Mundo

Especialistas debatem os pontos mais polêmicos do novo Código Florestal

Reunidos na sede da Editora Abril, em SP, especialistas discutiram as polêmicas do projeto de reforma da legislação florestal brasileira, que aguarda votação na Câmara dos Deputados

Desmatamento na Amazônia (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

Desmatamento na Amazônia (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 23 de março de 2012 às 12h10.

São Paulo - Como o novo Código Florestal afeta a ocupação de áreas verdes no Brasil? E qual a relação com a expansão da agricultura? Por que causa tanta polêmica? Essas e outras questões relativas ao projeto de reforma da legislação florestal foram debatidas nesta sexta-feira, durante evento realizado pelo Planeta Sustentável, na sede da Editora Abril, em São Paulo.

Com apresentação de Fábio Barbosa, presidente da Abril S.A, o debate contou com a presença dos especialistas André Nassar, engenheiro agrônomo e diretor geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), e Tasso Azevedo, engenheiro florestal e consultor para florestas e clima do Ministério do Meio Ambiente, que já foi diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). A mediação do evento ficou por conta de Matthew Shirts, coordenador do movimento. Confira abaixo, os pontos altos do debate.

11h20 - Término do debate

11h15 - Na visão de Tasso, o Código que saiu do Senado é melhor ("ou menos pior") que o que saiu da Câmara, que amplia as possibilidade de desmatamento legal, ao mudar por exemplo a definição de topo de morro e de mangue. A versão dos deputados também amplia áreas de interesse social e publico, que poderia dar lugar a uma APP. E diminui gravemente as áreas que têm que ser recuperadas, reduzindo-as pela metade, a 25 milhões de hectares apenas. Sobreviveriamos a um código assim?, questionou. "Sim, nós sobrevivemos a todo tipo de descalabro. O desamtamento vai explodir? Não, mas ele permanecerá nas taxas atuais, caindo de forma muito mais lenta".

A solução, segundo Tasso, caso o atual projeto seja aprovado, quando o texto chegasse na mão da presidente Dilma, ela teria que exercer o veto em alguns artigos, que seriam invetáveis, por trazer pontos positivos e negativos. É possível então do ponto de vista legal, a Câmara parar o projeto no Congresso e abrir um processo para fazer todas correções necessárias e adequadas. Outra alternativa aponatda pelo especailista é gerar um projeto adequado, aprovar na Câmara, levá-lo à Presidente, que então o vetaria e apresentaria uma medida provisória. "O novo Código Florestal não é um jogo ganho, ele pode ser revertido, sim, e com calma", finalizou.

11h - Para encerrar o debate, Matthew Shirts pergunta aos dois participantes: O que devemos fazer agora diante das novas proposta? Nassar diz que o momento é do chamado custo irrecuperável. "É preciso votar o texto, sim, mas um texto que se aproxime do código que saiu do Senado. E é preciso provar pra sociedade que essa reforma é necessária e criar compromisso pra fazer valer tudo o que está no novo Código".

10h45 - Nassar disse que a discussão sobre o novo Código ficou empobrecida. "Grande parte das notícias é em cima do embate político entre rualistas e ambientalistas. Faltou incluir a sociedade, essa foi a grande perda."

Tasso Azevedo criticou a compensação de reserva legal em outros estados, o que não faz sentido, a não ser que haja uma razão ecológica, de recuperar na mesma bacia ou no mesmo bioma.

10h35 - Tasso Azevedo argumenta que o Código Florestal que está em análise claramente diminui a proteção da floresta, quando essencialmente deveria se voltar para a preservação e recuperação dessas áreas. Mas segundo ele as modificações feitas nos últimos 40 anos foram alterando a lei de tal maneira, que ela ficou um "monstrinho".

"O Código Florestal brasileiro não é como um código civil que reúne todas as legislações sobre um assunto e consolida eles todos. Desde a Constituição de 88, surgiram outras leis que tratam do meio ambiente. O ideal seria que o novo Código englobasse tudo isso. A proposta atual tem uma origem muito clara de um grupo com interesses muitos específicos e motivados por resolver passivos acumulados com o tempo, que falam pelo setor rural, para fazer uma alteração que simplifique e facilite a ocupação", diz. Azevedo também questiona a argumentação de que o Código hoje é inadequado porque não é aplicado. Para ele, aqueles que deveriam estar cumprindo, também não estão cumprido a legislação. "Só porque ninguém penaliza, você não cumpre a lei?"

Outro ponto crítico levatando pelo especialista é que quando se iniciou o debate em 2008 da nova proposta, o principal argumento era de que Código não tinha racionalidade técnica. "Acontece que o texto atual tem muito mais inconsistências técnicas, conceituando mangue de uma forma que o mangue passa a ser quase inexistente. Todos os aspectos ligados a racionalidade foram absolutamente ignorados no atual debate, a ponto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências terem enviados relatórios para os parlamentares e que foram totalmente ignorados", ressaltou.

10h  - André Nassar defende que não dá pra fazer uma leitura curta sobre a nova proposta, que vem sendo considerada por muitos como um lobby da bancada ruralista. Ele critica a falta de informações precisas sobre quantos equitares de Áeas de Preservão Permanente (APP) o Brasil possui. "Temos uma lei que fala em preservar, mas não sabemos o tamanho do que temos aqui. Como é possível legislar assim?", questiona. Segundo Nassar, a lei de crimes ambientais foi um ponto positivo por que o Brasil vinha aumentando suas taxas de desmatamento. "Mas no momento em se faz valer, ela criminaliza quem já estava nas chamadas áreas consolidades, num momento em que não favia cobrança, o que teria gerado uma reação dos agentes rualistas. Existe um limite para a sociedade aceitar certas imposições", afirmou.

A necessidade dessa reforma se justifica aí, disse Nassar. "De acordo com o Código de 1965, se você é produtor e é obrigado e recuperar, o Estado deve pagar por isso e se o agricultor perde área produtiva, também é responsabilidade do Estado ajudá-lo. Então, se essa lei tivesse sido aplicada, já era para todas as áreas de proteção permanente terem sido recuperadas", destaca. Nassar também defende que a reforma tem que valer pra quem está entrando no "mercado" a partir da data em que começa a ser aplicada. "É como se eu fizesse uma reforma da previdência para mudar a perspectiva de ganhos de uma pessoa que contribi já há 20 anos".

Outra questão que também precisa ser revista, segundo o especailista, é a ideia de anistia. "Sou totalmente contra o termo anistia. Isso é argumento para plateia. O novo Código prevê obrigações, não se trata de perdão sem contrapartida".

9h50 - Matthew Shirts destaca que com uma das maiores florestas do mundo, o Brasil vive um impasse politico há anos. O primeiro Código Florestal é de 1934, sendo reformado na década de 60. Desde então sofreu inúmeras propostas. Atualmente, uma terceira proposta segue em votação no Congresso. Entre os pontos polêmicos estão a definição do tamanho das propriedade que devem ser preservadas e a anistia a multas e penalidades dos proprietários que tenham desmatado áreas de proteção até junho de 2008. Ambientalistas rejeitam essa ideia e defendem a recuperação das áreas degradas. Os ruralistas aprovam a anistia geral.Outra questão polêmica é a proposta de recuperação de até 50% do terreno com espécies exóticas e a permissão de que a recuperação aconteça em outras áreas.

9h40 - Fábio Barbosa abre o debate. "Vamos entender o assunto e os argumentos para que possamos opinar sobre essa questão. É importante sairmos daqui com esclarecimentos que nos dê uma visão mais ampla das propostas do Novo Código".

Acompanhe tudo sobre:AgriculturaCódigo florestalDesmatamentoLegislaçãoTrigo

Mais de Mundo

Declaração final do G20 defende taxação de super-ricos e pede paz em Gaza e na Ucrânia

Governo Milei vira destaque no G20 ao questionar declaração final e fechar acordo sobre gás

Biden se atrasa e fica de fora da foto de família do G20

'Não é preciso esperar nova guerra mundial para mudar ordem internacional', diz Lula no G20