Inovação, renovação ou provocação?
Especialista em marketing Sergio Zyman aponta Lula como bom exemplo de que renovação funciona melhor do que inovação
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h55.
Sergio Zyman, o guru internacional do marketing em visita ao Brasil, propõe renovação antes de inovação , o tema-título de seu quarto livro. Mas, afinal de contas, não será na verdade a provocação a essência de sua carreira como palestrante e escritor? Momentos antes de apresentar-se noseminário Marketing em Foco, promovido pelas revistas EXAME e Meio & Mensagem, o ex-responsável pelo marketing da Coca-Cola respondeu à pergunta e, de quebra, mostrou coerência: "Não inventei nada do que está no livro".
Renascença
"Não estou tentando ser um provocador, tento fazer as pessoas pensarem. E pensar é uma atividade provocativa e subversiva. Quando não se pensa, você continua fazendo as coisas como sempre", diz Zyman. "A Renascença consistiu em recuperar tudo que era bom do passado e mesclar com algo novo e assim gerar coisas ainda melhores. Acho que sou mais um homem da Renascença do que um provocador."
O especialista diz que seus postulados anti-inovação são aplicáveis porque os líderes das empresas invertem a ordem lógica das coisas. "Não sei porque eu deveria inovar em termos da aparência de um edifício, antes de checar o encanamento, a eletricidade e se a estrutura fundamental do prédio está OK. Uma vez que se tenha feito o que se deve fazer pela renovação, então tudo bem, parte-se para a inovação."
Política
A busca apressada pelo novo determina, assim, a explícita oposição que tem inspirado as mais recentes palestras de Zyman. "Eu me coloco contra a inovação, antes da renovação, em qualquer área, e não apenas no marketing."
Uma das áreas em que o receituário do mexicano pode ser aplicado é a política, diz ele, invocando o exemplo oferecido pelo Partido dos Trabalhadores nas últimas campanhas à Presidência. "Arriscaria dizer, sem conhecer o suficiente, que as primeira tentativas de Lula foram exageradas em inovação, enquanto a última primou pela renovação. Se você olhar para os Estados Unidos, para Bill Clinton, ele concorreu baseado em uma plataforma de renovação do Partido Democrata."
Desperdícios
É preciso observar com atenção para se perceber o desperdício gerado tanto pela ânsia de inovação, diz Zyman, quanto pelo apego às tradições ineficientes. "Pense na Gol. O que a Gol fez foi inovação, ou tirar vantagem da falta de renovação da Varig e da Vasp? O que impediria a Varig de ter as mesmas posturas da Gol? No final das contas, é uma questão de ficar preso ao passado. Por outro lado, muitas vezes as pessoas gastam muito dinheiro querendo lançar coisas novíssimas, sem consertar o que já existe."
Daniela Picoral | |
Sergio Zyman: Gol se beneficiou da falta de renovação da Varig e Vasp |
Promovido pelas revistas EXAME e Meio & Mensagem, o seminário Marketing em Foco é um ciclo inédito de palestras voltado para a relevância do marketing na gestão das empresas, a valorização das marcas e a atualização profissional.
Nesta quinta-feira (9/9), empresários, executivos da iniciativa privada discutiram como aproveitar as novas oportunidades de um mercado consumidor cada vez mais segmentado. O tema das palestras, que ocorreram no hotel Gran Meliá, em São Paulo, foi "Brasil Consumo Como explorar esse potencial". Para mais informações sobre a iniciativa, clique aqui e visite o site do Marketing em Foco .