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Como o exército americano ajudou a inventar o Cheetos

Famoso salgadinho de queijo foi criado com ajuda do exército americano na Segunda Guerra Mundial

Salgadinho Cheetos: origem remete à tecnologia militar da Segunda Guerra (Facebook/Reprodução)

Salgadinho Cheetos: origem remete à tecnologia militar da Segunda Guerra (Facebook/Reprodução)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 21 de agosto de 2015 às 10h47.

São Paulo - Hoje, o Cheetos é um popular salgadinho de queijo.

Mas você sabia que sua origem, em 1948, remonta à Segunda Guerra Mundial e ao exército americano?

Se não fosse pelo conflito e pela tecnologia militar, talvez você não estivesse com um pacote de Cheetos na mão hoje em dia.

A explicação está no recém-lançado livro "Combat-Ready Kitchen: How The U.S. Military Shapes The Way You Eat", da autora Anastacia Marx de Salcedo.

O título pode ser traduzido como "Cozinha Pronta Para o Combate: Como o Exército Americano Moldou o Jeito que Você Come". 

A revista americana Wired publicou um trecho do livro - que explica a origem do famoso snack, hoje fabricado pela PepsiCo.

A origem do Cheetos

A fabricação do queijo é um processo simples: leite fresco é posto para fermentar em uma cultura de bactéria, que irá promover um processo de acidificação. Isso é coalhar.

Depois, enzimas serão inseridas na mistura, coagulando as caseínas, que são 80% das proteínas presentes no leite. O resultado disso é uma mistura mais gelatinosa e cheia de soro.

Processos envolvendo calor, pressão e corte deixam essa massa mais firme e homogênea. Boa parte dos fluidos são descartados.

Depois, dependendo do tipo de queijo que se deseja, pode-se deixá-lo descansar por semanas ou anos. E novos microorganismos - bactérias, fungos - podem entrar na história, promovendo a transformação das proteínas em outras incríveis e saborosas substâncias. 

Mas o queijo é extremamente perecível. É claro que ele não resistirá muito bem em condições de umidade e altas temperaturas. No verão, pior ainda.

Mas, no começo do século 20, cientistas criaram um novo componente químico: sais de fusão. Os responsáveis foram Walter Gerber e Fritz Stettler, em 1911, na Suíça; e James Kraft, nos EUA, em 1916.

Ao misturar o queijo nessa substância, criava-se um novo tipo de queijo altamente resistente às altas temperaturas e longos tempos de armazenamento.

Além disso, sobras de queijos dos processos da fabricação poderiam ser jogadas nessa mistura, formando o novo queijo. Isso tornava o produto bem barato.

Durante a Primeira Guerra Mundial, o exército americano encomendou centenas de toneladas desse queijo à empresa de James Kraft. Isso ajudou a empresa a consolidar seus negócios e se tornar uma gigante do mundo de alimentos décadas mais tarde.

O produto podia ser armazenado facilmente nos navios, onde certamente não existiam geladeiras, e chegar consumível ao front de batalha, semanas ou meses depois. Foi essencial para a dieta dos soldados longe de casa.

Na Segunda Guerra Mundial, as encomendas foram igualmente gigantescas. Tudo era consumido com o queijo: batatas, vegetais, macarrão.

Só em 1944, por exemplo, ano decisivo para as tropas americanas na Guerra, milhares de toneladas foram compradas da National Dairy Products Corporation (que, em 1969, viraria Kraft).

E o exército era criativo: o queijo comprado era processado para virar uma mistura ainda mais desidratada e compacta. Assim, era armazenado mais facilmente (mais comida em menos espaço) e sua data de validade aumentava ainda mais. Afinal, eram milhões de bocas para alimentar no campo de batalha.

Na guerra, tudo era desidratado para consumo das tropas, menos as carnes. Farinha, batatas, ovos, queijos, legumes: viravam pequenos blocos de comida e ração.

Mas os blocos do queijo desidratado viravam pó quando prensados. Claro, não havia nada de maleável em sua composição ou algo que desse liga, como celulose. Assim, o queijo desidratado virava um pó amarelado.

O mais comum deles no front era o chamado Wisconsin cheddar – bem laranja.

O pó de queijo laranja acabou sendo oficialmente desenvolvido em 1943 por George Sanders, cientista responsável pela dieta das tropas. O pó era jogado em cima da comida, dando um tempero e sabor especial a outros alimentos.

Em 1945, a guerra acabou. E o exército tinha em mãos milhões de toneladas de pó de queijo e outros produtos. O que fazer? A solução foi revender esse estoque inútil a preços muito baixos para as próprias empresas da indústria alimentícia. Elas que fossem criativas com o presente.

Empresas como General Foods, General Mills, Kellogg’s, Quaker Oats e Colgate Palmolive se interessaram prontamente no carregamento de alimentos desidratados.

Em 1948, a Frito Company (que, em 1961, se fundiu à H. W. Lay & Company para virar Frito Lay, Inc.) encontrou o que fazer com o pó de queijo.

Seu fundador, Charles Doolin, inclusive, fora um dos produtores a abastecer os militares durante a Guerra.

Ele criou uma massa à base de milho, que levava água e era depois frita. Ao fim, recebia o tal pó laranja de queijo cheddar.

Pronto, estava criado o Cheetos, que se tornaria extremamente popular nos EUA e depois no mundo.

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