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Áustria e Alemanha receberão refugiados vindos da Hungria

Países aceitaram receber os refugiados que a Hungria decidiu conduzir à sua fronteira nas próximas horas


	Refugiados na Hungria: decisão foi motivada pela atual situação de emergências na fronteira húngara
 (REUTERS/Laszlo Balogh)

Refugiados na Hungria: decisão foi motivada pela atual situação de emergências na fronteira húngara (REUTERS/Laszlo Balogh)

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Da Redação

Publicado em 4 de setembro de 2015 às 21h10.

Áustria e Alemanha aceitam receber os milhares de refugiados que a Hungria decidiu conduzir à sua fronteira nas próximas horas, anunciou neste sábado, em Viena, a chancelaria austríaca.

A decisão, motivada pela "atual situação de emergências na fronteira húngara", foi anunciada ao premiê húngaro, Viktor Orban, pelo chanceler austríaco, Werner Faymann, "de comum acordo" com a chanceler alemã, Angela Merkel, informou o ministério austríaco das Relações Exteriores à agência de notícias APA.

O governo húngaro decidiu, após vários dias de bloqueio, mobilizar uma centena de ônibus para conduzir até a fonteira austríaca, como desejavam, 1.200 imigrantes em marcha até esta fronteira e os que continuam lotando a principal estação de Budapeste, capital húngara.

Um primeiro ônibus - fretado pelas autoridades húngaras - partiu na madrugada deste sábado com destino à Áustria, levando imigrantes que estavam caminhando para a fronteira.

Independentemente deste gesto, Viena e Berlim esperam que a Hungria "respeite suas obrigações europeias, inclusive as relacionadas com o acordo de Dublin", que rege os regimes de asilo na União Europeia, destacou Faymann.

Mudança de postura

Depois de dias de bloqueio, centenas de imigrantes que estavam na Hungria se rebelaram nesta sexta-feira e retomaram a marcha rumo à Europa ocidental.

Enquanto isso, a 2.000 km dali, em Kobane (Síria), Abdullah Kurdi, o pai do menino de três anos que morreu afogado em uma praia turca juntamente com o irmão e a mãe na tentativa de chegar à ilha grega de Kos, sepultou sua família.

O pai de Aylan segurou o corpo do filho nos braços antes de depositá-lo na sepultura, relatou uma testemunha.

A imagem do menino, encontrado morto em uma praia da Turquia, se transformou em um símbolo poderoso e controverso e em uma ferramenta formidável de pressão sobre os países da União Europeia, divididos sobre como enfrentar a pressão migratória.

A comoção despertada pela tragédia parece ter vencido as resistências do premiê britânico, David Cameron, criticado pela falta de envolvimento na crise dos imigrantes.

Em visita a Lisboa, Cameron anunciou nesta sexta que a Grã-Bretanha está disposta a receber "milhares de refugiados sírios adicionais". No último ano e meio, Londres acolheu 219 sírios.

"Diante da envergadura da crise e do sofrimento das pessoas, posso anunciar hoje que faremos mais, acolhendo milhares de refugiados sírios adicionais", afirmou.

Corredor ferroviário

Em Budapeste, que suspendeu os trens com destinos internacionais há quatro dias - particularmente para Áustria e Alemanha - mil imigrantes, entre os quais crianças e pessoas em cadeiras de rodas, deixaram à tarde a estação central para tentar chegar a pé na Áustria, distante 175 km.

Ao mesmo tempo, 300 imigrantes fugiram de um acampamento de acolhida em Roszke, perto da fronteira com a Sérvia, o que levou as autoridades a fechar parcialmente uma passagem fronteiriça localizada nos arredores, uma fronteira onde já foi erguida uma barreira.

A Hungria, um dos principais países de trânsito na Europa Central, se defronta com uma enxurrada de refugiados sem precedentes. Só na quinta-feira, segundo a ONU, chegaram ali 3.300 pessoas.

Em agosto, mais de 50 mil emigrantes chegaram ao país.

Esta situação levou o Parlamento a aprovar nesta sexta-feira, em caráter de urgência, um reforço das leis anti-imigração, propostas pelo governo de Viktor Orban, e decretar "estado de crise", uma disposição que concede maiores prerrogativas às autoridades.

A Hungria critica a decisão da Alemanha de não reenviar os refugiados sírios ao país-membro da UE aonde chegaram primeiro, como recomendam os acordos do bloco. Isto cria, segundo Budapeste, um efeito manada.

"A Europa deve parar de alimentar sonhos e esperanças irreais", disse o ministro húngaro de Relações Exteriores, Peter Szijjarto, ao chegar a Luxemburgo para uma reunião de dois dias com os colegas do bloco.

"As recriminações não vão ajudar para controlar este problema", disse o ministro alemão, Frank-Walter Steinmeier, que pediu o fim das "recriminações". "A Europa não tem direito a se dividir diante de semelhante desafio".

Perante esta situação, a República Tcheca e a Eslováquia propuseram abrir um corredor ferroviário para os refugiados sírios entre a Hungria e a Alemanha, se Budapeste e Berlim concordarem.

Os presidentes dos dois países se reuniram em Praga com seus colegas de Polônia e Hungria. Os quatro chefes de Estado reafirmaram sua oposição ao sistema obrigatório de distribuição por cotas dos solicitantes de asilo, proposto pela Comissão Europeia.

Duzentos mil refugiados

A UE, em particular os países da costa meridional do bloco, enfrentam uma pressão migratória sem precedentes.

Desde o começo do ano, mais de 350 mil pessoas cruzaram o Mediterrâneo, e mais de 2.600 morreram tentando chegar por mar à Europa, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Esta situação, a pressão migratória que sobrecarrega as infra-estruturas de acolhida e os dramas sucessivos que se repetem há meses, levaram a Comissão Europeia a propor a distribuição compulsória de solicitantes de asilo, recebida com opiniões contraditórias pelos 28 integrantes do bloco.

Na próxima semana, haverá novas propostas para que a distribuição dos solicitantes de asilo chegue a 120 mil pessoas.

Em julho, os 28 só aceitaram uma distribuição voluntária de demandantes, sem um mecanismo permanente, e propuseram um total de 32 mil vagas.

A ONU voltou a pressionar nesta sexta-feira os europeus, ao pedir a distribuição obrigatória de pelo menos 200 mil demandantes de asilo entre os 28 membros da UE.

Por outro lado, a OIM anunciou que pelo menos 30 pessoas que zarparam da Líbia estão desaparecidas no Mediterrâneo depois que o bote inflável com 120 a 140 pessoas a bordo naufragou. A guarda costeira italiana resgatou 91 pessoas.

Em outro incidente, uma lancha, também da guarda costeira italiana, socorreu uma embarcação em dificuldades com 106 pessoas a bordo.

Matéria atualizada às 21h10 para complemento de informações

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