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Ativistas pró-democracia de Hong Kong são condenados por protesto de 2019

O Tribunal de Distrito de Hong Kong declarou sete deles culpados de organizar e participar de um comício ilegal. Os outros dois se declararam culpados

Hong Kong: Protesto contra lei de extradição para a China termina em confronto entre manifestantes e policiais (Thomas Peter/Reuters)

Hong Kong: Protesto contra lei de extradição para a China termina em confronto entre manifestantes e policiais (Thomas Peter/Reuters)

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AFP

Publicado em 1 de abril de 2021 às 07h49.

Última atualização em 1 de abril de 2021 às 12h41.

Nove ativistas veteranos de Hong Kong foram considerados culpados, nesta quinta-feira (1º), por seu papel na organização de uma das maiores manifestações de 2019.

Entre os nove, estão algumas das personalidades mais respeitadas da luta pelas liberdades na ex-colônia britânica, com frequência, defensores da não-violência que se mobilizaram por décadas para a instauração de um verdadeiro sufrágio universal.

Um dos mais conhecidos é o advogado Martin Lee, de 82 anos. Antes da devolução de Hong Kong em 1997, ele foi escolhido por Pequim para redigir a Lei fundamental, que funciona como uma miniconstituição na região semiautônoma.

Também foram processados a ex-deputada da oposição e advogada Margaret Ng, de 73 anos, assim como o magnata da mídia Jimmy Lai e o ex-deputado Leung Kwok-hung.

Os dois últimos se encontram em prisão preventiva por outros processos em nome da draconiana lei de segurança nacional imposta por Pequim no final de junho de 2020.

Os demais são figuras da Frente Civil pelos Direitos Humanos (CHRF), coalizão que organizou as manifestações mais multitudinárias de 2019, quando a cidade mergulhou em sua pior crise política desde a transferência da soberania em 1997, com ações e mobilizações quase diárias.

Estamos muito orgulhosos

O Tribunal de Distrito de Hong Kong declarou sete deles culpados de organizar e participar de um comício ilegal. Os outros dois se declararam culpados. Podem ser condenados a até cinco anos de prisão. As penas serão divulgadas em 16 de abril.

"Estamos muito orgulhosos, ainda que tenhamos que ir para a cadeia por isso", disse o ex-deputado e líder sindical Lee Cheuk-yan a repórteres.

"Independentemente do que o futuro nos reserva, nunca vamos parar de ir às ruas", completou.

Na manhã desta quinta-feira, alguns de seus partidários se reuniram nas imediações do tribunal com cartazes que denunciavam a "repressão política".

É um caso emblemático, porque se trata da organização de uma manifestação não autorizada em 18 de agosto de 2019 - uma das mais maiores em sete meses de protesto.

Os organizadores foram responsáveis por reunir 1,7 milhão de manifestantes neste dia, o que representa quase um em cada quatro manifestantes de Hong Kong. Este número não pôde ser verificado de forma independente.

Durante horas, uma grande passeata tomou, pacificamente, as ruas do centro da ilha de Hong Kong.

Circulação de automóveis

Escolhido pelo governo de Hong Kong para dirigir a acusação contra os nove, o advogado britânico David Perry acabou renunciando à tarefa, devido às fortes críticas de Londres e de organizações jurídicas britânicas quando se soube que ele havia aceitado.

A acusação alegou que os nove desafiaram a proibição de se manifestar, causando problemas no tráfego de automóveis na cidade.

Na sentença, a juíza AJ Woodcock advertiu que estava inclinada a impor a pena máxima e deu a entender que a natureza pacífica do protesto não era uma desculpa válida.

"(...) As considerações de ordem pública não se limitam apenas aos casos de violência, mas também às graves perturbações do tráfego, como foi o caso", diz a sentença.

A popularidade do protesto se refletiu nas urnas, com a vitória da oposição nas eleições locais de novembro de 2019. O movimento sofreu uma parada no início de 2020, porém, pelas restrições impostas contra a pandemia do coronavírus, pelas milhares de prisões e por um certo cansaço dos manifestantes.

Salvo o abandono da polêmica lei de extradição, os manifestantes não conseguiram nada. E, em junho de 2020, as autoridades chinesas impuseram a lei de segurança nacional.

As manifestações não podem mais ser realizadas na cidade. E, também sob pretexto da pandemia, as autoridades adiaram por um ano as eleições legislativas, nas quais a oposição tinha chances de ver refletida a popularidade de sua luta.

Além disso, na terça-feira, a China promulgou a reforma do sistema eleitoral local, o que marginalizará totalmente a oposição no Conselho Legislativo (LegCo, o Parlamento de Hong Kong).

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