Um escravo ajudou a criar o famoso uísque Jack Daniel's
Marca começa a mudar sua história de 150 anos e revela: foi um escravo negro, não um pastor branco, quem ajudou a criar o seu famoso uísque
Uísque Jack Daniel's: marca mudou a versão da sua origem
(Divulgação)
Guilherme Dearo
Publicado em 28 de junho de 2016 às 17h49.
São Paulo - O famoso uísque Jack Daniel's, criado em 1875 pela Jack Daniel Distillery, no Tennessee (EUA), teve a ajuda essencial de um escravo negro.
Essa é a nova história oficial que a marca começou a contar sobre sua origem.
A história, até então, era que Jack Daniel, ainda um adolescente, aprendera o processo de destilação e instruções de receita com um pastor e merceeiro de Lynchburg chamado Dan Call.
Agora, a marca revelou que o verdadeiro conselheiro de Daniel era um dos escravos de Call, chamado Nearis Green.
Essa versão da história já existia há muito tempo, mas era tratada apenas como uma lenda.
De acordo com o New York Times, a marca começou a falar do legado real de Nearis Green em suas redes sociais e no tour oficial pela destilaria no Tennessee - que atrai mais de 250 mil visitantes todos os anos.
O novo "storytelling" da Jack Daniel's é uma mudança e tanto para um dos uísque mais populares do mundo.
Antes, a marca sempre explorara a "aura branca" de sua fundação, centrada na descendência de Daniel e seus pais: colonos galeses, escoceses e irlandeses.
Foto mostra americanos no Tennessee na produção do uísque. No centro da foto: Jack Daniel e, ao seu lado, um provável filho do ex-escravo Nearis Green. (Reprodução)
Nos EUA, os escravos negros dos estados sulistas sempre tiveram papel essencial nas destilarias. Além de trabalharem à força, eles dominavam as técnicas de partes complicadas do processo.
Não é incomum que famosas receitas de destilados tenham sido aperfeiçoadas ou desenvolvidas por negros - e depois indevidamente apropriadas por fazendeiros brancos.
Estratégia de marketing
A transformação do mito na história oficial pela Jack Daniel's não deixa de ser, também, uma estratégia de marketing.
A marca, visando os millenials (e, assim, um novo amplo mercado consumidor), pode estar atenta às questões raciais, que estão no centro do debate nos Estados Unidos e têm atraído os mais jovens.
Ao jornal NYT, Peter Krass, autor do livro "Blood and Whiskey: The Life and Times of Jack Daniel", disse que, nos anos 1980, a marca tentou se conectar aos yuppies.
Agora, tenta se ligar aos millenials, muito atentos às questões sociais de "justiça".
História
Mas a marca garante que é uma questão apenas de colocar sua história a limpo.
Também, o legado de Green ainda está sendo levado com cautela dentro da empresa.
Ainda não se sabe como, nos próximos anos, esse novo "storytelling" será divulgado e usado.
A versão sobre a participação direta de Nearis Green é antiga.
No livro "Jack Daniel’s Legacy", de 1967, o autor Ben A. Green (sem relações com Nearis Green), cita uma fala do pastor Call, que pedira a Green para ensinar tudo o que sabia ao pequeno Daniel:
"Tio Nearis é o melhor fazedor de uísque que eu conheço", teria dito na ocasião.
Em 1865, com o fim oficial da escravidão nos EUA (ratificação da 13ª emenda à Constituição Americana), Nearis Green foi liberto, mas continuou a trabalhar ao lado de Call.
Daniel teria começado a trabalhar em seu uísque em 1866 (ano que aparece nos rótulos da bebida até hoje) e empregou dois filhos de Green.
Mas a abertura oficial da destilaria, tendo Call como sócio, só aconteceu em 1875.
1/42(Charley Gallay/Getty Images for Johnnie Walker)
São Paulo - Um estudo da Intangible Business e da Drinks Power Brands mostra quais são as marcas de bebidas alcoólicas mais poderosas do mundo. O Power Brands 2015, na categoria destilados e vinhos, pesquisou 10 mil marcas até chegar aos mais poderosos. Cervejas não entraram na conta. Foram avaliados destilados (vodka, uísque, gim, tequila, licores, rum, conhaque, digestivos), vinhos e champanhes. Para criar o ranking, os critérios foram: fatia do mercado ocupado pela marca, crescimento projetado para os próximos anos, números de segmentos e mercados dominados pela marca, capacidade de aliar preço e qualidade, capacidade da marca de ser lembrada pelos consumidores, percepção e valores trazidos com a marca, histórico da marca. Todos esses critérios foram analisados para se chegar ao "poder" da marca. Portanto, não é apenas uma questão de valor de marca ou de mercado.
Números
No top 100, as marcas escocesas, americanas e francesas dominam a lista. Depois vêm marcas inglesas e italianas. O Brasil aparece uma única vez, na posição 51, com a Dreher. Já entre empresas, a Pernod Ricard domina, com 18 marcas. A Diageo vem em segundo, com 14 marcas.
Confira, nas imagens, as 40 marcas mais poderosas.
O cancelamento pode extrapolar as redes sociais e arranhar a reputação de uma estratégia toda para além das marcas. A solução? Saber medir (e gerenciar) o risco