Prefixados: com queda de juros no radar, título pode ser uma boa opção (Anyaberkut/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 06h00.
A reunião desta quarta-feira, 10, do Comitê de Política Monetária (Copom) terminou sem surpresas: a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano. Embora o Banco Central(BC) ainda não tenha deixado claro quando começará o ciclo de cortes, especialistas projetam a redução para o início de 2026 como o momento em que a política monetária deve começar o afrouxamento.
Sendo assim, pode ser a última vez que a Selic vai estar nesse patamar. E esse cenário reacende o debate sobre os títulos prefixados, uma classe que costuma ganhar relevância justamente quando o pico dos juros parece próximo do fim. Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos, lembra: “É um título em que você fixa nele o valor que ele vai valer no vencimento”.
A rentabilidade dos prefixados acompanha a curva de juros futuros, que se movimenta diariamente conforme expectativas de inflação, atividade e política monetária. Esse vai-e-vem altera diretamente o preço do título. Quando os juros sobem, o valor de mercado cai; quando recuam, o título fica mais caro. É o mecanismo conhecido como marcação a mercado.
Nesse sentido, ao travar a taxa de retorno em um determinado momento, o investidor abre mão de ganhos extras caso o juro futuro suba — e ainda assume riscos importantes, como a possibilidade de perdas caso precise vender o papel antes do prazo.
Para ilustrar, Christiano Clemente, CIO do Santander Private Banking, compara o processo ao fim de feira.
“Imagina que você foi à feira, comprou 1 kg de laranja por R$ 5 às 8h. Geralmente, no final da feira, essa mesma laranja está mais barata, e agora vale R$ 3. Isso é uma marcação ao mercado”.
Em outras palavras, vender o prefixado antes do vencimento pode significar realizar prejuízo se o momento do mercado for desfavorável.
Fontes reforça esse ponto ao afirmar que esse tipo de investimento exige perfil ao menos moderado: quem não pode correr o risco de perdas em resgates antecipados deve pensar duas vezes, mesmo com os juros em níveis historicamente elevados.
Sabendo que os juros estão prestes a cair, o investidor do prefixado ganha um pouco mais de visibilidade. Em tese, o valor de face do título tende a ser menos pressionado, já que os juros DI, que terminam a rentabilidade do ativo, tendem a recuar. O risco de perder dinheiro pela marcação a mercado, em um resgate antecipado, diminui. Isso, na ótica do curto prazo.
Num horizonte mais longo, é difícil prever como as taxas irão se comportar e se o título irá valorizar ou desvalorizar, caso o investidor queira vender antes.
"Só não adianta comprar o prefixado depois que o ciclo de corte de juros já começou”, aponta Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
Hoje já não é fácil encontrar um título prefixado que remunere os 15% do atual patamar da Selic. Isso porque o mercado já precificou o corte de juros na curva — aquela que define a rentabilidade do ativo.
“O momento de ir para prefixado é quando o investidor entende que tem muito retorno para o risco que quer correr, ou quando acha que a situação vai estar melhor do que o mercado está olhando”, aponta Clemente, do Santander.
Diferentemente do Tesouro Prefixado, o Título IPCA+ é um ativo híbrido: tem uma taxa prefixada (o valor após o +, que corresponde ao juro real) e um valor pós-fixado, no caso, a inflação.
O Tesouro Prefixado é mais sensível às tendências inflacionárias e pode ter sua rentabilidade neutralizada. Por exemplo: se um título rende 15% e a inflação fica em 5%, o retorno real é de 10%. Se a inflação sobe a 7%, o retorno real vai a 8%.
BTG vê nova era para a Vale (VALE3): 'menos drama, mais disciplina'Já no IPCA+, o investidor consegue uma proteção, já que o retorno acompanha a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
“Em ambos, você tem que achar que as taxas de juros vão cair e por isso quer travá-las por um longo tempo. Mas no IPCA+, você tem que achar que a taxa de juros vai cair com a inflação implícita subindo”, diz Fontes.
Em um cenário ideal de queda de juros, “com um Banco Central crível”, a executiva aponta que até 60% da carteira pode ir para prefixados. Mas, com ano eleitoral a vista e problemas fiscais ainda no radar — que podem levar a juros mais altos por mais tempo — a recomendação da especialista é de “no máximo 10%”.
Já Frasson aponta que mesmo o investidor mais arrojado não deveria passar de 15%. Clemente diz entre 15% e 18%.