Mundo

Chefe da diplomacia europeia desafia Lula a visitar Ucrânia

Em meio a polêmicas sobre falas recentes acerca da guerra na Ucrânia, Lula usou sua viagem à Europa para dizer neste fim de semana que "nunca" igualou Rússia e Ucrânia acerca da responsabilidade no conflito

Lula: presidente vem sendo questionado sobre as recentes falas sobre a Guerra na Ucrânia.  (Anna Moneymaker/Getty Images)

Lula: presidente vem sendo questionado sobre as recentes falas sobre a Guerra na Ucrânia. (Anna Moneymaker/Getty Images)

Publicado em 24 de abril de 2023 às 18h39.

O Alto Representante da União Europeia, Josep Borrell, lançou nesta segunda-feira, 24, um desafio ao presidente do Brasil, Luíz Inácio Lula da Silva, para visitar a Ucrânia. Em entrevista coletiva, o chefe da diplomacia europeia considera que para se falar de paz com "credibilidade e honestidade" é preciso conhecer no terreno "quem é o agressor e quem é o agredido", sendo assim necessário ter contato com Kiev.

"É preciso ser muito claro sobre o que está acontecendo. Há um agressor que violou a Carta das Nações Unidas e invadiu outro país, e há uma vítima dessa agressão", afirmou Borrell. "Quero recordar a situação horrível que se vive no terreno a todas as pessoas que apelam à paz. Também eu estou apelando pela paz. Mas onde estavam esses apelos quando a Rússia estava concentrando tropas nas fronteiras?", questionou.

"Recentemente, a China e também o Brasil lançaram algumas ideias sobre a paz. Para esforços de paz credíveis e honestos é preciso falar com Kiev e ir até lá para ver a agressão através dos seus olhos e dos olhos daqueles que estão sendo bombardeados", defendeu o diplomata.

Lula em Portugal

Em meio a polêmicas sobre falas recentes acerca da guerra na Ucrânia, Lula usou sua viagem à Europa para dizer neste fim de semana que "nunca" igualou Rússia e Ucrânia acerca da responsabilidade no conflito, mas que "alguém precisa falar em paz" uma vez que a guerra já começou.

A declaração ocorreu em evento em Portugal, onde o presidente está em visita de Estado nos últimos dias.

Questionado diversas vezes durante a visita à Europa sobre o tema, Lula disse que nem Rússia, nem Ucrânia querem parar a guerra. Diferentemente de recentes declarações já feitas sobre o conflito, no entanto, o presidente adicionou que nunca equiparou as responsabilidades. “Eu nunca igualei os dois países porque eu sei o que é invasão, eu sei o que é integridade territorial”, disse no sábado, 22, em Lisboa.

Nas Nações Unidas (ONU), o Brasil condena a invasão russa e pede um cessar-fogo, o que Lula lembrou durante a fala. Apesar disso, o presidente tem sido criticado por algumas declarações vistas como improvisadas sobre o tema.

Quando esteve em Abu Dhabi, nos Emirado Árabes Unidos, Lula afirmou que "a decisão da guerra foi tomada por dois países”, uma das falas que gerou repercussão negativa.

Clube da paz e "terceira via"

Em Portugal, Lula voltou a dizer que o Brasil busca reestabelecer a paz. Nos últimos meses, o presidente chegou a propor a criação de um grupo de países para negociar o fim do conflito, similar ao G20 (que reúne algumas das maiores economias do mundo e foi criado após a crise de 2008, por pressão de países emergentes).

O presidente brasileiro chegou a Portugal na sexta-feira, 21, e seguirá para a Espanha na terça-feira, 24.

Lula foi recebido pelo presidente Marcelo Rebelo em cerimônia no Mosteiro dos Jerónimos, onde fica o túmulo de Luís de Camões. Mais tarde, participou da XIII Cimeira Luso-Brasileira, no Centro Cultural de Belém, com o primeiro-ministro português, António Costa.

Sob pressão de políticos portugueses desde antes de sua chegada ao país europeu, o presidente brasileiro disse que a Rússia errou e afirmou que o Brasil condena a agressão de Putin em resoluções da ONU. Segundo ele, porém, “agora é preciso parar a guerra”.

“Estamos numa situação em que a guerra está fazendo mal para o mundo por problema de fertilizante, de comida. Em vez de escolher um lado, quero uma terceira via”, disse.

Celso Amorim vai a Kiev

Nesta semana, foi anunciada uma viagem a Kiev do assessor especial para Assuntos Internacional, Celso Amorim, que já esteve com Putin em Moscou.

Na semana passada, o chanceler russo, Serguei Lavrov, e o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, fizeram convites ao presidente brasileiro para viajar a seus respectivos países. Lula afirmou que não irá à Ucrânia, assim como não foi à Rússia.

Portugal destaca diferença

O presidente português Marcelo Rebelo, nas falas conjuntas, disse que a posição portuguesa difere da brasileira em relação à guerra. Portugal faz parte da Otan, aliança militar do Atlântico Norte e que tem participado diretamente no envio de armas à Ucrânia.

“Portugal é solidário ao povo ucraniano, à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e à União Europeia e pensa que não é situação justa não permitir à Ucrânia defender-se e tentar recuperar o território que foi invadido com violação da integridade territorial e da soberania de Estado”, afirmou o presidente português.

Em declaração conjunta, Brasil e Portugal condenaram o ataque russo e a anexação de partes da Ucrânia pela Rússia. O documento traz posição parecida às que o Brasil já tem defendido na ONU.

Nas demais falas conjuntas, porém, as lideranças também citaram pontos em comum, como na questão ambiental e combate à desinformação, e usaram tom positivo para falar sobre as parcerias entre os países. Ao todo, no encontro deste fim de semana, foram assinados 13 acordos de cooperação com Portugal em diferentes áreas, como saúde e educação, como a validação de diplomas universitários.

É a primeira viagem de Lula à Europa no terceiro mandato e a primeira de um presidente brasileiro desde Dilma Rousseff. Nas falas, Lula criticou indiretamente os antecessores Jair Bolsonaro e Michel Temer, que não foram a Portugal em seus anos de mandato.

Acompanhe tudo sobre:RússiaUcrâniaLuiz Inácio Lula da Silva

Mais de Mundo

Inflação na Argentina sobe 2,7% em outubro; a menor desde 2021

Israel ordena a evacuação de 14 cidades no sul do Líbano antes de atacá-las

Trump ganhou 1 milhão de votos entre 2020 e 2024; democratas perderam 9,4 milhões

Vendas de robôs aspiradores disparam com subsídio e promoção Double 11