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Após 50 anos da morte de Luther King, desigualdade racial persiste nos EUA

O ativista e símbolo da luta por direitos civis nos EUA, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1964, foi assassinado 1968 aos 39 anos

A luta por igualdade racial defendida por Martin Luther King continua atual (Keystone/Getty Images/Getty Images)

A luta por igualdade racial defendida por Martin Luther King continua atual (Keystone/Getty Images/Getty Images)

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AFP

Publicado em 2 de abril de 2018 às 10h43.

Última atualização em 2 de abril de 2018 às 10h48.

Ao final de sua vida, Martin Luther King Jr. lamentou que seu sonho tenha "se transformado em um pesadelo".

Quando um disparo acabou com sua vida enquanto estava na varanda de um motel em Memphis, Tennessee, em 4 de abril de 1968, o ícone da luta pacífica pelos direitos civis nos Estados Unidos era, com 39 anos, um homem esgotado.

Era também uma figura controversa, diferente do que se celebra hoje em dia com um feriado nacional nos EUA e com um imponente monumento de granito em Washington.

"Ficou congelado no tempo, não como o homem que era em 1968, mas por sua imagem em agosto de 1963, quando fez seu discurso de 'Eu tenho um sonho'", comenta David Farber, professor de História da Universidade de Kansas.

"É fácil para os americanos se esquecerem do quão polarizadora era a figura de King na década de 1960", assegura.

"Ele se transformou em uma figura realmente radical nos Estados Unidos, um oponente declarado da política externa americana, que exigia justiça não somente para os afro-americanos como para todos os pobres americanos", agrega.

Um momento crucial foi o discurso feito em abril de 1967 em Nova York contra a guerra do Vietnã, ano em que morreram mais de 11 mil soldados americanos.

"King enfureceu todo o movimento de direitos civis, o governo e boa parte da estrutura política quando se manifestou contra a guerra do Vietnã", explica Henry Louis Taylor Jr., diretor do Centro de Estudos Urbanos da Universidade de Búfalo.

David Garrow, autor do livro "Bearing the Cross" sobre King, disse que sua oposição à guerra foi vista como "extremista" em um momento em que o sentimento contra a guerra não era "muito popular".

Além dos direitos civis

No momento de seu assassinato por James Earl Ray, um homem branco com ideias racistas, King estava há décadas sob a constante vigilância do FBI, que o havia classificado como o homem "mais perigoso" do país.

Sua defesa da não violência como forma de promover mudanças estava sendo desafiada por uma nova geração de ativistas negros mais impacientes.

"Nos últimos 12 meses de sua vida, King estava muito esgotado, muito pessimista, muito deprimido", disse Garrow. "Disse, uma dezena de vezes ou mais, em seus últimos dois anos: 'O sonho que tive em Washington em 1963 se transformou em um pesadelo'".

"Quanto ódio, quanta oposição ele enfrentou, e como parte disso chegou em forma de uma violência horrível", afirma a professora de Ciência Política Jeanne Theoharis, da CUNY Brooklyn College e autora de "A More Beautiful and Terrible History", sobre a história dos direitos civis nos Estados Unidos.

A 50 anos de sua morte, a visão de igualdade racial que King reivindicou na escadaria do Lincoln Memorial continua a gerar debate.

Jason Sokol, professor de História da Universidade de New Hampshire, diz que, nesses anos, houve alguns avanços para os afro-americanos, com a vitória de Barack Obama em 2008, tornando-se o primeiro presidente negro do país.

No entanto, as desigualdades raciais persistem, "especialmente em torno da pobreza negra, da taxa de encarceramento e da brutalidade policial", opina Sokol, que também publicou um livro sobre o legado de King, "The Heavens Might Crack".

Taylor, professor da Universidade de Búfalo, destaca que, no momento de sua morte, as ambições de King "revelam o campo dos direitos civis apontando mais para os direitos humanos".

"King imaginava que outro mundo era possível, fundamentando-se na justiça econômica, política e racial, coisas relacionadas com a educação de qualidade, a moradia decente, bons trabalhos", explica.

"Realmente não progredimos muito nos últimos 50 anos na realização de seu sonho", assegura.

"Embora tenha havido mudanças nas atitudes raciais individuais, o racismo incorporado nas instituições e nas estruturas dos Estados Unidos não mudou muito", completou.

Seu legado

O legado de King pode ser notado de muitas formas.

"Em seu discurso de aceitação do prêmio Nobel em 1964, King disse que o movimento pelos direitos civis era o maior movimento de libertação da história da humanidade", lembra Taylor Branch, autor de uma trilogia sobre a sua vida: "America in the King Years".

"Ele se referia ao mundo inteiro, e não somente aos negros", afirmou.

E, "em muitos sentidos, teve mais sucesso do que poderia imaginar", disse Branch, mencionando o casamento entre pessoas do mesmo sexo, um presidente negro nos Estados Unidos e os direitos das mulheres.

O legado de King também aparece no movimento "Black Lives Matter" (Vidas negras importam) contra a violência policial e em outros como o que convocou recentemente a Marcha por Nossas Vidas, em que milhões de jovens foram às ruas para exigir leis mais duras para o uso de armas, lembra o autor.

"Sou muito otimista de que há ali uma nova geração que está retomando a noção dos sonhos de King", disse.

Um dos participantes da marcha foi a neta de King, Yolanda Renee, de 9 anos, que lembrou as palavras mais famosas de seu avô à multidão.

"Tenho um sonho de que já basta", declarou a pequena Yolanda. "E de que este deve ser um mundo livre de armas, ponto".

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