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Após seis meses caóticos, é possível salvar o governo Trump?

Poucos presidentes causaram tanta indignação ou enfrentaram tantas crises nos primeiros meses de governo quanto o republicano

Donald Trump: todos os presidentes americanos enfrentam crises que parecem ameaçar a estabilidade da Casa Branca (Donald Trump/Divulgação)
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AFP

Publicado em 19 de julho de 2017 às 15h00.

Os primeiros seis meses do republicano Donald Trump na Casa Branca foram marcados por um redemoinho de escândalos, caos e indignação, que pode levar a uma condenação de seu governo, caso não haja uma significativa mudança de rumo.

Todos os presidentes americanos enfrentam crises que parecem ameaçar a estabilidade da Casa Branca.

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Abraham Lincoln teve de enfrentar uma sangrenta Guerra Civil. Bill Clinton foi humilhado por escandalosas investigações. Barack Obama precisou de cinco meses para conter um devastador derramamento de petróleo e bem mais tempo do que isso para melhorar a economia.

Poucos presidentes causaram tanta indignação, ou enfrentaram tantas crises nos primeiros meses de governo, quanto Donald Trump.

"Ser consumido por escândalos desde o primeiro dia não é bom. Não aprovar nenhuma legislação importante não é bom. Ter níveis de aprovação tão baixos com potencial para baixas republicanas... Tudo isso não é o que você espera", comentou o professor de História Julian Zelizer, da Universidade de Princeton.

Trump tomou posse em 20 de janeiro, declarando que Washington estava falida e que apenas um empresário agressivo como ele poderia corrigir esse quadro. Essa promessa parece ter-se desintegrado.

A Casa Branca continua com poucos funcionários, contando com um quadro pouco qualificado e lutando para atrair novos talentos. Quem já se encontra lá admite estar esgotado e desmoralizado.

A agenda política de Trump foi destruída: o "muro" fronteiriço não saiu do papel, o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, na sigla em inglês) não foi anulado, o acordo nuclear com o Irã resiste, e o "Obamacare" continua em vigor.

Mesmo com seu partido controlando ambas as câmaras do Congresso, o influente Drudge Report declarou que este é o "CONGRESSO MAIS IMPRODUTIVO EM 164 ANOS".

Em seu discurso, Trump parece continuar em campanha, brigando com a imprensa, com o Poder Judiciário, com seu próprio partido, com os democratas e com o ex-diretor do FBI James Comey, demitido por ele.

Um vazamento insistente de provas reforça e amplifica as acusações de que sua família e seus assessores diretos buscaram ajuda da Rússia para acabar com a campanha de sua rival e então candidata democrata, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

Nesse conjunto de más notícias, também há pontos a favor: o grupo Estado Islâmico foi virtualmente derrotado em Mossul, no Iraque, e Raqa, capital do chamado "califado" do EI na Síria, está sitiada. Além disso, Trump cumpriu sua promessa de sair da Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) e nomeou, com sucesso, o juiz conservador Neil Gorsuch para a Suprema Corte.

Foram poucas vitórias, porém.

"Não vejo esses seis meses como um sucesso e me é difícil ver o argumento de que foi", acrescentou Zelizer.

Ainda há tempo

Ainda assim, os presidentes podem corrigir o rumo. O primeiro mandato de Bill Clinton foi sabidamente difícil e, assim como Trump, sofreu uma precoce e embaraçosa derrota legislativa em matéria de saúde.

"A história está cheia de exemplos de presidentes que aprendem com seus erros e passam a ter grandes êxitos legislativos", disse Alex Conant, estrategista republicano da Firehouse Strategies, que trabalhou no governo de George W. Bush.

"Em última análise, os presidentes são julgados pelo que fazem, e (Trump) tem apenas seis meses de vida. Ainda há tempo para que faça muito. Ainda pode chegar a ser um presidente bem-sucedido", acrescentou.

Para isso, seria necessário fazer mudanças, admite Conant.

"Meia dúzia de reuniões com senadores e um punhado de tuítes não vão conseguir algo tão polêmico quanto a reforma da saúde", exemplificou.

O estrategista insiste em que Trump ainda tem tempo e algumas das habilidades necessárias para garantir vitórias políticas - desde que esteja disposto a mudar o tom.

"Durante toda sua vida, foi um bom vendedor e, durante a campanha, fez um trabalho incrível, energizando a base conservadora", avaliou Conant.

"Essas são as habilidades que ele precisa aplicar agora no governo", ensinou.

Seu pior inimigo?

Para analistas, entretanto, Trump pode ser o pior inimigo de seu governo.

"Muitos dos problemas que enfrenta são ele mesmo, e não vai mudar sua personalidade", comentou Zelizer.

Segundo o prefeito democrata de Charlottesville e professor da Universidade da Virgínia, Michael Signer, para Trump, "o caminho para a legitimidade seria abraçar nossas normas tradicionais e nosso sistema de pesos e contrapesos".

Se nada mudar, os níveis de aprovação de Trump - historicamente baixos, em 40% - podem servir como um indício do que acontecerá nas urnas nas eleições de meio mandato de 2018.

"Se os democratas se fortalecerem em tamanho, ou se ganharem poder em uma, ou em ambas as Câmaras, então o presidente estará com problemas", advertiu Zelizer, referindo-se ao Senado e à Câmara de Representantes.

"Quanto mais encurralado se sentir, menos diplomáticas suas respostas serão. Vai ficar irritado, atacará seus agressores. Não acho que ficará mais tranquilo no Salão Oval. Acho que, à medida que as coisas se intensificarem, vai ficar muito mais complicado", vaticinou.

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