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'Cheguei ao limite do limite na negociação', diz Jaques Wagner

Segundo governador da Bahia, lei de responsabilidade fiscal o impede de ir além nas concessões salariais à PM e anistia para quem fez "baderna" está fora de questão

Ele também diz que não se lembra se ajudou a financiar greves quando estava na oposição (Antonio Cruz/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2012 às 08h51.

Salvador - Depois de mais uma exaustiva jornada de negociações, permanece o impasse entre o governo da Bahia e a Polícia Militar do estado, em greve desde o dia 31 de janeiro. O governador Jaques Wagner esperava o fim da paralisação nesta terça-feira, quando levou para a mesa o que diz ser sua maior oferta: o pagamento das gratificações que os policiais pedem (chamadas de GAP 4 e GAP 5) até 2015 - iniciando o pagamento da GAP 4 em novembro e da GAP 5 em 2013. Segundo o governador, isso representaria um ganho real de 30% no salário dos PMs, hoje de aproximadamente 2 300 reais.

Os representantes da categoria não concordaram com a proposta apresentada e sinalizaram que seguirão com o movimento. Os grevistas querem o pagamento das gratificações a partir do mês que vem. O governador, no entanto, afirma que não tem dinheiro no orçamento para pagar as gratificações agora. Também não foram atendidos os pedidos dos grevistas de anistia administrativa para os policiais que estão parados e a revogação dos pedidos de prisão de 12 líderes do movimento.

A posição linha-dura adotada pelo governador é bem diferente daquela que teve quando era deputado federal em outras duas greves da PM da Bahia, em 1991 e 2001, nos governos de Antônio Carlos Magalhães e César Borges, respectivamente.

Apesar de dizer que não perdeu suas convicções como sindicalista, o político que antes defendia os militares e criticava os governadores por punirem os policiais grevistas, agora nega a anistia administrativa ao movimento e até levanta suspeitas de que PMs estariam praticando crimes para espalhar um clima de terror pela Bahia. A mudança radical de postura do petista rendeu uma acusação do ex-militar Marco Prisco, um dos líderes da paralisação, de que Wagner e outros parlamentares do PT participaram do financiamento da greve de 2001, por meio de um sindicato, garantindo assim a estrutura necessária para manter o movimento. O governador diz que não se lembra se contribuiu ou não com algum fundo criado para bancar o movimento.

Em 1991 Wagner lamentou que "a impermeabilidade do governador" fizesse com que o Comando da Polícia Militar punisse cerca de 110 militares. Agora, da cadeira de governador, ele afirma que não haverá anistia para o movimento que "quer espalhar o clima de terror" pela Bahia.

- Em 2001 o senhor apoiou a greve da PM e agora critica a liderança do movimento. O senhor mudou sua posição?

Jaques Wagner: Eu não perdi nenhuma das minhas convicções como sindicalista. Mas é evidente que no governo você ganha outras responsabilidades com as quais tem que conviver. Nunca concordei nem pratiquei atos de vandalismo como os que foram praticados. Eu posso apoiar a reivindicação salarial, mas quebra de hierarquia e polícia armada afrontando o povo, isso nunca teve o meu apoio. Naquela época eu fiz uma mediação como deputado federal e fui contra a tomada dos quartéis.

- E a acusação de que o senhor financiou o movimento grevista da PM naquele ano?

Wagner: Eu não sei se alguém fez algum fundo ao qual eu possa ter contribuído. Sinceramente não está no meu registro.


- O movimento diz que o senhor prometeu reintegrar à PM Marco Prisco, que é líder dos grevistas agora e foi também em 2001.

Wagner: Não é verdade.

- Mantida a greve, há possibilidade de o Exército invadir e retomar o prédio da Assembleia, ocupado pelos grevistas?

Wagner: Não trabalho com essa hipótese. Há ali setenta homens armados num claro sinal de intimidação. O Exército vai apenas manter o cerco. Eu já fiz greve e sei que, com o passar do tempo, eles verão que aquela situação não se sustenta. E conheço também quem gosta de criar fato político. Metade do pavor que criavam arrefeceu quando todo mundo viu que não havia intenção das Forças Armadas de fazer o confronto.

- O senhor acha então que é um movimento político?

Wagner: Não gosto dessa designação porque toda a minha vida fiz greve e sempre diziam que era um movimento político. Eu não identifico isso na greve da PM e acho que seria reduzir as coisas. Estou longe de querer demonizar o movimento sindical, pois já fui parte dele. Porém esses grevistas têm uma cartilha que orienta criar caos e insegurança. Todos os crimes ocorridos durante a greve serão apurados, mas acredito que bandido comum não tem interesse de matar morador de rua nem de colocar fogo em ônibus. Eu tenho que trabalhar com a suspeita, mas parece coisa de quem quer criar clima de terror para dizer: pague o que eles querem para terminar com isso.

- A anistia administrativa é um dos pontos críticos da negociação?

Wagner: Já disse para a tropa que todo mundo que teve participação pacífica não tem por que se preocupar. Porém quem cortou pneu de carro da polícia, colocou fogo em ônibus e deu tiro para cima será punido. Quando pedem anistia, eles estão se autoproclamando criminosos. Não é crime participar do movimento, é crime fazer a baderna que eles fizeram.

- A oferta do governo chegou ao seu limite máximo?

Wagner: Na verdade eu fui ao limite do limite e por isso tive que parcelar. Se eu tivesse dinheiro, pagaria agora. Mas isso não encaixa no orçamento, e tenho limite de responsabilidade fiscal. Por isso projetei no tempo o que posso pagar e fiz a proposta, que ampliei com a oferta da GAP 5.

- Mas não houve acordo. Como fica a situação agora?

Wagner: O fato de, na mesa, os representantes das associações não assinarem a proposta não quer dizer que a categoria não achará a oferta razoável e decidirá voltar ao trabalho. Acho que fiz uma proposta de condição salarial bem significativa.

- E qual a garantia de que não haverá outro movimento de greve?

Wagner: Vocês têm que perguntar isso para os grevistas. Se alguém vai tentar de novo fazer desordem na Bahia, seguramente não será o governo.

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Salvador - Depois de mais uma exaustiva jornada de negociações, permanece o impasse entre o governo da Bahia e a Polícia Militar do estado, em greve desde o dia 31 de janeiro. O governador Jaques Wagner esperava o fim da paralisação nesta terça-feira, quando levou para a mesa o que diz ser sua maior oferta: o pagamento das gratificações que os policiais pedem (chamadas de GAP 4 e GAP 5) até 2015 - iniciando o pagamento da GAP 4 em novembro e da GAP 5 em 2013. Segundo o governador, isso representaria um ganho real de 30% no salário dos PMs, hoje de aproximadamente 2 300 reais.

Os representantes da categoria não concordaram com a proposta apresentada e sinalizaram que seguirão com o movimento. Os grevistas querem o pagamento das gratificações a partir do mês que vem. O governador, no entanto, afirma que não tem dinheiro no orçamento para pagar as gratificações agora. Também não foram atendidos os pedidos dos grevistas de anistia administrativa para os policiais que estão parados e a revogação dos pedidos de prisão de 12 líderes do movimento.

A posição linha-dura adotada pelo governador é bem diferente daquela que teve quando era deputado federal em outras duas greves da PM da Bahia, em 1991 e 2001, nos governos de Antônio Carlos Magalhães e César Borges, respectivamente.

Apesar de dizer que não perdeu suas convicções como sindicalista, o político que antes defendia os militares e criticava os governadores por punirem os policiais grevistas, agora nega a anistia administrativa ao movimento e até levanta suspeitas de que PMs estariam praticando crimes para espalhar um clima de terror pela Bahia. A mudança radical de postura do petista rendeu uma acusação do ex-militar Marco Prisco, um dos líderes da paralisação, de que Wagner e outros parlamentares do PT participaram do financiamento da greve de 2001, por meio de um sindicato, garantindo assim a estrutura necessária para manter o movimento. O governador diz que não se lembra se contribuiu ou não com algum fundo criado para bancar o movimento.

Em 1991 Wagner lamentou que "a impermeabilidade do governador" fizesse com que o Comando da Polícia Militar punisse cerca de 110 militares. Agora, da cadeira de governador, ele afirma que não haverá anistia para o movimento que "quer espalhar o clima de terror" pela Bahia.

- Em 2001 o senhor apoiou a greve da PM e agora critica a liderança do movimento. O senhor mudou sua posição?

Jaques Wagner: Eu não perdi nenhuma das minhas convicções como sindicalista. Mas é evidente que no governo você ganha outras responsabilidades com as quais tem que conviver. Nunca concordei nem pratiquei atos de vandalismo como os que foram praticados. Eu posso apoiar a reivindicação salarial, mas quebra de hierarquia e polícia armada afrontando o povo, isso nunca teve o meu apoio. Naquela época eu fiz uma mediação como deputado federal e fui contra a tomada dos quartéis.

- E a acusação de que o senhor financiou o movimento grevista da PM naquele ano?

Wagner: Eu não sei se alguém fez algum fundo ao qual eu possa ter contribuído. Sinceramente não está no meu registro.


- O movimento diz que o senhor prometeu reintegrar à PM Marco Prisco, que é líder dos grevistas agora e foi também em 2001.

Wagner: Não é verdade.

- Mantida a greve, há possibilidade de o Exército invadir e retomar o prédio da Assembleia, ocupado pelos grevistas?

Wagner: Não trabalho com essa hipótese. Há ali setenta homens armados num claro sinal de intimidação. O Exército vai apenas manter o cerco. Eu já fiz greve e sei que, com o passar do tempo, eles verão que aquela situação não se sustenta. E conheço também quem gosta de criar fato político. Metade do pavor que criavam arrefeceu quando todo mundo viu que não havia intenção das Forças Armadas de fazer o confronto.

- O senhor acha então que é um movimento político?

Wagner: Não gosto dessa designação porque toda a minha vida fiz greve e sempre diziam que era um movimento político. Eu não identifico isso na greve da PM e acho que seria reduzir as coisas. Estou longe de querer demonizar o movimento sindical, pois já fui parte dele. Porém esses grevistas têm uma cartilha que orienta criar caos e insegurança. Todos os crimes ocorridos durante a greve serão apurados, mas acredito que bandido comum não tem interesse de matar morador de rua nem de colocar fogo em ônibus. Eu tenho que trabalhar com a suspeita, mas parece coisa de quem quer criar clima de terror para dizer: pague o que eles querem para terminar com isso.

- A anistia administrativa é um dos pontos críticos da negociação?

Wagner: Já disse para a tropa que todo mundo que teve participação pacífica não tem por que se preocupar. Porém quem cortou pneu de carro da polícia, colocou fogo em ônibus e deu tiro para cima será punido. Quando pedem anistia, eles estão se autoproclamando criminosos. Não é crime participar do movimento, é crime fazer a baderna que eles fizeram.

- A oferta do governo chegou ao seu limite máximo?

Wagner: Na verdade eu fui ao limite do limite e por isso tive que parcelar. Se eu tivesse dinheiro, pagaria agora. Mas isso não encaixa no orçamento, e tenho limite de responsabilidade fiscal. Por isso projetei no tempo o que posso pagar e fiz a proposta, que ampliei com a oferta da GAP 5.

- Mas não houve acordo. Como fica a situação agora?

Wagner: O fato de, na mesa, os representantes das associações não assinarem a proposta não quer dizer que a categoria não achará a oferta razoável e decidirá voltar ao trabalho. Acho que fiz uma proposta de condição salarial bem significativa.

- E qual a garantia de que não haverá outro movimento de greve?

Wagner: Vocês têm que perguntar isso para os grevistas. Se alguém vai tentar de novo fazer desordem na Bahia, seguramente não será o governo.

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