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América Latina tem longa lista de asilados e exilados

Praticamente não há um país da América Latina que não tenha histórico de asilados

Simpatizantes de Julian Assange: o caso de Assange, que está na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho, tem atualmente sua réplica latino-americana (Carl Court/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2012 às 19h30.

Bogotá - O asilo concedido a Julian Assange no Equador é uma mostra a mais do apego na América Latina dessa instituição e outras como o exílio, que beneficiaram, entre outros, o Xá da Pérsia e o ex-líder germânico-oriental Erich Honecker, embora os maiores beneficiados sejam os próprios latino-americanos.

Inclusive, o caso de Assange, que está na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho, tem atualmente sua réplica latino-americana.

O senador de oposição boliviano Roger Pinto, que está na embaixada do Brasil em La Paz há 81 dias, já obteve o asilo, mas o governo boliviano não lhe entrega o salvo-conduto necessário para abandonar a embaixada e viajar para o Brasil.

O governo britânico também não está disposto a deixar o caminho livre para Assange com a entrega de um salvo-conduto, segundo disse hoje o ministro de Relações Exteriores, William Hague, que destacou que a principal obrigação legal do Reino Unido é entregá-lo à Suécia, onde o acusam de abusos sexuais.

''A falta de convenção internacional ou de legislação interna dos Estados não pode ser alegada legitimamente para limitar, menosprezar ou negar o direito ao asilo'', sentenciou o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, ao anunciar nesta quinta-feira a medida a favor de Assange, que através do site Wikileaks divulgou milhares de documentos oficiais secretos, principalmente dos Estados Unidos.

Tanto a Suécia como o Reino Unido criticaram a decisão equatoriana, algo quase da mesma natureza que o asilo político.

Nenhum governo aceita de bom grado que outro conceda asilo a um de seus cidadãos, pois isso implicaria reconhecer que há perseguição ou falta de garantias, mas mesmo assim o asilo segue muito vigente e respeitado na América Latina, hoje uma região eminentemente democrática mas com um passado cheio de turbulências políticas.


No caso de Roger Pinto, por exemplo, o Executivo da Bolívia tachou a decisão do Brasil de oferecer-lhe asilo de ''tola'' e ''equivocada'', por haver denúncias contra o senador por supostos atos de corrupção.

Praticamente não há um país da América Latina que não tenha histórico de asilados.

No Brasil, o caso mais polêmico dos últimos tempos foi o do italiano Cesare Battisti, ex-ativista de um grupo ligado às Brigadas Vermelhas, que foi condenado em seu país por quatro assassinatos e recebeu o status de ''asilado político'' em 2010.

No entanto, o mais notório dos asilados no Brasil foi o general paraguaio Alfredo Stroessner, que viveu em Brasília desde 1989 e morreu na capital exatamente há seis anos.

O Brasil também acolheu como asilados outros paraguaios, como o ex-presidente Raúl Cubas e o ex-general Lino César Oviedo, assim como o ex-presidente equatoriano Lúcio Gutiérrez.

O asilado mais significativo da Colômbia atualmente é o empresário e político venezuelano Pedro Carmona Estanga, que foi chefe de Estado de seu país por pouco mais de um dia após o golpe cívico-militar de 11 de abril de 2002 contra Hugo Chávez e se refugiou na embaixada colombiana em Caracas.

No passado, houve dois casos de importância, os dos peruanos Víctor Raúl Haja de la Torre e Alan García, ambos do partido Aliança Popular Revolucionária Peruana (Apra).


A Costa Rica é outro destino de asilos. Um dos beneficiados foi o ex-vice-presidente equatoriano Alberto Dahik (1992-1995), acusado de corrupção na manipulação de ''despesas reservadas''.

O atual Governo da Nicarágua concedeu asilo político pelo menos a quatro pessoas vinculadas às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a três líderes indígenas peruanos, e ainda credenciou o ex-primeiro-ministro da Tailândia Thaksin Shinawatra, deposto por militares em 2006, como embaixador de investimento em missão especial com passaporte diplomático.

O ex-ministro do Interior do Paraguai Sabino Montanaro permaneceu em Tegucigalpa desde 1989 a 2009 em asilo, e o ex-chefe da Polícia do Haiti, coronel Joseph Michel François, o recebeu há 16 anos e atualmente reside em San Pedro Sula.

Entre os asilados atualmente no Panamá está a ex-diretora de inteligência colombiana María do Pilar Hurtado, objeto de um processo por espionagem na Colômbia, o que gerou atritos entre ambos os países.

Outro asilo que foi ''incômodo'' no passado foi o do Xá do Irã Mohammed Reza Pahlevi, que viveu em Isla Contadora em 1979 e 1980.

O asilo, que foi pedido pelos EUA ao Panamá, provocou uma série de violentos protestos da oposição contra o governo que liderava naquela época o general Omar Torrijos.

Também se encontram no Panamá em qualidade de asilados os ex-presidentes da Guatemala Jorge Serrano Elías (1990-1993) e do Equador Abdullah Bucaram (1996-1997), além do ex-general golpista haitiano Raoul Cedrás (1991-1994).


No Paraguai está refugiado o ex-governador boliviano Mario Cossío, que se declara perseguido político em seu país e que é requerido pela Justiça da Bolívia acusado de corrupção.

Na Argentina está na mesma situação o ex-guerrilheiro chileno Sergio Galvarino Apablaza, acusado em seu país de ter participado do assassinato do senador direitista Jaime Guzmán em 1991.

No Chile, o último líder da Alemanha do Leste, Erich Honecker viveu seus últimos anos depois de fugir de seu país em 1991 e se refugiar com sua esposa Margot na embaixada chilena em Moscou, que os aceitou como ''hóspedes'', o que gerou uma grave crise entre Alemanha, Rússia e Chile, e terminou com sua saída da legação em 1992 e sua mudança à Alemanha para ser julgado.

O processo não foi concluído devido a problemas de saúde e as autoridades o autorizaram a ir a Santiago do Chile, onde foi recebido como refugiado por razões humanitárias e morreu em 1994.

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Bogotá - O asilo concedido a Julian Assange no Equador é uma mostra a mais do apego na América Latina dessa instituição e outras como o exílio, que beneficiaram, entre outros, o Xá da Pérsia e o ex-líder germânico-oriental Erich Honecker, embora os maiores beneficiados sejam os próprios latino-americanos.

Inclusive, o caso de Assange, que está na embaixada do Equador em Londres desde 19 de junho, tem atualmente sua réplica latino-americana.

O senador de oposição boliviano Roger Pinto, que está na embaixada do Brasil em La Paz há 81 dias, já obteve o asilo, mas o governo boliviano não lhe entrega o salvo-conduto necessário para abandonar a embaixada e viajar para o Brasil.

O governo britânico também não está disposto a deixar o caminho livre para Assange com a entrega de um salvo-conduto, segundo disse hoje o ministro de Relações Exteriores, William Hague, que destacou que a principal obrigação legal do Reino Unido é entregá-lo à Suécia, onde o acusam de abusos sexuais.

''A falta de convenção internacional ou de legislação interna dos Estados não pode ser alegada legitimamente para limitar, menosprezar ou negar o direito ao asilo'', sentenciou o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, ao anunciar nesta quinta-feira a medida a favor de Assange, que através do site Wikileaks divulgou milhares de documentos oficiais secretos, principalmente dos Estados Unidos.

Tanto a Suécia como o Reino Unido criticaram a decisão equatoriana, algo quase da mesma natureza que o asilo político.

Nenhum governo aceita de bom grado que outro conceda asilo a um de seus cidadãos, pois isso implicaria reconhecer que há perseguição ou falta de garantias, mas mesmo assim o asilo segue muito vigente e respeitado na América Latina, hoje uma região eminentemente democrática mas com um passado cheio de turbulências políticas.


No caso de Roger Pinto, por exemplo, o Executivo da Bolívia tachou a decisão do Brasil de oferecer-lhe asilo de ''tola'' e ''equivocada'', por haver denúncias contra o senador por supostos atos de corrupção.

Praticamente não há um país da América Latina que não tenha histórico de asilados.

No Brasil, o caso mais polêmico dos últimos tempos foi o do italiano Cesare Battisti, ex-ativista de um grupo ligado às Brigadas Vermelhas, que foi condenado em seu país por quatro assassinatos e recebeu o status de ''asilado político'' em 2010.

No entanto, o mais notório dos asilados no Brasil foi o general paraguaio Alfredo Stroessner, que viveu em Brasília desde 1989 e morreu na capital exatamente há seis anos.

O Brasil também acolheu como asilados outros paraguaios, como o ex-presidente Raúl Cubas e o ex-general Lino César Oviedo, assim como o ex-presidente equatoriano Lúcio Gutiérrez.

O asilado mais significativo da Colômbia atualmente é o empresário e político venezuelano Pedro Carmona Estanga, que foi chefe de Estado de seu país por pouco mais de um dia após o golpe cívico-militar de 11 de abril de 2002 contra Hugo Chávez e se refugiou na embaixada colombiana em Caracas.

No passado, houve dois casos de importância, os dos peruanos Víctor Raúl Haja de la Torre e Alan García, ambos do partido Aliança Popular Revolucionária Peruana (Apra).


A Costa Rica é outro destino de asilos. Um dos beneficiados foi o ex-vice-presidente equatoriano Alberto Dahik (1992-1995), acusado de corrupção na manipulação de ''despesas reservadas''.

O atual Governo da Nicarágua concedeu asilo político pelo menos a quatro pessoas vinculadas às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e a três líderes indígenas peruanos, e ainda credenciou o ex-primeiro-ministro da Tailândia Thaksin Shinawatra, deposto por militares em 2006, como embaixador de investimento em missão especial com passaporte diplomático.

O ex-ministro do Interior do Paraguai Sabino Montanaro permaneceu em Tegucigalpa desde 1989 a 2009 em asilo, e o ex-chefe da Polícia do Haiti, coronel Joseph Michel François, o recebeu há 16 anos e atualmente reside em San Pedro Sula.

Entre os asilados atualmente no Panamá está a ex-diretora de inteligência colombiana María do Pilar Hurtado, objeto de um processo por espionagem na Colômbia, o que gerou atritos entre ambos os países.

Outro asilo que foi ''incômodo'' no passado foi o do Xá do Irã Mohammed Reza Pahlevi, que viveu em Isla Contadora em 1979 e 1980.

O asilo, que foi pedido pelos EUA ao Panamá, provocou uma série de violentos protestos da oposição contra o governo que liderava naquela época o general Omar Torrijos.

Também se encontram no Panamá em qualidade de asilados os ex-presidentes da Guatemala Jorge Serrano Elías (1990-1993) e do Equador Abdullah Bucaram (1996-1997), além do ex-general golpista haitiano Raoul Cedrás (1991-1994).


No Paraguai está refugiado o ex-governador boliviano Mario Cossío, que se declara perseguido político em seu país e que é requerido pela Justiça da Bolívia acusado de corrupção.

Na Argentina está na mesma situação o ex-guerrilheiro chileno Sergio Galvarino Apablaza, acusado em seu país de ter participado do assassinato do senador direitista Jaime Guzmán em 1991.

No Chile, o último líder da Alemanha do Leste, Erich Honecker viveu seus últimos anos depois de fugir de seu país em 1991 e se refugiar com sua esposa Margot na embaixada chilena em Moscou, que os aceitou como ''hóspedes'', o que gerou uma grave crise entre Alemanha, Rússia e Chile, e terminou com sua saída da legação em 1992 e sua mudança à Alemanha para ser julgado.

O processo não foi concluído devido a problemas de saúde e as autoridades o autorizaram a ir a Santiago do Chile, onde foi recebido como refugiado por razões humanitárias e morreu em 1994.

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