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Gigantes do luxo, Versace, Coach e Givenchy enfrentam "fúria" chinesa

As tensões geopolíticas da China na Ásia têm aumentado a pressão sobre as marcas estrangeiras que atuam naquele mercado

Loja da grife italiana Versace em Hong Kong.  (Miguel Candela/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Loja da grife italiana Versace em Hong Kong. (Miguel Candela/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 13 de agosto de 2019 às 15h35.

São Paulo - Três gigantes do luxo são as mais novas marcas ocidentais a despertar a ira dos consumidores chineses, após "ofenderem" a soberania do país. Nos últimos meses, as conflituosas relações geopolíticas da China na Ásia e disputas territoriais têm aumentado a pressão sobre as marcas estrangeiras que atuam naquele mercado.

No domingo, a grife italiana Versace emitiu um pedido de desculpas à China depois de ter colocado à venda uma camiseta estampada que representava  as regiões semiautônomas de Hong Kong e Macau como países independentes. Uma foto da camiseta da marca caiu nas redes sociais e provocou uma onda de boicote por parte dos consumidores chineses.

As peças traziam estampados os nomes de diferentes cidades vinculadas aos seus respectivos países. No entanto, ao lado de correspondências como “Lisboa-Portugal”, “Milão-Itália” e “Pequim-China”, encontrava-se “Hong Kong-Hong Kong” e “Macau-Macau”. 

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Na segunda-feira, a Versace publicou um post nas redes sociais dizendo que jamais quis questionar a soberania da China, e retirou todos os produtos das lojas online e físicas.

https://www.instagram.com/p/B1BM54AiL7D/

No mesmo dia, a tradicional marca americana Coach também publicou um pedido de desculpas público aos consumidores chineses. Em maio do ano passado, uma camiseta da grife causou alvoroço por não identificar Hong Kong como parte da China. Na ocasião, a marca tirou todas as camisetas de circulação, mas imagens do produto voltaram a aparecer no serviço de microblog chinês Weibo na esteira da polêmica com a Versace. 

Novamente alvo de críticas, a Coach reiterou em um post no Instagram que está "plenamente consciente da gravidade desse erro e lamenta profundamente". A marca afirma ainda que está dedicada ao desenvolvimento de longo prazo na China e "respeita os sentimentos do povo chinês.” O tópico "Coach" foi o mais popular no Weibo na manhã de ontem, recebendo 1,2 bilhão de visualizações.

A Givenchy foi outra marca de luxo que sucumbiu ao escrutínio popular. As críticas surgiram após o ídolo chinês de boy band Jackson Yee revelar no Weibo que havia cortado os laços com o conglomerado de luxo LVMH, controlador da grife francesa. Ele  disse ter se sentido ofendido por ver peças da grife representando Hong Kong e Taiwan de forma semelhante. A Givenchy pediu desculpas publicamente na segunda-feira, dizendo que "sempre respeitou a soberania chinesa".

https://www.instagram.com/p/B1DnlxCpCjJ/

 

Mais uma vez, a série de episódios chama atenção para os riscos políticos que empresas ocidentais enfrentam ao operar no país. As gigantes do luxo não as primeiras marcas a adaptarem sua estratégia para não provocar a ira de Pequim e dos consumidores chineses em questões delicadas.

No mês de junho, a Nike recolheu de todos os seus varejistas no país um tênis recém-lançado em colaboração com a marca de streetwear japonesa Undercover. O motivo? O designer da nova linha compartilhou um post de cunho político no Instagram sobre as manifestações que têm varrido Hong Kong nos últimos meses contra uma proposta de lei que prevê a extradição de residentes da ilha para julgamento na China. O plano é visto como uma última tentativa de líderes chineses de impor regras autoritárias à antiga colônia britânica, contrariando direitos garantidos até 2047 por um acordo constitucional.

No ano passado, a Mercedes-Benz teve que pedir desculpas por usar uma citação do Dalai Lama em uma mensagem postada no Instagram. A Gap também recuou rapidamente diante dos ataques em redes sociais após publicar um mapa da China que não incluía Taiwan, parte do Tibet e áreas do Mar da China que são reivindicadas por Pequim.

Nem mesmo produções cinematográficas escapam ao crivo chinês. O recém-divulgado trailer do novo Top Gun: Maverick, esperada sequência do clássico Top Gun: Ases Indomáveis (1986), com o ator Tom Cruise, traz uma mudança significativa: a remoção das bandeiras japonesas e taiwanesas da jaqueta do protagonista. A mudança seria uma forma de garantir a exibição do filme no país de mais de 1,3 bilhão de pessoas e manter a boa relação com a produtora chinesa Tencent Pictures, parceira da produção.

Historicamente, os ex-inimigos de guerra China e Japão possuem um relacionamento conturbado, embora os laços bilaterais tenham melhorado nos últimos anos. A relação com a autogovernada e democrática Taiwan também é problemática: Pequim considera a  nação insular uma província rebelde que deve ser subjugada ao governo comunista chinês – pela força, se necessário.

Quando não esbarram em tabus geopolíticos ou culturais, as marcas também testam seus valores e condutas diante de imposições regulatórias do mercado chinês. É o caso da união da fabricante de cosméticos Natura com a Avon,anunciada no mês passado. A primeira não vende seus produtos na China, já que o país exige a realização de testes em animais para a comercialização de cosméticos. Mas o império de venda direta da Avon tem pernas e mãos por lá. 

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