Burkina Faso nega golpe de Estado, após tiroteios em bases militares
País experimentou vários golpes e tentativas de golpe no passado; violência jihadista ilustra fragilidade da presidência
AFP
Publicado em 23 de janeiro de 2022 às 09h32.
Tiros foram disparados neste domingo (23) em várias bases militares em Burkina Faso, incluindo na capital Ouagadougou. O governo, porém, negou "uma tomada do poder pelo Exército" e afirmou que as instituições não estavam ameaçadas "neste momento".
Burkina Faso experimentou vários golpes e tentativas de golpe no passado, e os tiroteios de hoje ilustram a fragilidade do poder do presidente Roch Marc Christian Kaboré diante da crescente violência jihadista no país desde 2015.
"Desde 01h00, tiros são ouvidos aqui em Gounghin provenientes do campo de Sangoulé Lamizana", afirmou um soldado deste bairro localizado na saída oeste de Ouagadougou.
Tiros também foram ouvidos em outro campo militar em Ouagadougou, o de Baba Sy, na saída sul da capital, e na base aérea próxima ao aeroporto, segundo fontes militares.
Tiroteios também ocorreram nos quartéis de Kaya e Ouahigouya, no norte do país, segundo moradores contatados pela AFP.
Moradores do distrito de Gounghin disseram que soldados do campo de Sangoulé Lamizana saíram de seus quartéis, disparando tiros para o ar, e isolaram o perímetro ao redor do quartel.
O perímetro ao redor do quartel da base aérea também foi isolado com soldados encapuzados atirando para o ar.
Cem pessoas que tentaram se reunir no centro de Ouagadougou para expressar seu apoio ao movimento dos soldados, foram dispersadas com gás lacrimogêneo pela polícia, segundo um correspondente da AFP.
Internet cortada
A internet móvel foi cortada esta manhã, de acordo com jornalistas da AFP.
A base de Sangoulé Lamizana abriga o Centro Prisional e Correcional das Forças Armadas (Maca), onde está detido o general Gilbert Diendéré, próximo ao ex-presidente Blaise Compaoré, deposto em 2014, que desde então vive na Costa do Marfim.
O general Diendéré foi condenado a 20 anos de prisão por uma tentativa de golpe em 2015 e atualmente está sendo julgado por seu suposto papel no assassinato do ex-presidente Thomas Sankara, um ícone pan-africano, em 1987.
O governo reagiu rapidamente negando uma tentativa de golpe.
"Informações veiculadas nas redes sociais tendem a fazer crer numa tomada de poder pelo Exército", diz um comunicado de imprensa do porta-voz do governo, Alkassoum Maiga.
"O governo, embora reconheça tiroteios em determinados quartéis, desmente estas informações e apela às populações para que mantenham a calma", acrescenta.
"Nenhuma instituição da República está ameaçada por enquanto", declarou o ministro da Defesa, o general Barthélémy Simporé, numa intervenção em rede nacional.
Ele acrescentou que os movimentos observados são "localizados, circunscritos", e que está "em contato com os responsáveis para compreender as motivações".
Ontem, protestos foram organizados por moradores exasperados com a impotência das autoridades para lidar com a violência jihadista que assola Burkina Faso. Incidentes violentos ocorreram em Ouagadougou e outras cidades em todo o país entre policiais e manifestantes.
Burkina Faso está mergulhado desde 2015 em uma espiral de violência atribuída a grupos jihadistas armados, afiliados à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico. Ataques contra civis e soldados são cada vez mais frequentes e concentrados principalmente no norte e leste do país.
No sábado, pelo menos dois militares morreram e vários ficaram feridos numa explosão entre Ouahigouya e Titao (norte).
Em 23 de dezembro, uma emboscada de grupos armados visando um comboio de suprimentos composto por civis e Voluntários de Defesa da Pátria (VDP) na zona de You (norte) matou 41 pessoas, incluindo Ladji Yoro, considerado líder do VDP.
A violência extremistas islâmica matou mais de 2.000 pessoas nos últimos seis anos e forçou 1,5 milhão de pessoas a fugir de suas casas.
Vários soldados estão detidos desde meados de janeiro por supostos atos de "tentativa de desestabilizar as instituições".
Entre eles, o tenente-coronel Emmanuel Zoungrana, ex-comandante do 12º regimento de infantaria de comando, que até agora era comandante do grupo de forças do setor oeste na luta contra o terrorismo.