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Cessar-fogo na Ucrânia não vai funcionar por si só, diz chefe de gabinete de Zelensky

Andriy Yermak lamentou ainda que Lula não tenha convidado Zelensky para reuniões no Brasil

Volodomyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Donald Trump, presidente eleito dos EUA, em montagem (AFP)

Volodomyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e Donald Trump, presidente eleito dos EUA, em montagem (AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 14h31.

Um cessar-fogo temporário na Ucrânia, sem maiores garantias, não funcionará, disse Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Ele diz temer que uma pausa na guerra, que já dura quase três anos, poderá servir apenas para que a Rússia ganhe tempo para preparar um novo ataque.

"Será importante saber qual tipo de paz será e como essa guerra terminará. Cessar-fogo por si só não funcionará. Dará a chance ao Kremlin de se preparar para uma nova agrressão. Não é algo que o povo da Ucrânia está disposto a aceitar", disse Yermak, durante entrevista coletiva por vídeo, nesta terça-feira, 14, em que a EXAME participou.

A Guerra da Ucrânia, iniciada em 2022 após uma invasão da Rússia, completará três anos em fevereiro. Há a expectatitva de que a posse de Donald Trump como presidente dos EUA, possa acelerar o fim do conflito, ou ao menos um cessar-fogo.

"Durante as reuniões entre o presidente Zelensky e o presidente Trump, ainda candidato, em Nova York, e depois da eleições, em Paris, eu vi por mim mesmo que o presidente Trump entende totalmente quem é o agressor, que é Putin, e entende que a paz é muito importante, e que a paz precisa ser justa", disse.

"Estamos esperando o dia 20 de Janeiro [data da posse]. Eu visitei os Estados Unidos depois das eleições, para algumas consultas e reuniões. Mas as conversas reais só começam depois da posse. Espero que muito em breve tenhamos uma reunião entre os presidentes Trump e Zelensky", afirmou.

Um dos pontos delicados, no entanto, é se a Ucrânia aceitaria um acordo de paz no qual perderia parte de seus territórios para a Rússia. Sobre o tema, Yermak diz que seu governo mantém o plano de recuperar todas as áreas, mas reconhece que isso poderá levar tempo.

"Nossa meta é tirar os agressores de todas as nossas as terras, dentro da fronteira reconhecida internacionalmente e restaurar a integridade territorial completa da Ucrânia. Mas somos pessoas realistas, e é impossível fazer isso imediatamente", afirma.

Falta de convite de Lula

Na entrevista, Yermak também lamentou que Zelensky não tenha sido convidado pelo presidente Lula para reuniões no Brasil, seja em conversas bilaterais ou para o encontro do G20, realizado no Rio de Janeiro, em novembro.

"A Ucrânia celebrou a decisão [do Brasil] de não convidar o ditador Putin ao G20, mas infelizmente também não convidou nosso presidente. A voz do Brasil é importante para negociar com a Rússia, e é uma oportunidade para mostrar liderança em resolver crises humanitárias no cenário global", afirmou

Yermak disse que um convite do Brasil para que Putin participe da reunião do Brics, bloco que o Brasil ocupa a Presidência rotativa, também seria um mau sinal ao mundo. Uma reunião de cúpula do grupo, do qual a Rússia faz parte desde o início, deverá ocorrer em julho no Rio de Janeiro.

"O senhor Lula recebeu o senhor Lavrov [chanceler da Rússia] por duas vezes, mas não recebeu o chanceler da Ucrânia nem Zelensky nenhuma vez. A Ucrânia pode trazer parcerias em aviação, com a Antonov, na agricultura e na exploração espacial. Lula não está interessado em ouvir sobre isso, mas o povo do Brasil está", disse.

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