameaçaram aplicar tarifas adicionais a qualquer produto considerado como "transbordado" por outro país. A participação da China no valor agregado total da manufatura de bens com destino aos EUA por meio de países como Vietnã e México saltou de 14% em 2017 para 22% em 2023, segundo a Bloomberg Economics.

A moeda chinesa também tem ajudado as exportações. O yuan se recuperou levemente desde julho, mas continua mais fraco do que nos últimos anos em relação a uma cesta de moedas concorrentes.

“Embora algumas vendas para países da Asean estejam ligadas a redirecionamento, as exportações para a América Latina e África, menos associadas ao transbordo, foram ainda mais robustas”, disse Rong. “Os produtos chineses são muito competitivos e, nos últimos meses, o yuan se desvalorizou frente a moedas não americanas, o que também ajudou.”

Queda nas exportações para os EUA

Os embarques para os EUA caíram 22% em relação ao ano anterior, após uma queda de pouco mais de 16% em junho. As empresas chinesas conseguiram aumentar as vendas para outros mercados para compensar a queda com os EUA, com exportações para a UE subindo 9,3% e quase 17% para os 10 países da Asean (grupo de economias da região Ásia-Pacífico).

As exportações de navios caíram pela primeira vez em cinco meses, enquanto as vendas de veículos ao exterior continuaram fortes, com aumento de quase 19% em julho. Os embarques de máquinas e produtos de alta tecnologia também cresceram, mas as vendas externas de terras raras caíram pelo sexto mês consecutivo.

Perspectivas para o futuro

As importações subiram 4,1%, com o volume de compras de circuitos integrados atingindo o maior nível em quatro anos. As exportações de chips da China também foram fortes, refletindo o bom momento do setor global de semicondutores e o boom da inteligência artificial, segundo Rong.

As importações chinesas de commodities-chave permaneceram firmes em julho, com cobre, minério de ferro, soja e petróleo bruto registrando ganhos anuais.

No entanto, Rong, do BNP, alertou que esse crescimento mais forte das importações pode não durar, observando que a crise prolongada no setor imobiliário chinês se agravou no mês passado.

No total, o superávit comercial da China foi de US$ 98,2 bilhões, menor que em junho, mas ainda bem acima da média histórica. Caso a tendência se mantenha, o superávit poderá ultrapassar US$ 1 trilhão em 2025, oferecendo um suporte essencial para uma economia que ainda enfrenta fraca demanda interna.

Mas a falta de clareza sobre tarifas pode frear o crescimento nos próximos meses, segundo a Pantheon Macroeconomics, já que Trump ainda não aprovou a extensão da trégua tarifária com a China.

“Os dados mais recentes apontam para um esgotamento do estoque acumulado e da demanda por transbordo, à medida que o fim da trégua temporária se aproxima — com poucas exceções,” disse Kelvin Lam, economista sênior da Pantheon, em relatório. “Mesmo que a trégua seja prorrogada por mais três meses, a incerteza persistente e as tarifas já elevadas provavelmente pesarão sobre o crescimento da China no segundo semestre.”

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