Local de atentado no Afeganistão: facção Haqqani é ligada ao Taleban (AFP/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de novembro de 2014 às 12h24.
Cabul - O Afeganistão continua investigando nesta segunda-feira o ataque cometido ontem durante uma partida de vôlei, que deixou 60 pessoas mortas, e o serviço secreto do país (NDS) acusou a rede Haqqani pela ação.
Nenhum grupo insurgente assumiu até agora a autoria do ataque, algo incomum no Afeganistão, já que os vários ataques ocorridos no país costumam ser reivindicados pelos talebans. Hoje, no entanto, as autoridades acusaram um destes grupos diretamente.
"A Rede Haqqani está por trás do ataque suicida que matou e feriu uma centena de civis", publicou a NDS em sua conta no Twitter.
O serviço de inteligência, em comunicado posterior, responsabilizou pelo atentado dois importantes membros da rede, Qari Omari e o mulá Rahimula, também conhecido como mulá Kabir, que vive na zona do massacre.
Ambos são liderados pelo comandante insurgente Abdullah Bilal, considerado "governador na sombra" das zonas onde a insurgência atua na província onde aconteceu o ataque, segundo a NDS.
O ataque foi cometido no domingo por um suicida, chamado Ismail, que detonou as bombas que carregava em um ginásio onde era disputada a final de um torneio de vôlei local em Yahya Khel, na província de Paktika, no sudeste afegão.
A facção Haqqani, ligada aos talebans afegãos mas com certa autonomia, controla amplas zonas do sudeste do Afeganistão, principalmente nas províncias de Paktia, Paktika e Khost, embora alguns analistas acreditam que seus principais dirigentes mantenham suas bases nas áreas tribais paquistaneses.
Os Estados Unidos incluíram em 2012 em sua lista negra de organizações terroristas este grupo, responsável por alguns dos ataques mais sangrentos contra as tropas aliadas no Afeganistão.
A NDS acusa o grupo pelo ataque mais violento cometido neste ano no país asiático, também em Paktika, que terminou com um saldo de 42 mortos.
Hoje, dois soldados da Isaf morreram em um ataque insurgente no leste do país, informou à Agência Efe um porta-voz da Aliança Atlântica, o que eleva o número de membros da Otan mortos neste ano no Afeganistão para 69, 50 deles americanos.
Enquanto o governo investiga o atentado, o número de vítimas fatais no ataque de ontem aumentou hoje para 60, após vários feridos morrerem nos hospitais durante a noite, disse à Efe o governador adjunto de Paktika, Attaullah Fazli.
Além disso, 66 pessoas continuam internadas, 54 delas em um centro militar em Cabul, para onde foram transferidos na noite passada, e 12 em Paktika, disse em entrevista coletiva o chefe do Departamento de Saúde do Ministério da Defesa, Abdul Razaq Seyawash.
O funcionário afirmou que 12 feridos se encontram em estado crítico e que 19 pessoas foram operadas desde ontem.
O ataque, um dos piores no país asiático em meses, foi condenado pelas autoridades afegãs e organismos internacionais, entre elas a Missão das Nações Unidas no Afeganistão (Unama).
"Este ataque indiscriminado em uma área repleta de civis demonstra o desprezo pelas vidas de civis", afirmou hoje em comunicado o representante especial adjunto da ONU para o Afeganistão, Nicholas Haysom.
O presidente afegão, Ashraf Gani, qualificou o atentado de "ato desumano" e "injustificável em qualquer religião ou cultura".
Horas antes do ataque, a câmara baixa do parlamento afegão tinha aprovado por maioria um acordo com os Estados Unidos e a ONU que prolonga a presença de tropas americanas no Afeganistão até 2024.
A Isaf, cuja intervenção começou em 2001, após a invasão que derrubou o regime taleban, concluirá sua missão em dezembro, mas a Otan, os EUA e o governo afegão chegaram a um acordo para manter no Afeganistão cerca de 12.500 militares a partir de 2015 (cerca de 9.800 americanos).
As Forças Armadas afegãs assumiram o comando da luta contra os insurgentes em junho diante do fim da missão da Isaf em um clima de contínua violência.