Acordo com Mercosul, o elefante na sala da cúpula UE-Celac
Negociações se arrastam desde 1999 e, apesar de um anúncio sobre um princípio de entendimento, diplomatas tentam superar obstáculos
Agência de notícias
Publicado em 16 de julho de 2023 às 15h14.
A União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac ) realizarão, na segunda e terça-feira (17 e 18), uma reunião de cúpula em Bruxelas sob a sombra de um tema de difícil solução: o acordo comercial entre obloco europeue oMercosul.
A cúpula de Bruxelas não vai se concentrar especificamente no acordo entre UE e Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), já que está destinada às relações políticas entre o bloco europeu e o grupo de 33 nações da Celac.
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Contudo, embora as negociações envolvam apenas quatro dos 33 países da Celac, a cúpula era vista como o palco ideal para que UE e Mercosul finalmente consagrassem o acordo, uma possibilidade que agora parece cada vez mais distante.
Estagnação das conversas
A Espanha, que assumiu a presidência rotativa do Conselho da UE em 1º de julho, insistiu em que a reaproximação com os países da Celac era uma prioridade, e esperava que a cúpula de Bruxelas fosse o marco para um anúncio.
Porém, diante do estagnação das conversas e da perspectiva real de que um acordo ainda está longe, um alto diplomata espanhol advertiu que a reunião de Bruxelas "será uma cúpula política, e não uma cúpula de negociação".
Para o embaixador Gustavo Pandiani, Subsecretário para Assuntos de América Latina da chancelaria argentina, a reunião de Bruxelas será sobre "consultas e diálogo político, sobre grandes linhas políticas". "Não vamos falar de tarifas", frisou.
"Alguém anunciou há quatro anos que tínhamos um acordo, e agora seguimos discutindo o mesmo. Então, é provável que não tivéssemos um acordo naquela época", ressaltou.
Por isso, ao ser consultado sobre o que o seu país esperava desta cúpula em relação ao acordo, Pandiani disse que "não muito, porque a cúpula não é o lugar para negociar comércio, mas um fórum político".
Na França, uma fonte do Ministério da Economia assinalou que "a posição do país é clara: estamos à espera de garantias, sobretudo em matéria ambiental [...] Por ora, não sentimos que haja muito progresso neste tema".
Idas e vindas
Em junho de 2019, durante uma reunião do G20 em Osaka, no Japão, UE e Mercosul anunciaram um princípio de acordo, em meio ao alívio generalizado depois de 20 anos de negociações.
Entretanto, as dificuldades não demoraram a aparecer, e o processo voltou a ficar travado.
O primeiro alarme soou com a gestão do então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, sobre o meio ambiente em geral e sobre a floresta amazônica em particular.
Além disso, em 2020, a UE adotou seu Pacto Verde, um estrito e ambicioso conjunto de regras para atingir a neutralidade de carbono até 2050.
Nesse contexto, diversos países europeus passaram a exigir que a UE incorporasse um capítulo especial sobre proteção ambiental no acordo, para impedir a promoção do desmatamento no Mercosul em benefício da exportação de produtos agrícolas.
Proposta mal recebida
Depois de numerosas idas e vindas, a UE apresentou ao Mercosul, em março deste ano, um conjunto de propostas para esse instrumento adicional sobre compromissos ambientais.
Não obstante, a proposta foi mal recebida, especialmente pelo Brasil, por considerar que transformava metas voluntárias em vinculantes à luz de pactos internacionais, e expunha o país a sanções em caso de descumprimento.
As partes agendaram uma reunião para o dia 26 de junho para discutir a contraproposta do Mercosul. Contudo, depois de alguns atrasos, o compromisso acabou sendo cancelado.
O Brasil anunciou que está finalizando os detalhes de sua contraproposta, que ainda deverá ser discutida com os parceiros do Mercosul antes de ser apresentada à UE.