A presidente chilena Michelle Bachelet: “estamos procurando erradicar as más práticas na política, nos negócios e nas relações entre os dois” (Cris Bouroncle/AFP)
Da Redação
Publicado em 29 de abril de 2015 às 13h18.
Santiago - A presidente do Chile, Michelle Bachelet, tentou pôr fim aos escândalos recentes que revoltaram a população e abalaram sua popularidade com o anúncio de medidas para regular o financiamento político e marcando uma data para uma reforma na Constituição.
A aprovação de Bachelet atingiu seu menor índice nas últimas semanas, resultado das acusações de que sua nora se beneficiou de um tratamento diferenciado para obter um empréstimo bancário.
Uma investigação sobre notas fiscais falsas usadas por grandes empresas para financiar partidos políticos também causou um desencanto generalizado com a classe política, em um país normalmente visto como menos corrupto que outros da América Latina.
No futuro, os partidos políticos serão custeados pelo Estado, as empresas não poderão contribuir e as listas partidárias deverão ser limpas, anunciou Bachelet em um discurso à nação televisionado na noite de terça-feira.
“Estamos procurando erradicar as más práticas na política, nos negócios e nas relações entre os dois”, afirmou.
“São medidas severas, e alguns quiseram resistir a elas... (mas) a democracia e política pertencem a todos, e não podemos tolerar que sejam capturadas pelo poder do dinheiro”.
Cerca de 22 por cento dos países de todo o mundo proíbem doações empresariais a partidos políticos, de acordo com o Instituto para a Democracia e a Assistência Eleitoral.
Bachelet também estabeleceu uma data para iniciar a reforma constitucional, uma promessa de campanha que foi escanteada por uma agenda de reformas nos impostos e na educação, assim como pela necessidade de reagir à desaceleração econômica e a uma série de desastres naturais.
A partir de setembro, o mês das "festas pátrias", o Chile irá “iniciar um diálogo com os cidadãos sobre o processo constitucional”, afirmou Bachelet.
Na campanha que a elegeu para seu segundo mandato, Bachelet prometeu reformar totalmente a constituição, a mesma desde a ditadura de Augusto Pinochet entre 1973 e 1990.
Ela não especificou como o processo irá funcionar, mas pelas regras atuais a mudança exigirá uma maioria de dois terços no Congresso, que a presidente não domina atualmente.
Bachelet disse que irá assumir pessoalmente a responsabilidade pela aprovação rápida de um projeto de lei que limite o número de mandatos que os congressistas podem exercer.
Os políticos locais acolheram com cautela o anúncio, mas nem todos ficaram convencidos.
“Se o governo está esperando seguir em frente sem lidar com seus pontos fracos, os problemas persistirão inevitavelmente”, declarou o cientista político Kenneth Bunker.