Memorial para as vítimas do ataque em Sydney: autores foram identificados como Sajid Akram, de 50 anos, e seu filho Naveed Akram, de 24 (DAVID GRAY/AFP)
Redação Exame
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 13h08.
O atentado a tiros ocorrido no último domingo, 14, na praia de Bondi, em Sydney, segue gerando desdobramentos políticos, policiais e diplomáticos na Austrália.
O ataque, durante uma celebração judaica do Hanukkah, deixou ao menos 15 mortos e mais de 40 feridos e foi classificado pelas autoridades como um ato terrorista motivado por antissemitismo.
Os autores foram identificados como Sajid Akram, de 50 anos, e seu filho Naveed Akram, de 24. Segundo o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, há fortes indícios de que pai e filho tenham agido influenciados pela ideologia do grupo jihadista Estado Islâmico (EI).
Sajid Akram nasceu em Hyderabad, na Índia, e imigrou para a Austrália em 1998 em busca de trabalho, segundo informações da polícia do estado indiano de Telangana. Naveed Akram é cidadão australiano.
O pai foi morto a tiros por um policial durante a ação em Bondi Beach, enquanto o filho foi ferido e permaneceu em coma sob custódia policial.
Nesta terça-feira, 16, a emissora pública ABC informou que Naveed Akram despertou do coma e recuperou a consciência. Ele segue hospitalizado e sob custódia policial, sem que as autoridades tenham divulgado detalhes sobre seu estado de saúde.
De acordo com Albanese, o ataque “ao que parece, esteve motivado pela ideologia do Estado Islâmico”. O primeiro-ministro afirmou ainda que o extremismo ligado ao EI segue sendo um desafio global desde a ascensão do grupo, há mais de uma década.
A polícia de Nova Gales do Sul informou que encontrou um carro registrado em nome de Naveed Akram estacionado próximo à praia após o ataque. No veículo, havia explosivos improvisados e duas bandeiras artesanais associadas ao EI, segundo o comissário de polícia Mal Lanyon.
As investigações também indicam que Naveed havia chamado a atenção da agência de inteligência australiana (ASIO) em 2019, mas, à época, não foi considerado uma ameaça iminente. Segundo Albanese, tanto ele quanto o pai foram interrogados naquele período, sem que fossem detectados sinais claros de radicalização.
Um dos focos da investigação é uma viagem feita pelos atiradores às Filipinas em novembro. O Departamento de Imigração filipino confirmou que Sajid e Naveed chegaram ao país em 1º de novembro, vindos de Sydney, e registraram estadia na cidade de Davao, na ilha de Mindanao, região onde atuam grupos ligados ao Estado Islâmico.
As autoridades apuram o propósito da viagem, os locais visitados e se houve contato com extremistas islamistas.
No dia do ataque, Naveed teria dito à mãe que sairia para pescar. A polícia, no entanto, acredita que ele se dirigiu a um apartamento alugado com o pai, onde o atentado teria sido planejado. Eles usaram armas de cano longo e atiraram contra o público por cerca de dez minutos.
O ataque reacendeu o debate sobre o controle de armas no país. Sajid Akram possuía licença havia cerca de dez anos e tinha ao menos seis armas registradas. Diante disso, o governo federal anunciou que pretende endurecer a legislação.
Albanese afirmou que seu governo vai acelerar a criação do Registro Nacional de Armas, ampliar o uso de inteligência criminal na concessão de licenças, avaliar limites para o número de armas por pessoa e revisar os tipos de armas permitidas.
Segundo ele, as mudanças são “de bom senso” e devem ser aplicadas de forma coordenada em todo o país, mesmo diante da resistência do lobby armamentista.
O governador de Nova Gales do Sul, Chris Minns, disse que avalia convocar novamente o Parlamento estadual para agilizar a aprovação de novas normas e afirmou que “todas as opções estão sobre a mesa”.
Entre as vítimas estão uma menina de 10 anos, um sobrevivente do Holocausto e um rabino. Quarenta e duas pessoas foram hospitalizadas com ferimentos causados pelos tiros e por outros tipos de lesões.
O ataque também reacendeu críticas sobre a necessidade de reforçar o combate ao antissemitismo na Austrália. O presidente da Associação Judaica Australiana, Robert Gregory, afirmou à AFP que o governo não havia adotado medidas adequadas para proteger a comunidade judaica.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou que a decisão da Austrália de reconhecer o Estado da Palestina no início do ano contribuiu para intensificar o antissemitismo.
Na segunda-feira, mais de 7.000 pessoas doaram sangue para ajudar os feridos, segundo a Cruz Vermelha Australiana. Um memorial improvisado com flores foi montado próximo à praia de Bondi.
*Com informações da AFP e da EFE