Secom parabeniza Pedro Castillo por vitória no Peru
O peruano Pedro Castillo, de esquerda, foi confirmado como presidente eleito do Peru, após vencer eleição apertada em junho contra Keiko Fujimori
Carolina Riveira
Publicado em 20 de julho de 2021 às 15h16.
Última atualização em 20 de julho de 2021 às 15h25.
Após o professor de esquerda Pedro Castillo ser confirmado oficialmente como o presidente eleito do Peru na noite desta segunda-feira, 19, os principais líderes da América do Sul parabenizaram o novo eleito em publicações nas redes sociais.
O Brasil publicou mensagem na tarde desta terça-feira, 20, pelo perfil da Secom, Secretaria de Comunicação da Presidência, que escreveu em nome do presidente Jair Bolsonaro.
"Reafirmo a disposição do governo brasileiro em trabalhar com as autoridades peruanas para reforçar os laços de amizade e cooperação entre nossas nações. Felicidades ao povo peruano!", diz a mensagem publicada pela Secom no Twitter.
Candidato do partido de esquerda Perú Libre, Castillo venceu com 50,1% dos votos, contra 49,9% de Keiko Fujimori, do partido de direita Fuerza Popular e filha do ex-ditador Alberto Fujimori (presidente entre 1990 e 2000).
Ao contrário do que fizeram outros líderes sul-americanos, o presidente brasileiro não se manifestou diretamente em suas redes sociais próprias até às 14h30 desta terça-feira.
Quando o Peru ainda estava em meio à apuração, cuja confirmação levou mais de um mês, Bolsonaro chegou a dizer que “perdemos o Peru”, em referência à liderança de Castillo na contagem dos votos e seu posicionamento em oposição ao presidente brasileiro.
Castillo recebeu os parabéns de líderes de diferentes espectros políticos nas últimas horas.
Um dos primeiros líderes sul-americanos a parabenizar o peruano foi o presidente argentino, Alberto Fernández, de centro-esquerda. "Juntos trabalharemos por uma América Latina unida", escreveu Fernández em seu perfil no Twitter.
O presidente da Bolívia, Luis Arce, escreveu que o resultado "vem em boa hora para o povo peruano" em meio à comemoração do bicentenário da independência do Peru, que acontece neste mês.
Os presidentes de direita, atualmente mais numerosos na América do Sul, também foram às redes parabenizar Castillo.
O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, escreveu que deseja a Castillo "uma boa gestão pelo bem do povo peruano". O presidente paraguaio Mario Abdo desejou êxito a Castillo e disse que "nossos países estão unidos por laços históricos, que desejamos seguir estreitando".
Até mesmo o presidente da Colômbia, Iván Duque, parabenizou Castillo ainda ontem e disse que os governos seguirão "trabalhando para o fortalecimento de nossas relações econômicas, culturais e sociais". Duque vive ele próprio uma profunda crise institucional, com protestos da população colombiana há meses e acusações de que as forças policiais estejam usando força desproporcional nos protestos.
O presidente do Chile, Sebastian Piñera, disse que falou por telefone com Castillo e que as partes se comprometeram "a trabalhar unidos para superar a pandemia, derrotas a pobreza e avançar na direção de um desenvolvimento inclusivo e sustentável". Peru e Chile fazem fronteira e dividem parte da comunidade dos Andes na costa do Pacífico.
O recém-eleito Guillermo Lasso, do Equador, disse que espera fortalecer as relações entre os países e parabenizou o Peru pelo "fim da jornada democrática" com a oficialização do resultado.
A eleição peruana foi extremamente apertada, com pouco mais de 44.000 votos de vantagem para Castillo. Pouco mais de 70% dos 25 milhões de peruanos aptos a votar foram às urnas, segundo as autoridades eleitorais do Peru.
Fujimori começou a apuração vencendo, mas Castillo virou após a contabilização dos votos de regiões mais longínquas do Peru, onde ganhou com folga, enquanto a oponente venceu no exterior e nos centros urbanos.
Fujimori chegou a acusar fraude na eleição, mas autoridades peruanas e internacionais afirmaram que a apuração transcorreu dentro da legalidade. A candidata reconheceu a vitória de Castillo nesta semana.
Quem é Pedro Castillo
Aos 51 anos, Pedro Castillo Terrones, o até então quase desconhecido professor de escolas na zona rural peruana, se tornou o “candidato do Peru esquecido”, obtendo os votos da população peruana mais pobre, nos Andes e na Amazônia.
Castillo nasceu na cidade de Puña, na província de Chota, e vive na mesma região até hoje. O professor é símbolo vivo do tipo de perfil que vendeu ao eleitor peruano. Fora dos holofotes da política institucional por boa parte da vida, se formou em educação na Universidade César Vallejo e fez mestrado em psicologia educacional, começando a lecionar nos anos 1990 na educação primária. Seus pais, Ireño e Mavila, são ambos camponeses analfabetos.
“Sua votação foi, em grande medida, uma autêntica rebelião andina contra Lima e o litoral”, disse em entrevista anterior à EXAME o cientista político André Kaysel, especialista em estudos latino-americanos do Departamento de Ciência Política da Unicamp.
Dentro do campo da esquerda, Castillo está mais próximo dos conservadores nas pautas de costumes. Já fez declarações contra temas como direitos reprodutivos das mulheres e união civil LGBT, caminho que também o ajudou a conquistar votos dos eleitores fora dos grandes centros.
Até esta eleição, Castillo era quase desconhecido. Sua principal aparição havia sido liderando uma greve de professores em 2017, o que o fez ganhar alguma projeção nacional.
Antes disso, de 2005 a 2017, esteve filiado ao antigo partido de centro-esquerda Peru Posible, do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-06), onde disputou somente uma eleição local, que não venceu.
Castillo terá desafios enormes à frente do governo peruano. Além da relação com o Congresso, que vem sendo tensa para os últimos presidentes, o Peru entrou na eleição em profunda crise.
O país tem uma das maiores taxas de mortalidade do mundo na pandemia da covid-19, além de todos os ex-presidentes recentes envolvidos em corrupção. Em 2020, o Peru chegou a ter três presidentes no mesmo mês diante de um processo de impeachment. O produto interno bruto peruano também caiu 11,2% em 2020, e pobreza crescente entre a população.
*A matéria foi atualizada para incluir a publicação da Secom sobre a eleição peruana.
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