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Argentinas prometem continuar com a luta pelo aborto legal

Segundo dados de ONGs, cerca de 500.000 abortos clandestinos são realizados por ano na Argentina, e por essa causa morrem uma centena de mulheres

Argentina: após mais de 17 horas acompanhando o debate sobre o aborto, muitas resistiam nos arredores do Congresso do país (Marcos Brindicci/Reuters)

Argentina: após mais de 17 horas acompanhando o debate sobre o aborto, muitas resistiam nos arredores do Congresso do país (Marcos Brindicci/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de agosto de 2018 às 18h00.

"Que vire lei!": com esse grito de guerra, centenas de mulheres acompanharam ao longo da madrugada a votação do Senado, que acabou sentenciando o fim do projeto de legalização do aborto.

Após mais de 17 horas acompanhando o debate na rua, muitas resistiam nos arredores do Congresso. Dezenas de milhares de manifestantes tinham ido embora, devido ao frio, à chuva e a uma certeza cada vez maior de que o resultado seria adverso.

Por volta das três da madrugada, quando o rechaço ao projeto se tornou realidade, a raiva explodiu no lado verde, cor que identifica a luta pela legalização do aborto.

Do outro lado da praça do Congresso, separados por cercas e policiais, os azuis "Pró-vida", como se autodenominam os contrários à legalização, festejavam com fogos de artifício.

"Isto acaba de começar, não poderão deter a maré feminista que veio para mudar a Argentina. Mais cedo ou mais tarde será lei", escreveu no Twitter após o fim da sessão no Senado a deputada Victoria Donda, uma das impulsoras do projeto no Parlamento.

A 700 metros do prédio, um telão transmitia o debate ao vivo. "Fora macho, fora macho", gritavam os manifestantes quando falava um senador contrário à legalização do aborto.

"Ganhamos nas ruas"

"Vamos continuar brigando, insistindo, como fazemos há um monte de anos", disse Sofía Spinelli, de 26 anos, que marchava junto a sua agrupação política Marabunta.

Para Spinelli, "vivemos dias históricos, porque antes éramos muitas, mas nunca tantas. Nas ruas ganhamos, mas a representação política não é fiel ao que acontece nas ruas", lamentou.

Para as mais jovens, foi sua primeira luta, mas também sua primeira derrota. Muitas choravam. Indignação e raiva, diziam.

"Há um retrocesso mais legal que social. Nós meninas fizemos um avanço. Nas ruas o aborto já é legal, nos bairros o aborto é legal, os que não perceberam isso são os que estão no Senado", lamentou Mailén, de 24 anos, da agrupação Miguelito Pepe, que trabalha com jovens em bairros carentes.

Com os olhos vermelhos pelo choro, a jovem admite: "Tê-lo tão perto e deixá-lo escapar dá muita raiva e indignação".

As mais veteranas recomendavam que as manifestantes se afastassem da zona para evitar violência e não caíssem em provocações. Momentos mais tarde, perto do Congresso, houve distúrbios e oito pessoas foram detidas.

"Nós ganhamos um milhão e meio de jovens, e se os senadores votam contra a lei, seremos nós que passaremos à história. Se não for lei amanhã, será no ano que vem", havia dito mais cedo a advogada Nelly Minyersky, de 89 anos, uma das líderes históricas da Campanha Nacional pelo Aborto Legal, Seguro e Gratuito.

Vigília verde

Desde muito cedo os arredores do Congresso foram se enchendo de mulheres com seus lenços verdes, seus rostos pintados, perucas e vestimentas. Tudo era verde.

"Aborto legal, no hospital", entoaram uma e outra vez ao longo do dia em uma vigília maciça, quando ainda tinham esperanças de que a aguardada lei fosse aprovada.

As mais jovens puseram paixão à manifestação. "Abaixo o patriarcado, vão cair. Acima o feminismo que vai vencer", cantaram.

"Isto não é aborto sim, ou aborto não. É aborto legal ou aborto clandestino", afirmou Adriana Saucedo, de 57 anos, citando um dos lemas da Campanha.

Segundo dados de ONGs, cerca de 500.000 abortos clandestinos são realizados por ano na Argentina, e por essa causa morrem uma centena de mulheres, um quarto delas menores de 25 anos.

O lado azul da vida

"Ficou comprovado que a Argentina é, foi e será pró-vida para sempre, estamos aqui para defender a vida, para defender o bebê", entusiasmou-se Mariana Rodríguez Varela, após a votação.

Era uma das milhares que esperaram do lado azul, defensor das "duas vidas" - mãe e filho -, com a tranquilidade de quem se sente vencedor.

Os lenços azuis se misturavam com bandeiras argentinas, com muito mais homens entre os manifestantes, além de cruzes, terços e orações.

"Estamos felizes porque é uma festa da democracia, do federalismo, do triunfo das duas vidas", concluiu Ayelén Caffarena.

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