Emmanuel Macron, presidente da França: debate sobre critérios de credibilidade reacende disputa por autoridade no ecossistema de mídia (AFP)
Estrategista de Comunicação
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 16h26.
Última atualização em 4 de dezembro de 2025 às 16h31.
A França vive um episódio que, à primeira vista, parece política pura. Mas basta girar a lente um grau para perceber: o que está em jogo não é governo. É marca.
Dias atrás, o presidente Emmanuel Macron defendeu que “jornalistas estabeleçam critérios para distinguir plataformas confiáveis daquelas que espalham conteúdo de origem duvidosa”.
A reação foi imediata. Veículos ligados ao grupo Bolloré, críticos vorazes da gestão Macron, classificaram a ideia como uma “deriva autoritária”. Parlamentares como Jordan Bardella, da extrema direita, afirmaram que o projeto “lembra o anúncio de um eventual Ministério da Verdade”.
O objetivo declarado é conter desinformação, assédio e interferências estrangeiras. E a urgência existe: o Observatório Europeu de Mídia Digital registrou aumento de 60% em operações de manipulação direcionadas a cidadãos europeus.
Mas, por trás do ruído político, esse iceberg titânico abre “oficialmente” um novo capítulo na disputa global pela administração da confiança.
No centro da história não está o governo francês, nem a oposição, nem os controladores das grandes plataformas. O ponto central é outro: uma pergunta que define o jogo da comunicação contemporânea – “Quem controla a credibilidade?”
O mundo vive uma epidemia de desinformação que afeta diretamente o comportamento do consumidor. Além do avanço das campanhas coordenadas citadas acima, casos de assédio envolvendo jovens nas redes cresceram 37% somente na França no último ano, de acordo com dados divulgados pelo Ouest-France.
O consumidor de mídia está exposto, vulnerável e desconfiado.
Portanto, a ruptura não é sobre política. É sobre mercado.
Quando um presidente afirma que jornalistas devem decidir “quais redes são sérias”, ele inaugura, na prática, uma competição explícita por autoridade. Quem certifica quem? E quem concede a licença para certificar? A discussão deixa de ser institucional e se torna estratégica. Plataformas, veículos, anunciantes e criadores passam a ser diretamente afetados.
Marcas e pessoas-marca entendem que ninguém mais compra reputação pronta. Reputação é conquistada diariamente e perde valor quando intermediários tentam defini-la de fora para dentro.
Na França, o cenário desde o fim de semana é de tensão crescente. Enquanto grupos de mídia defendem seus territórios dizendo que novas regras podem restringir o pluralismo, plataformas alegam que governos buscam controlar a conversa pública. Políticos, por sua vez, insistem que apenas tentam reduzir danos digitais.
Cada ator defende seu quinhão de autoridade e o consumidor observa tudo sem ter como intervir.
É aqui que o marketing entra com mensagens claras como a luz do dia.
A batalha não gira em torno da liberdade de imprensa. Gira em torno do mercado invisível da confiança. E esse mercado, mais do que nunca, tem um novo produto premium: a verdade percebida.
Neste ambiente, não basta comunicar. É preciso provar. Todos os dias.