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Biden diz na ONU que década será decisiva e que EUA 'está de volta'

Presidente americano Joe Biden fez seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, 21, tentando justificar saída do Afeganistão e papel dos EUA na contenção da covid-19

Biden, em discurso na ONU nesta terça-feira: "poder militar deve ser nosso último recurso" (Eduardo Munoz-Pool/Getty Images)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 21 de setembro de 2021 às 11h26.

Última atualização em 22 de setembro de 2021 às 20h50.

Em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU , o presidente americano, Joe Biden , focou sua fala na busca por diplomacia, parcerias globais e o combate "conjunto" às crises que virão.

Tentou também limpar a imagem americana após a criticada saída do Afeganistão, afirmando que esta é uma fase de encerramento das guerras eternas e de busca de soluções por meio do diálogo internacional. "Estamos de volta à mesa", disse.

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"Estou aqui para dizer a vocês o que os EUA pretendem fazer [...], e meu comprometimento de liderar o mundo na direção de um futuro mais pacífico e próspero para todas as pessoas", disse.

Biden afirmou que este era o primeiro discurso de um presidente americano na ONU em muito tempo sem que o país estivesse em guerra.

"O poder militar deve ser nosso último recurso, e não deve ser usado a cada problema que virmos ao redor do mundo."

Biden disse que o encontro na ONU acontece em um momento de "grande dor" devido à pandemia, mas que o futuro dependerá da "capacidade do mundo de agir em conjunto", e que as crises atuais, como a covid-19, não podem ser resolvidas "com balas".

O presidente disse que esta será uma "década decisiva" e um "ponto de inflexão" para a humanidade. "O fato de decidirmos ou não lutar pelo nosso futuro coletivo vai reverberar em muitas gerações que virão", disse.

O democrata citou, durante o longo discurso, temas como a necessidade de melhor combate à pandemia (e "à próxima" pandemia, disse), a crise climática, questões comerciais e novas tecnologias.

Em um aguardado anúncio, Biden também afirmou hoje que os EUA vão mobilizar 100 bilhões de dólares em recursos, incluindo com a iniciativa privada, para apoiar o combate à mudança climática em países em desenvolvimento.

Sobre a questão climática, afirmou ainda que todos os países precisam "trazer seus compromissos mais ambiciosos para a mesa" na COP 26, conferência do clima que ocorrerá em novembro em Glasgow, na Escócia.

Os EUA já haviam prometido no começo do ano atingir a neutralidade de carbono em 2050, e Biden tentou apresentar no discurso que seu governo tem trabalhado rumo à transição energética no país.

Mais cedo, ao ser o primeiro líder a discursar na Assembleia, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro afirmou que é de grande interesse do Brasil participar do mercado de créditos de carbono, em que a tendência é que o país — caso consiga conter o desmatamento e o aumento de emissões — seja vendedor para nações desenvolvidas.

"Sem Guerra Fria"

Na disputa com a China, que foi indiretamente citada em várias partes do discurso, Biden também voltou a dizer que os EUA não estão em busca de "uma nova Guerra Fria". "Vou dizer isso de novo, não estamos buscando uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos", disse.

Em vários momentos, no entanto, o presidente disse que os EUA defenderão "a democracia" e a liberdade dos cidadãos, tentando estabelecer uma polarização com o modelo chinês. "O governo pelas e para as pessoas ainda é a melhor forma de entregar para nossos cidadãos", disse Biden.

Nesta frente, o presidente americano também citou Xinjiang, onde o governo em Pequim comete violações de direitos humanos contra a minoria uigur, e criticou nominalmente governos de países como Cuba e Venezuela.

No cenário de segurança internacional, um dos destaques da fala de Biden foi ainda a afirmação de que o governo americano vai apoiar uma solução de dois Estados no conflito entre Israel e Palestina.

A busca por aliados

O discurso de Biden, como esperado, foi amplamente focado na organização internacional - e na busca por aliados para fazer frente à disputa americana com a China. "Os EUA não vão liderar sozinhos", disse repetidas vezes.

Em um dos momentos do discurso, também voltou a citar o plano Build Back Better World (construir melhor de volta, um de seus slogans de campanha, mas na versão mundo). Durante a reunião do G7, as sete democracias mais ricas do mundo, o grupo anunciou que lideraria um plano para apoiar investimentos de infraestrutura em países em desenvolvimento - o que poderia incluir o Brasil.

No discurso de hoje, Biden também não citou mais detalhes para além de que o plano pode gerar "bilhões de dólares" em investimentos.

Mas a menção ao projeto mostra que esta deve ser, apesar das crises recentes, ainda uma das prioridades americanas. O principal objetivo é conter a relação chinesa crescente com os países emergentes e apresentar uma alternativa à Nova Rota da Seda, plano de investimento em infraestrutura da China em países aliados.

Biden afirmou também que manterá seu compromisso com a Otan, organização militar do Ocidente, e que "renovou seu engajamento" com a União Europeia. Ambas as frentes, no entanto, geraram questionamentos após a saída do Afeganistão, com a análise de que os EUA terá um papel menos ativo nas questões globais.

A fala de Biden reforça a mudança de rumo em relação à estratégia recente dos EUA. Há quatro anos, em sua primeira fala na ONU, em 2017, o ex-presidente Donald Trump foi criticado ao dizer que o futuro não pertencia aos "globalistas", mas "aos patriotas", alfinetar ex-aliados americanos e criticar o então acordo nuclear com o Irã.

Além das pressões sobre o Afeganistão, a estreia de Biden na Assembleia acontece ainda em meio à crise recente entre França, Estados Unidos e Austrália.

A Austrália cancelou um contrato de submarinos com uma empresa francesa para adquirir tecnologia americano, irritando o governo francês. Biden e o presidente francês, Emmanuel Macron, devem conversar nos próximos dias. Macron não foi a Nova York, e enviou um discurso gravado.

Faltam vacinas

Apesar das promessas de Biden de que os EUA usarão seu poderio econômico para liderar grandes questões globais, o elefante na sala durante o discurso é também uma das prioridades da Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a Assembleia Geral: o fornecimento ainda muito baixo de vacinas aos países pobres.

Globalmente, só 2% das pessoas em países pobres receberam uma dose da vacina. A média global é de 43%.

Biden disse no discurso que os EUA voltaram a se engajar na Covax, iniciativa da OMS para fornecer vacinas a países mais pobres, que o país investiu 20 bilhões de dólares na resposta global à covid-19 e exportou 160 milhões de doses. O presidente afirmou também que, nesta semana, anunciará "compromissos adicionais" para vacinar o mundo.

Em fala na abertura do evento na segunda-feira, 20, o secretário-geral da ONU, António Guterres, voltou a pontuar as desigualdades na pandemia. A OMS tem reiterado que mais de 70% das vacinas até agora foram aplicadas em só dez países.

"Primeiro, nós temos de acabar com essa pandemia. Nossa resposta tem sido muito lenta, e muito desigual", disse Guterres. "Eu convoco o mundo a se mobilizar para termos um plano global de vacinação."

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