Mundo

Bandeira jihadista disputa espaço com bancos em Londres

Bandeira negra com escritos em árabe na cor branca, semelhante à do Estado Islâmico, causou tumulto em Londres

Muro pintado indica a entrada do projeto imobiliário Will Crooks, no distrito de Poplar, em Londres (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

Muro pintado indica a entrada do projeto imobiliário Will Crooks, no distrito de Poplar, em Londres (Chris Ratcliffe/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2014 às 23h31.

Londres - Ao olhar para o sul chegando à estação Poplar do Docklands Light Railway, em Londres, não se pode deixar de ver os arranha-céus do Bank of America, do Credit Suisse Group e do HSBC Holdings. Ande em direção ao norte e você estará em outro mundo.

O projeto imobiliário Will Crooks, nesse distrito do leste de Londres, se espalhou por todos os jornais no início de agosto quando uma bandeira negra com escritos em árabe na cor branca, semelhante àquelas usadas pelo grupo jihadista do Estado Islâmico, foi levantada sobre seus portões.

A execução do jornalista americano James Foley por alguém com um sotaque britânico provocou um exame de consciência no Reino Unido sobre como e por que o país se tornou um exportador de extremistas para o Oriente Médio.

O primeiro-ministro David Cameron prometeu redobrar os esforços para impedir que britânicos radicalizados viajem ao Iraque e à Síria para “fazerem parte do extremismo e da violência”.

“O problema fundamental é tão longo quanto o tempo de duração do conflito, porque há um lugar para as pessoas irem”, disse Raffaello Pantuchi, especialista em contraterrorismo da Royal United Services Institute, uma think tank de defesa e segurança com sede em Londres, em entrevista.

“Então, o lado da oferta de combatentes continuará”.

Dois mundos

No censo de 2011, o bairro Tower Hamlets, com cerca de 250.000 pessoas, que cobre a área da estação Poplar, era o único do Reino Unido onde mais pessoas se identificavam como muçulmanas do que como cristãs.

O condomínio Will Crooks, um pequeno conjunto de blocos de cinco andares, é conhecido na área por ser a residência de muitas pessoas de procedência de Bangladesh. Uma placa no playground infantil do lugar está escrita em inglês e, embaixo, em bengali.

A estatística populacional de Poplar não dá a visão do todo, pois também compreende dados do muito mais rico distrito de Limehouse, residência dos que viajam diariamente entre Canary Wharf e City.

Contudo, 44 por cento dos que estão na área não nasceram no Reino Unido; em 20 por cento das casas, ninguém tem o inglês como primeira língua; 57 por cento das pessoas não são brancas; o número de pedidos de auxílio desemprego dobra a média nacional.

Em Poplar, a maioria das mulheres usa hijab, o véu islâmico que cobre a cabeça e o peito, e algumas vestem o niqab, cobrindo tudo, menos os olhos.

Atração das mídias sociais

Quando o primeiro-ministro interrompeu suas férias na semana passada para voltar para Londres e discutir o assassinato de Foley, ele pressionou os ministros em relação ao que está sendo feito para impedir que o Reino Unido se torne um exportador da violência jihadista.

Entre 400 e 500 britânicos estariam lutando na Síria e no Iraque, segundo um funcionário do governo.

“Uma mistura de fatores os está atraindo para lá”, disse Alexander Hitchens, chefe de pesquisa do Centro Internacional para o Estudo da Radicalização e da Violência Política do King’s College, da Universidade de Londres, por telefone.

“O elemento das mídias sociais ajudou a seduzir homens jovens para o conflito. Isso e o grupo de interação cara a cara -- você encontra grupos de rapazes indo juntos”.

As agências de inteligência britânicas identificaram o assassino de Foley, segundo informou o Sunday Times ontem, citando fontes do governo sem dar seus nomes.

Ataque com cutelo

Abdul Mumin, 43, secretário da Mesquita Central de Poplar, fez questão de rejeitar a ligação entre o Islã e a decapitação de Foley ou o assassinato do soldado britânico Lee Rigby, do lado de fora de um quartel no sudeste de Londres por dois homens convertidos ao Islã na faixa dos 20 anos.

Michael Adebolajo foi condenado a prisão perpétua e Michael Adebowale recebeu sentença de 45 anos em fevereiro pelo assassinato, ocorrido em uma tarde de maio, no ano passado.

Os promotores disseram à corte que eles atropelaram Rigby, depois saíram de seu carro e quase decapitaram o soldado inconsciente com facas e cutelos.

Adebolajo disse durante o julgamento que se considerava um “irmão” do grupo terrorista al-Qaeda e que não se arrependia de “obedecer ao comando de Alá” no ataque.

“Essas pessoas que fazem essas coisas, nós não aceitamos isso”, disse Mumin. “Elas têm algo errado na cabeça. Isso não é o Islã”.

Acompanhe tudo sobre:BancosFinançasIslamismoMuçulmanos

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia