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Boca de urna dá vantagem a Netanyahu em Israel. Será o suficiente?

As pesquisas de boca de urna após a eleição desta terça-feira, 23, projetam liderança do partido de Netanyahu, mas seu bloco precisa ainda de uma última aliança para garantir o governo no Parlamento

Apoiadores de Netanyahu celebram após eleição: partido do premiê lidera, mas formar governo será outra história (Ronen Zvulun/Reuters)

Apoiadores de Netanyahu celebram após eleição: partido do premiê lidera, mas formar governo será outra história (Ronen Zvulun/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 23 de março de 2021 às 19h20.

Última atualização em 23 de março de 2021 às 20h03.

As pesquisas de boca de urna em Israel dão vantagem ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu após as eleições desta terça-feira, 23, que se tornaram um referendo sobre a gestão do premiê — da vacinação recorde a acordos recentes com os árabes.

Mas ainda não está claro se um governo conseguirá ser formado no Parlamento com os resultados atuais. Israel está em sua quarta eleição em dois anos diante da dificuldade dos partidos em conseguir uma coalizão forte o suficiente, e com oposição ao governo ainda fragmentada.

O partido de Netanyahu, o Likud, liderava nas pesquisas de boca de urna por volta das 18h30 (horário de Brasília), obtendo entre 31 e 33 cadeiras dos 120 assentos do Parlamento israelense, o Knesset.

Os números vêm das projeções iniciais de três veículos de comunicação, segundo a AFP. Os resultados oficiais só devem ser divulgados na quarta-feira, 24, com a contagem mais lenta devido às restrições por causa do coronavírus.

Somado aos resultados de seus aliados, que vêm de partidos mais religiosos à direita, o bloco pró-Netanyahu teria entre 53 ou 54 cadeiras, segundo estas projeções. A maioria necessária no Parlamento em Israel é de 61 assentos.

Com esse resultado, o Likud ainda não conseguiria formar um governo majoritário, mas o resultado tem sido visto como relativamente positivo para Netanyahu. A expectativa em Israel é que o bloco do premiê consiga a vitória. Ainda assim, nas eleições anteriores, o vencedor do pleito acabou não conseguindo alianças fortes o suficiente para governar, o que levou Israel a ter três eleições entre 2019 e 2020.

Oposição fragmentada

Pelas sondagens, o segundo mais votado deve se confirmar como o partido de centro Yesh Atid ("Há Futuro", em português), do opositor Yair Lapid, que pode obter entre 16 a 18 assentos.

Segundo a boca de urna, o grupo de oposição a Netanyahu, que reúne desde a direita até o centro e os árabes, pode ter alcançado cerca de 54 cadeiras, o mesmo número do bloco governista. Yair Lapid tentará unir esses grupos em um bloco de insatisfeitos com o governo, embora a tarefa seja complexa.

O bloco de Netanyahu pode se fortalecer caso o premiê consiga uma aliança com o líder conservador Naftali Bennett, do partido de direita Yamina. O Yamina adicionaria outras sete ou oito cadeiras ao grupo governista, que chegaria assim a uma pequena vantagem ante o bloco de oposição e suficiente para a maioria.

Yair Lapid e Naftali Bennett (à dir.), em foto de 2013: de lados opostos, os ex-ministros lideram hoje a oposição a Netanyahu com partidos de centro (Lapid) e de direita (Naftali) (Baz Ratner/File Photo/Reuters)

Ex-aliado de Netanyahu e hoje crítico da gestão, Bennett já assinou no domingo uma declaração na qual assegura que não fará parte de um governo de oposição do centrista Lapid. Mas também não confirmou se pensa em se unir a Netanyahu.

Bennett permaneceu evasivo sobre suas intenções de coalizão após o fechamento das urnas eleitorais hoje. "Farei apenas o que for bom para o Estado de Israel", disse, segundo um porta-voz reportou à agência Reuters.

Se confirmada a boca de urna, o bloco do premiê fica empatado, na prática, com o dos partidos contrários a Netanyahu, que teriam 54 assentos em uma mistura de centro, centro-esquerda e direita. Mas essa oposição é mais fragmentada, e com maior dificuldade em formar um bloco unificado.

O país das vacinas

A eleição acontece em meio à bem-sucedida campanha de vacinação em Israel. Bibi, como Netanyahu é conhecido, conseguiu a proeza de transformar o país em cliente preferencial da Pfizer e de ter vacinado fatia recorde da população contra o coronavírus. Desde dezembro, mais de 57% dos israelenses tomaram pelo menos a primeira dose (e 50% já tomaram também a segunda).

Entre primeira e segunda dose, Israel já aplicou mais vacinas do que seus 9 milhões de habitantes, e o número de mortes por covid-19 caiu drasticamente. A vacinação tem sido usada na eleição pelo premiê como trunfo eleitoral.

Antes da vacinação, o governo Netanyahu vinha sendo questionado por acusações de corrupção e por uma oposição crescente. O premiê está no poder desde 2009 (e antes disso em 1996) e responde a processos por corrupção, que voltarão a julgamento depois da eleição.

A queda em sua popularidade tem feito com que o Likud não consiga manter um governo nos últimos anos. Em 2019, o Likud chegou a perder para a coalizão de centro-direita Azul e Branco, recém-formada pelo ex-chefe do Estado-Maior Benny Gantz, mas a oposição tampouco conseguiu formar um governo. Já na última eleição, em 2020, Netanyahu e Gantz se uniram para tentar um governo conjunto, no qual agora Gantz é ministro da Defesa e premiê rotativo. Mas não só a união não deu certo e novas eleições foram convocadas, como a participação de Gantz no governo não pegou bem e o Azul e Branco despencou nas pesquisas.

Há críticas a Netanyahu mesmo com a vacinação. Nesse fim de semana, manifestantes foram às ruas no que foi tido como o maior protesto contra o governo dos últimos anos, com mais de 20.000 pessoas pedindo que Netanyahu deixe a liderança do país. Mas a oposição segue fragmentada, novamente sem um grande grupo capaz de fazer frente ao premiê.

Israel tem um sistema parlamentarista com cláusula de barreira baixa e mais de uma dezena de partidos chegando ao Parlamento. Por isso, é historicamente difícil formar um governo em Israel. Em 70 anos, foram mais de 30 governos, média de um governo a cada dois ou três anos. Mas os últimos anos têm sido atípicos até para os habituados. Se um candidato não conseguir formar e manter um governo, como já aconteceu nos pleitos anteriores, o país pode ter de convocar sua quinta eleição, o que seria uma situação sem precedentes e indesejada.

(Com AFP e Reuters)

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