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Classe média elege FMI, Congresso e bancos como prejudiciais ao país

Quais são as instituições que mais prejudicam o Brasil? Para a classe média urbana, o Fundo Monetário Internacional -seguido pelo Congresso Nacional, pelos bancos e por empresas privatizadas. O resultado apareceu na pesquisa Sonhos de Consumo em Tempos de Mudança, coordenada pela Agência de Marketing. Os entrevistados tinham a opção de assinalar até 16 alternativas, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h56.

Quais são as instituições que mais prejudicam o Brasil? Para a classe média urbana, o Fundo Monetário Internacional -seguido pelo Congresso Nacional, pelos bancos e por empresas privatizadas. O resultado apareceu na pesquisa Sonhos de Consumo em Tempos de Mudança, coordenada pela Agência de Marketing. Os entrevistados tinham a opção de assinalar até 16 alternativas, entre elas, o governo brasileiro e as Forças Armadas, que receberam poucas críticas. Na outra ponta, foram indicados como os melhores parceiros do Brasil: o cidadão, a publicidade, os meios de comunicação e o povo brasileiro. Em resumo: os símbolos da coletividade.

A grande surpresa da pesquisa é o nível de comprometimento das pessoas com o bem coletivo , diz a socióloga Vera Aldrighi, diretora da Clínica de Comunicação e Marketing, uma das coordenadoras do estudo. O resultado é muito diferente do apurado em pesquisas feitas nos anos 80 e 90, quando prevalecia o individualismo. Nessa mudança de postura, acreditam os pesquisadores, estariam as raízes para a vitória nas urnas de Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-torneiro mecânico, cujo discurso prega o bem comum.

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A pesquisa reúne depoimentos de 1 300 pessoas das cidades de São Paulo (31%), Rio de Janeiro (23%), Porto Alegre (23%) e Recife (23%). As entrevistas, realizadas entre maio e julho deste ano, foram individuais e duraram cerca de 70 minutos. A maioria dos entrevistados mantém uma relação conjugal (57%), tem curso superior completo (18%) ou incompleto (41%) e ganha entre 1 000 reais e 4 000 reais por mês. São representantes da classe média urbana que desfrutam de comodidades como CDs, máquina de lavar roupas, telefone, vídeo-cassete, conta bancária e imóvel próprio.

Mudança de vida

Entre os entrevistados, 55% declararam que estão mudando muito o modo de pensar e de viver, e 39% disseram estar alterando um pouco seus hábitos. A motivação da mudança são os problemas financeiros. A maioria está endividada e prioriza o pagamento das contas. Os entrevistados reduziram as idas a restaurantes, as noitadas por pura diversão e as conversas ao telefone tanto no celular ou no telefone fixo. Na hora de regular o consumo, telefone e energia são os primeiros alvos. As viagens encabeçam a lista de comodidades que foram cortadas.

Na tentativa é manter parte do padrão de vida, o grupo substituiu o transporte público pelo automóvel, mantém a TV a cabo e os gastos com educação e também resiste em trocar as marcas preferidas. Preferem mudar a relação com seus produtos preferidos a abandoná-los e se forem obrigados a abdicar deles, voltarão a consumi-los na primeira oportunidade , diz Vera. Algumas marcas ficam de tal forma incorporadas à vida das pessoas que sua própria identidade se confunde com elas e, no meio das frustrações atuais, ninguém vai abdicar do prazer que resta.

Os entrevistados declaram estar convivendo mais com a família _e também trabalhando mais e se preocupando mais com a aparência. Reclamam do aumento da insegurança, da falta de dinheiro e de lazer. Na lista das mudanças para melhor estão: aumento da harmonia familiar, do relacionamento social e das perspectivas do futuro. O maior sonho é conquistar a estabilidade financeira.

Os vilões

Por que essa parcela da população brasileira apontaria um organismo financeiro internacional do porte do FMI como a instituição que mais prejudica o Brasil? As razões, na avaliação de Vera, estão na história recente. De acordo com a pesquisa, os governos dos presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso sustentaram-se sobre a promessa de modernidade. Os oitos anos de FHC, em especial, combateram a inflação e a precariedade tecnológica local, com a abertura de mercado.

Os moradores dos centros urbanos foram os mais atingidos pelas mudanças e alimentaram a expectativa de se transformarem em consumidores de primeiro mundo. Os brasileiros imaginaram que poderiam comprar a modernidade", diz Vera. "Mas a capacidade financeira não acompanhou o ritmo das mudanças e uma euforia consumista levou ao endividamento da classe média - que para piorar também assistiu ao empobrecimento e a marginalização de outras camadas sociais." Assim, avalia a socióloga, o tão desejado dinheiro _bem como as instituições financeiras, sólidas e lucrativas em meio à crise geral foram transformados em vilões. Em contrapartida, os entrevistados passaram a enaltecer valores morais básicos, como honestidade e paz. Apesar do cunho sócio-político, a pesquisa é um instrumento para traçar perfis de consumos e sua realização contou com apoio financeiro de grandes empresas. Fiat, Pão de Açúcar, Kaiser, Unilever e Vivo estão entre os patrocinadores.

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