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Brasil é excluído de acordo sobre vacina inovadora contra o HIV

Os termos do novo acordo são semelhantes aos feitos para medicamentos contra câncer, hepatite e Covid

Vacina no Brasil será vendida a um preço mais caro (Brendan McDermid/Reuters)

Vacina no Brasil será vendida a um preço mais caro (Brendan McDermid/Reuters)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 3 de outubro de 2024 às 13h47.

Última atualização em 3 de outubro de 2024 às 13h47.

A farmacêutica Gilead anunciou nesta quarta-feira um plano para permitir que seis empresas na Ásia e no Norte da África fabriquem e vendam a um preço mais baixo seu medicamento lenacapavir, uma injeção semestral que oferece proteção quase total contra a infecção pelo HIV.

De acordo com reportagem do New York Times, essas empresas poderão vender o medicamento em 120 países, incluindo todos aqueles com as maiores taxas de HIV, que estão na África Subsaariana. A Gilead não cobrará dos fabricantes de genéricos pelas licenças. 

O acordo, no entanto, excluiu maioria dos países de renda média e alta — incluindo Brasil, Colômbia, México, China e Rússia — que, juntos, representam cerca de 20% das novas infecções por HIV. A Gilead venderá sua versão do medicamento nesses países a preços mais altos.

Críticas ao plano

Mitchell Warren, diretor executivo da organização de prevenção do HIV AVAC, disse que a exclusão de Brasil, Peru, México e Argentina do acordo de genéricos foi chocante, já que os ensaios clínicos que provaram a eficácia do medicamento foram realizados nesses países.

Segundo a reportagem do NYT, a Gilead patenteou o lenacapavir no Brasil. Mas os países têm o direito, sob até mesmo acordos comerciais conservadores, de emitir as chamadas licenças compulsórias, que anulam as proteções de propriedade intelectual. Mesmo que o Brasil emitisse tal licença para o lenacapavir, os fabricantes de genéricos seriam proibidos de vender ao sistema de saúde brasileiro.

A licença voluntária tem uma cláusula incomum que impede os fabricantes de genéricos de exportar seus produtos para qualquer país não coberto pelo acordo. Logo, o SUS não terá a opção de comprar a versão barata do medicamento.

Valores

A Gilead cobra R$ 211 por paciente por ano para o lenacapavir nos Estados Unidos, onde ele é aprovado como tratamento para o HIV.

Os fabricantes de genéricos — quatro empresas da Índia, uma do Paquistão e uma do Egito — devem vendê-lo por um valor muito menor. Pesquisadores da Universidade de Liverpool descobriram que o medicamento poderia ser produzido com lucro por apenas R$ 200 por paciente por ano caso fosse comprado em grandes volumes.

Os termos do novo acordo são semelhantes aos feitos nos últimos anos por outras farmacêuticas para medicamentos contra câncer, hepatite, Covid e HIV. Esses acordos garantem acesso de baixo custo nos países mais pobres, mas excluem esses países de renda média e alta, usando os dados de renda per capita do Banco Mundial para decidir quem é incluído no programa.

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