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Ataques contra Síria podem não ter efeitos dissuasivos

Segundo especialista, atacar o país para "castigar" o regime pelo uso de armas químicas não constituem uma estratégia

Curdos sírios refugiados em acampamento de Quru Gusik, 27 de agosto de 2013 (Safin Hamed/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2013 às 22h22.

Washington - Os ataques contra a Síria com mísseis de cruzeiro contemplados pelos Estados Unidos para "castigar" o regime do presidente Bashar al-Assad pelo uso de armas químicas não constituem uma estratégia e correm o risco de não ter o efeito dissuasivo esperado, advertem especialistas.

O chefe da diplomacia americana, John Kerry, afirmou na segunda-feira que aguarda apenas o sinal verde do presidente Barack Obama para lançar uma operação militar: "se utilizaram armas químicas na Síria, as armas mais atrozes contra o povo (...), vão prestar contas".

A intervenção militar, caso efetivamente receba o aval de Obama, se limitará a uma campanha de alguns dias e incluirá disparos de mísseis de cruzeiro Tomahawk a partir de quatro destróieres situados no Mediterrâneo, informaram à AFP altos funcionários americanos.

O objetivo da ação militar não é o de alterar a relação de força entre os rebeldes e o regime de Assad, mas sim o de "dissuadir" o presidente sírio de voltar a utilizar armas químicas e "reduzir" sua capacidade de fazê-lo. "Trata-se de enviar um sinal", resumiu um alto funcionário.

Mas nada indica que a mensagem será bem recebida, advertem.

Os ataques devem ser "suficientemente importantes para dissuadir as autoridades sírias de voltar a utilizar armas químicas", opinou Richard Haas, presidente do Conselho para Relações Exteriores (CFR), um centro de reflexão em Washington.

Os quatro destróieres têm no total "180 Tomahawks", disse Christopher Harmer, especialista do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), acrescentando a presença de submarinos com mísseis de cruzeiro no Mediterrâneo.


Eventualmente, poderão "provocar uma redução temporária" dos meios operacionais do regime, mas "não eliminar suas capacidades militares nem suas armas químicas", estima Harmer.

O que preocupa o analista é a falta de propósito estratégico da operação que se está desenhando. "A queda do regime de Assad é um objetivo, tirar sua capacidade de utilizar armas químicas (...) é outro, mas castigá-lo por ter utilizado estas armas não faz sentido", disse Harmer.

Para Robert Satloff, do Instituto Washington de Política do Oriente Médio (WINEP), o ataque seria "um erro". "No máximo terá o efeito de definir os meios aceitáveis para Assad realizar seus massacres, inclusive as quantidades de armas químicas".

Historicamente, o efeito dissuasivo dos ataques punitivos não foi demonstrado. Em 1986, os Estados Unidos bombardearam a residência de Muammar Kadhafi em Bab El Azizia, Trípoli, após um atentado contra uma discoteca de Berlim (ocidental) atribuído à Líbia.

A ação não impediu o atentado contra o Boeing da PanAm dois anos depois, sobre Lockerbie, Escócia, também atribuído à Líbia.

Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS), pediu um compromisso mais forte contra o regime.

"O verdadeiro desafio não é acabar com o uso de armas químicas, o desafio são os 120 mil mortos, os mais de 200 mil feridos e os milhões de refugiados sírios".

Para Richard Haas, do CFR, trata-se de "fortalecer a credibilidade da diplomacia americana sobre a questão dos limites".

"O presidente (Obama) se equivocou ao não atuar em junho contra a Síria (quando houve outro suposto ataque químico) e tem agora uma rara segunda chance...".

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Washington - Os ataques contra a Síria com mísseis de cruzeiro contemplados pelos Estados Unidos para "castigar" o regime do presidente Bashar al-Assad pelo uso de armas químicas não constituem uma estratégia e correm o risco de não ter o efeito dissuasivo esperado, advertem especialistas.

O chefe da diplomacia americana, John Kerry, afirmou na segunda-feira que aguarda apenas o sinal verde do presidente Barack Obama para lançar uma operação militar: "se utilizaram armas químicas na Síria, as armas mais atrozes contra o povo (...), vão prestar contas".

A intervenção militar, caso efetivamente receba o aval de Obama, se limitará a uma campanha de alguns dias e incluirá disparos de mísseis de cruzeiro Tomahawk a partir de quatro destróieres situados no Mediterrâneo, informaram à AFP altos funcionários americanos.

O objetivo da ação militar não é o de alterar a relação de força entre os rebeldes e o regime de Assad, mas sim o de "dissuadir" o presidente sírio de voltar a utilizar armas químicas e "reduzir" sua capacidade de fazê-lo. "Trata-se de enviar um sinal", resumiu um alto funcionário.

Mas nada indica que a mensagem será bem recebida, advertem.

Os ataques devem ser "suficientemente importantes para dissuadir as autoridades sírias de voltar a utilizar armas químicas", opinou Richard Haas, presidente do Conselho para Relações Exteriores (CFR), um centro de reflexão em Washington.

Os quatro destróieres têm no total "180 Tomahawks", disse Christopher Harmer, especialista do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), acrescentando a presença de submarinos com mísseis de cruzeiro no Mediterrâneo.


Eventualmente, poderão "provocar uma redução temporária" dos meios operacionais do regime, mas "não eliminar suas capacidades militares nem suas armas químicas", estima Harmer.

O que preocupa o analista é a falta de propósito estratégico da operação que se está desenhando. "A queda do regime de Assad é um objetivo, tirar sua capacidade de utilizar armas químicas (...) é outro, mas castigá-lo por ter utilizado estas armas não faz sentido", disse Harmer.

Para Robert Satloff, do Instituto Washington de Política do Oriente Médio (WINEP), o ataque seria "um erro". "No máximo terá o efeito de definir os meios aceitáveis para Assad realizar seus massacres, inclusive as quantidades de armas químicas".

Historicamente, o efeito dissuasivo dos ataques punitivos não foi demonstrado. Em 1986, os Estados Unidos bombardearam a residência de Muammar Kadhafi em Bab El Azizia, Trípoli, após um atentado contra uma discoteca de Berlim (ocidental) atribuído à Líbia.

A ação não impediu o atentado contra o Boeing da PanAm dois anos depois, sobre Lockerbie, Escócia, também atribuído à Líbia.

Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS), pediu um compromisso mais forte contra o regime.

"O verdadeiro desafio não é acabar com o uso de armas químicas, o desafio são os 120 mil mortos, os mais de 200 mil feridos e os milhões de refugiados sírios".

Para Richard Haas, do CFR, trata-se de "fortalecer a credibilidade da diplomacia americana sobre a questão dos limites".

"O presidente (Obama) se equivocou ao não atuar em junho contra a Síria (quando houve outro suposto ataque químico) e tem agora uma rara segunda chance...".

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