América Latina unificou sua voz durante uma reunião da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) realizada nesta terça-feira, em Montevidéu (Matt Rubens/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2011 às 18h08.
Montevidéu - A América Latina unificou sua voz para reivindicar maior participação da região nos esforços de combate à crise econômica mundial nas negociações do Grupo dos 20 (G20), bloco em que é representada por Brasil, Argentina e México, durante uma reunião da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi) realizada nesta terça-feira, em Montevidéu.
As cinzas do vulcão chileno que voltaram a prejudicar o espaço aéreo do Cone Sul impediram a chegada do delegado brasileiro, mas os discursos dos presentes evidenciaram uma grande convergência de posturas sobre o relativo êxito da região em enfrentar a crise.
O alto representante-geral do Mercosul, o diplomata brasileiro Samuel Pinheiro Guimarães, chegou a pedir que a Aladi represente a América Latina na cúpula do G20, que será realizada em Cannes (França) nos dias 3 e 4 de novembro.
A proposta, realizada num dos discursos finais, quando alguns delegados já haviam abandonado a sala, não teve resposta em forma de declaração. Sediada em Montevidéu, a Aladi é composta por Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Chile, Cuba, Equador, México, Paraguai, Peru, Venezuela e Uruguai.
Em discurso, Guimarães afirmou que a França, como atual presidente do G20, convidou Espanha, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Cingapura e Guiné Equatorial para participar da cúpula. Segundo ele, a Aladi deve ser representada no encontro por seu secretário-geral, o ex-vice-presidente argentino Carlos "Chacho" Álvarez.
Na abertura da reunião, o secretário-geral da Aladi definiu o encontro como "um exercício de debate" para que, "em um futuro não tão distante, a América Latina talvez possa ter uma só voz nos grandes eventos internacionais".
Ele advertiu ainda que a atual crise econômica mundial consiste em uma "crise de paradigma" que, pela primeira vez, não atinge a América Latina. "(A região) pode chegar a ser um ator em um mundo que se configura cada vez mais por regiões".
A secretária-geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), María Emma Mejía, assinalou que a América Latina pode ajudar a Europa a sair da crise da dívida com suas experiências passadas.
No entanto, ela alertou sobre a necessidade de maior sintonia entre organismos regionais como Aladi, Cepal e Mercosul para se ter um "plano B", caso que os efeitos da crise cheguem à região.
Além de Mejía, o vice-presidente do Uruguai, Danilo Astori, o ministro da Economia do país, Fernando Lorenzo, e representantes dos governos do Equador, Colômbia, Venezuela, Chile, Paraguai e Bolívia, entre outros, também expressaram satisfação com a força demonstrada por seus países frente à crise, mas lembraram a necessidade de não baixar a guarda.
O chanceler argentino, Héctor Timerman, manifestou o interesse de seu país em "somar as vozes da região para enriquecer o debate", mas em nenhum momento mencionou a possibilidade de exercer em Cannes a representação formal da América Latina, algo que também não fizeram os delegados do Brasil e México, os três países da região pertencentes ao G20.
Timerman anunciou que a Argentina apoiará a proposta da França e Alemanha de taxar as transações financeiras internacionais, um dos temas candentes da reunião do G20, embora sob algumas condições.
O ministro pediu também mais esforços para "corrigir a especulação" nos mercados financeiros e criticou as agências de classificação de risco creditício e os paraísos fiscais.
Em mensagem lida na sala, o representante da presidente Dilma Rousseff no G20, Valdemar Carneiro Leão, reivindicou ao grupo de potências mundiais mais capacidade de adaptação às turbulências da crise econômica internacional.
O diplomata brasileiro citou como exemplo a situação da dívida grega e a necessidade de recapitalização dos bancos europeus.
Já o representante especial do México para o G20, Roberto Marino, afirmou que seu país tentará dar prioridade aos assuntos que afetam o mundo em desenvolvimento e a América Latina, em particular, quando assumir a Presidência do grupo em 2012.
Sobre a cúpula de Cannes, ele ressaltou a necessidade de um consenso das potências para resolver a crise. "É muito importante que os líderes do G20 trabalhem para restabelecer a confiança de cidadãos e investidores, chegando a soluções cooperativas e duráveis à crise da dívida soberana".
Embora tenha surgido em 1999 como uma reunião de ministros de Economia, em 2008 o G20 adquiriu um caráter mais político ao congregar em Washington os presidentes dos principais países desenvolvidos e em desenvolvimento, num contexto marcado pelo auge da crise econômica global.