O chefe de governo italiano afirmou que renunciará a seu cargo quando o Parlamento aprovar as medidas econômicas (Vincenzo Pinto/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2011 às 06h29.
Roma - O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi afirmou em uma entrevista publicada nesta quarta-feira que não voltará a se candidatar na próxima eleição e que deixará o cargo até o final do mês.
"Não vou disputar o gabinete", declarou Berlusconi ao La Stampa, depois que ele anunciou que deixará o cargo assim que a lei de reforma econômica for aprovada.
"Chegou a hora de Alfano, ele será nosso candidato, é realmente bom, melhor que qualquer um pode pensar, e sua liderança é aceita por todos", afirmou Berlusconi referindo-se a Angelino Alfano, seu herdeiro político.
Alfano, ex-ministro da Justiça do Governo Berlusconi, é atualmente secretário-geral do PDL (Povo da Liberdade - partido no poder), e seu nome poderia receber um apoio relativamente grande para liderar um governo de transição no qual entraria a oposição centrista.
"Mas, antes, devemos dar respostas imediatas aos mercados. Não podemos esperar mais para adotar as medidas que decidimos; esse foi meu compromisso com a Europa e, antes de ir, quero cumpri-lo", acrescentou.
"Faço um chamado a todos, maioria e oposição, para que essas medidas sejam aprovadas o quanto antes, e depois apresentarei minha renúncia", disse ainda Berlusconi.
Segundo um comunicado a presidência da República emitido na terça-feira, o chefe de governo italiano afirmou que renunciará a seu cargo quando o Parlamento aprovar as medidas econômicas prometidas à União Europeia (UE) para evitar o contágio da crise.
A decisão foi tomada por Berlusconi ao término de uma reunião de uma hora com o presidente, Giorgio Napolitano, durante a qual reconheceu que estava "consciente das consequências do voto" de terça-feira na Câmara dos Deputados.
Berlusconi insistiu sobre a necessidade "urgente" de dar "respostas concretas às expectativas dos sócios europeus através da aprovação da Lei de Orçamentos para 2012, que sofreu emendas a partir das observações e propostas da Comissão Europeia", diz o comunicado.
Criticado por diferentes setores por sua incapacidade para manejar a crise - negada por ele até poucos dias atrás, Berlusconi introduziu na semana passada uma emenda aos orçamentos de 2012 com as exigências feitas pela UE para garantir a estabilidade financeira do país.
A lei deve ser aprovada antes de 18 de novembro pelo Senado e antes do final de novembro pela Câmara dos Deputados, segundo o calendário fixado.
A renúncia de Berlusconi vinha sendo pedida nos últimos dias com insistência pela oposição de esquerda, assim como pelos sindicatos e pela federação de indústrias ante a delicada situação econômica da Itália, que vem sendo criticada pelos mercados devido a sua colossal dívida pública e um crescimento nulo.
As pressões para que o multimilionário primeiro-ministro apresente sua renúncia foram reforçadas nesta terça-feira após a aprovação das Contas do Estado de 2010, na qual obteve a vitória, mas teve revelada a perda da maioria no Congresso, através da perda do apoio de uma dezena de seus próprios deputados.
As Contas do Estado foram aprovadas com apenas 308 votos, abaixo dos 316 necessários para compor a maioria absoluta. "Quero saber o nome dos traidores", disse Il Cavaliere após a votação, visivelmente nervoso. Nos últimos dias, perdeu o apoio de 20 parlamentares de seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), em meio a divisões sobre as reformas exigidas ao país pela União Europeia (UE).
Até o polêmico líder da Liga Norte, Umberto Bossi, aliado importante para a sobrevivência do governo, e que vinha garantindo a Berlusconi há três anos a maioria absoluta no Parlamento, pediu que Il Cavaliere renunciasse.
"É melhor que dê um passo atrás e proponha em seu lugar o secretário de seu partido PDL, Angelino Alfano", disse Bossi.
Berlusconi, de 75 anos e há 17 anos no meio político, esteve no poder nos últimos dez anos, com exceção do período 2006-2008.