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Onde investir em 2025: O ano dos Estados Unidos

Cortes de juros e a política de “Make America Great Again” de Donald Trump devem dar fôlego ao dólar e à economia americana; grande risco é a inflação

Onde investir em 2025: bolsa americana é uma boa aposta (Rebecca Droke/AFP)
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 06h00.

Com 2024 chegando ao fim, sobram incertezas – do lado fiscal, no Brasil, e no cenário geopolítico internacional. Mas uma hipótese aparece como consensual entre a maior parte das casas de análise:nos investimentos, 2025 será o ano dos Estados Unidos.

“O Japão não cresce, a China tem crescimento limitado e os emergentes estão vivendo uma situação difícil com o dólar. Estados Unidos é o melhor aluno da classe de longe e o resto da classe não está bem”, afirma Marcelo Santucci, sócio do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame) e CIO de soluções internacionais para portfólio.

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O processo de cortes de juros nos Estados Unidos – ainda que em menor magnitude que o esperado anterioramente, depois da última decisão do Fomc – e a política de “Make America Great Again” de Donald Trump devem dar um vento de cauda importante para a maior economia do mundo.

Na avaliação do UBS, as 500 maiores empresas listadas na Nyse terão um crescimento de lucro na casa de 10% em 2025. No cenário base, a expectativa é de valorização de 10% do índice S&P 500, que deve chegar a 6.600 em 2025.

Dentro da bolsa americana, ambas as casas recomendam os setores de tecnologia e bancos – esse último, o mais beneficiado pela política de desregulamentação que deve ser implementada pelo governo do novo presidente republicano.

Ambos os segmentos têm se destacado nos últimos anos por serem formados por empresas geradoras de caixa, que não precisam ir ao mercado tomar dinheiro – o que as deixam menos sensíveis aos juros, ainda em patamares historicamente elevados.

Surfando na onda das big techs, o S&P apresentou um desempenho acima de 25% neste ano e, considerando o último biênio, o índice avança 60%.

Ainda assim, há espaço para novas altas no setor. Na avaliação de Ronaldo Patah, estrategista de investimentos para o Brasil do UBS Global Wealth Management, as empresas expostas ao avanço da inteligência artificial seguem como boa aposta.

Nas estimativas do UBS, até 2027, as receitas na camada viabilizadora da cadeia de valor de IA – de nuvem a semicondutores – deverão mais do que dobrar, para US$ 516 bilhões.

Diferentemente do passado recente, contudo, o afrouxamento monetário associado às políticas tarifárias de Trump deve dar força também a setores da economia real. Ainda que, empossado, o presidente modere em algum grau as tarifas que vem ameaçando antes de assumir o cargo, pode-se esperar um novo nível de protecionismo.

“O crescimento dos lucros já tem se espalhado para ações fora do setor de tecnologia”, aponta o USB em relatório.

Desde a vitória de Trump, as altas do S&P já têm sido mais dispersas para outros setores. Em 2023, as “Sete Magníficas” — Alphabet (dona do Google), Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — representaram 60% dos ganhos do índice, mesmo patamar registrado até meados de julho de 2024.

No acumulado de 2024 até novembro, no entanto, essa contribuição chegou a 44%, ainda expressiva, mas com empresas do setor financeiro e outras ligadas ao mercado doméstico ganhando mais espaço. O índice de small caps, que reúne empresas de menor capitalização, também avançou.

Santucci, do BTG, destaca também o setor de saúde. “As empresas do setor estão baratas versus seus múltiplos históricos, enquanto tech opera acima, em 30-33x.”

O grande risco: inflação

O grande risco para esse cenário dourado para ativos de risco nos Estados Unidos é a inflação mais resiliente. Na sua última reunião, o Fomc alterou as projeções de cortes para o ano que vem. Agora, a autarquia projeta dois cortes de 0,25 p.p. até o final de 2025, o que é 0,50 p.p. a menos do que as autoridades previam em setembro.

O Fed também subiu as projeções de inflação para o primeiro ano do novo governo Trump de 2,1% para 2,5% – acima da meta de 2% do BC americano.

Júlio Ferreira, diretor de alocação do Julius Baer Brasil, aposta num viés mais inflacionário, especialmente com as políticas a serem implementas por Trump.

Para o executivo, a inflação americana deve girar em torno de 3,5% em 2025. “Os juros cairão menos do que o esperado e há risco material de que o Fed tenha que voltar a subir juros em 2026”, diz.

Ferreira afirma que os ativos de risco (bolsa e crédito) ainda devem ter retornos que remuneram o risco em 2025, mas “bem mais modestos que em 2024”. Por isso recomenda alguma cautela com o aumento de alocação externa no horizonte curto, de um ano.

Para quem quer fugir do risco, a renda fixa dos EUA segue extremamente atrativa mesmo com a queda de juros. Historicamente, a taxa de juros real roda em menos de 1%. Hoje, ela está acima, o que se reflete em títulos soberanos pagando 2% (em dólar).

“Também esperamos que as taxas mais baixas favoreçam a valorização do título e que os retornos possam ser substancialmente mais altos se o crescimento econômico desacelerar com mais rapidez. Por isso, elevamos os títulos do tipo high grade (públicos) para atraentes, após o recente aumento nos retornos”, completa Patah.

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