Charles Schweitzer, 44 anos, diretor de inovação (Arquivo pessoal/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 19 de maio de 2022 às 06h00.
Última atualização em 25 de julho de 2022 às 19h37.
A carteira de investimentos em renda variável do diretor de inovação Charles Schweitzer, 44 anos, passou a render menos com a forte alta da Selic nos últimos 12 meses. Mas enquanto seus fundos de ações e multimercado estão no vermelho, há um investimento que rende mais do que todos os ativos do seu portfólio, até mesmo do que os de renda fixa: sua carteira de empréstimo entre pessoas, o peer to peer lending.
A aplicação consiste em emprestar dinheiro para pessoas ou pequenas e médias empresas a taxas menores do que as oferecidas nos bancos. Em troca, o investidor recebe juros mensais, proporcionais à cota do empréstimo que adquiriu.
No ano passado Charles obteve um rendimento de 43,78% na modalidade de investimento, algo próximo a 340% do CDI, Certificado de Depósito Interbancário, o índice de referência para investimentos de renda fixa. "O retorno que obtenho na modalidade ao mês, de cerca de 3%, é o que obtive com meus fundos em todo o ano passado. Comecei a aplicar valores baixos na plataforma, como forma de ganhar confiança. Todos os rendimentos que obtenho, reinvisto."
Com a inflação e Selic alta, a demanda por crédito é maior em um momento no qual os bancos aumentam as taxas dos empréstimos. Ou seja: há mais opções de aplicações nas plataformas que oferecem a modalidade, bem como maior potencial de rendimento, ainda que o risco de calote também seja mais elevado.
Caso a pessoa ou empresa dê calote e o empréstimo não tenha garantias, a plataforma tentará, pelos meios legais, reaver o valor. Mas não há garantia de que irá conseguir.
Charles tem consciência desse risco. "Só invisto dinheiro que não irei precisar no curto prazo, e o valor aplicado não representa mais do que 5% do meu portfólio. Além desses cuidados, opto apenas por empréstimos no qual a plataforma reembolsa o valor emprestado, em caso de calote".
Existem cerca de nove plataformas online onde é possível realizar o P2P Lending. Entre elas, estão a Nexoos, WiseMoney e Ulend. A aplicação mínima nas plataformas parte de R$ 28.
Enquanto a Nexoos e a Ulend fazem a ponte entre o investidor e pequenas e médias empresas, a Wisemoney, realiza empréstimos para pessoas físicas, desde usuários que ganham um salário mínimo até diretores de empresas que ganham R$ 20 mil.
Fundada em novembro de 2020 por executivos do mercado financeiro com histórico de atuação na área de risco de bancos, a carteira de empréstimos da Wise Money, que atua como correspondente bancária, está perto de atingir R$ 10 milhões. Os empréstimos com atraso de mais de 90 dias correspondem a 3,5% da carteira.
Um atrativo da plataforma é oferecer empréstimos nos quais divide o risco da aplicação com o investidor, recomprando a dívida sem correçao em caso de calote. Geralmente essas dívidas pertencem a usuários com histórico de bons pagadores, que pedem valores mais altos mas têm baixo comprometimento da renda mensal.
Nos empréstimos com garantia o retorno que o investidor irá obter, naturalmente, será menor, explica Diego Camacho, CEO e fundador da WiseMoney. As taxas do empréstimo com garantia variam entre 2% a 6,5% ao mês. Em aplicações sem garantias, vão de 3,8% a 12% ao mês.
Atualmente, a plataforma recebe 100 mil pedidos de empréstimo por mês. "Muitos endividados estão buscando se reestruturar. A maioria dos pedidos na plataforma é de pessoas que querem trocar uma dívida cara por uma mais barata."
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Fundada em 2016, em 2019 a Nexoos se tornou uma instituição financeira e em 2021 foi adquirida pela Ame, a carteira digital da Americanas. No super app, os usuários são redirecionados para o site da plataforma. A Nexoos já financiou R$ 850 milhões para 9 mil PMEs.
Buscando incentivar a diversificação do risco dos empréstimos, e dispensar que o investidor faça uma análise individual de cada pedido de empréstimo na plataforma, a plataforma oferece um portfólio automatizado. O serviço permite investir uma fatia do valor em cada empresa do portfólio da plataforma, de acordo com parâmetros de risco definidos pelo próprio investidor.
A plataforma já opera em todos os estados do país e empresta para empresas com pelo menos dois anos de operação. A maior parte da carteira (30%) é composta por empresas de varejo, e o principal motivo para o pedido de empréstimo é para capital de giro.
Criada em 2018, a Ulend tem uma carteira de crédito de R$ 120 milhões e atua como correspondente bancário. A inadimplência da carteira é equivalente a 5% do valor total.
Para evitar a insatisfação de investidores com o retorno do investimento no momento em que a Selic passou a subir de forma mais intensa, a plataforma passou a oferecer empréstimos com taxas pós-fixadas com prazo médio de 20 meses. Hoje 70% dos empréstimos que a plataforma oferece são pós-fixados e pagam o DI mais 1% a 2%, dependendo do rating do tomador do crédito.
Conheça abaixo o que as três plataformas de P2P lending oferecem aos investidores:
Tipo de empréstimo: pequenas e médias empresas
Garantias: avalista
Taxa de juros (mínima e máxima): 14% até 42% ao ano
Aplicação mínima: R$ 6 mil e R$ 10 mil (portfólio automático)
Níveis de risco: A a E
Tipo de empréstimo: pessoas físicas
Garantias: recompra da dívida, imóveis e veículos
Taxa de juros (mínima e máxima): 3.8% até 12% ao mês, de até R$ 18 mil e com até 36 meses para pagar (sem garantia) e 2% até 6,5% ao mês, de até R$ 450 mil com até 48 meses para pagar (com garantia de imóvel ou veículo)
Aplicação mínima: R$ 28
Taxas de retorno ao mês para os investidores: 1,8% até 8,6% ao mês.
Níveis de risco: empréstimos são divididos entre 11 ratings, que vai de chance de pagamento de 99,3% (D11) até chance de pagamento de 10% (D1), perfil não aprovado para empréstimos
Tipo de empréstimo: pequenas e médias empresas
Garantias: aval dos sócios, aplicação financeira, imóvel e recebíves/duplicatas
Taxa de juros (mínima e máxima): 0,99% até 3,35% ao mês
Aplicação mínima: R$ 2 mil
Níveis de risco: baixo (empresas consolidadas e com garantia forte) e alto, com oportunidade de receber uma rentabilidade maior
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