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Vale a pena participar de um clube de investimento?

Nem sempre se unir a amigos é a melhor opção para investir na Bolsa. Saiba quando entrar num clube é um bom negócio

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Da Redação

Publicado em 13 de outubro de 2010 às 20h36.

A lógica dos clubes de investimento pode ser resumida pelo ditado popular "a união faz a força". Ao compor um clube, os investidores conquistam um poder de negociação na Bolsa que não teriam se estivessem operando sozinhos. Juntos, eles conseguem formar uma carteira de ativos diversificada sem a necessidade de dispor de um volume muito alto de recursos - e ainda têm a vantagem de adquirir os papéis em lotes, a preços inferiores aos cobrados no mercado fracionário.

Mas nem sempre participar de um clube de investimento é a melhor opção para o pequeno investidor. Embora seja possível abrir clubes com menos de 5.000 reais, na avaliação dos especialistas, o investimento só ganha corpo quando conta com um patrimônio acima de 100.000 reais. "Se o patrimônio for muito pequeno, não haverá recursos suficientes para aproveitar as oportunidades de investimento", diz Priscila Vargas, gerente comercial da corretora Geração Futuro. Pelas regras da Bovespa, os clubes de investimento devem ter entre três e 150 participantes. A exceção fica por conta dos clubes formados por funcionários de uma mesma empresa e por integrantes de uma mesma sociedade ou organização. O ideal é que sempre haja entre os membros do clube alguma afinidade, como amizade ou objetivos comuns. Mas Priscila ressalta que é importante haver entre os membros pontos de vista diversos. "Se todos pensarem da mesma forma, provavelmente o clube não progredirá", diz.

Investir em clubes também requer disciplina e disposição para participar das decisões. Um dos principais diferenciais em relação aos fundos é a gestão. Enquanto nos fundos a estratégia de alocação dos recursos fica a cargo somente do gestor, nos clubes, os participantes têm voz ativa, podendo interferir na escolha das ações e títulos que irão compor a carteira de investimentos. "O aprendizado é uma das maiores vantagens dos clubes de investimento. Debatendo com os outros participantes, o investidor aprende muito", diz o educador financeiro Mauro Calil.

A gestão dos clubes não precisa ser feita por um profissional do mercado. Ela pode ser exercida por um ou mais integrantes do próprio clube. "Na nossa corretora, a maior parte dos clubes é gerida pelos próprios membros", afirma Raul Meyer, coordenador de Clubes de Investimento da Ativa.

Meyer conta que é muito comum amigos se reunirem para criar um clube. Mas isso não impede os investidores que não conseguem formar um grupo entre conhecidos de participar dos clubes. Nas corretoras há vários clubes de investimento abertos, que aceitam a entrada de novos participantes desde que eles se enquadrem no perfil do clube. No estatuto social, o investidor encontrará todas as regras que norteiam o investimento, desde a política de alocação dos recursos até custos, prazo de validade do clube e a exigência ou não de aplicações mensais. "Quanto maior o número de participantes no clube, melhor. Isso eleva o patrimônio disponível para investimentos e dá aos integrantes chances de obter retornos maiores", diz Priscila. Como as corretoras não podem promover os clubes, cabe aos participantes divulgar entre amigos e conhecidos o produto. "Nesse caso, não é o segredo a alma do negócio, mas sim a divulgação. Os participantes não podem ter ciúme do clube e esconder dos outros sua existência", comenta a gerente comercial da Geração Futuro.

Nos últimos dez anos, o número de clubes de investimento no país saltou de 180 para 2.778, reunindo mais de 500 mil pessoas (veja na tabela abaixo). Apesar do forte crescimento, o diretor da corretora Spinelli, Manuel Lóis, afirma que esse tipo de investimento ainda é tímido no Brasil, se comparado a outros países, como os Estados Unidos. "O brasileiro ainda não conhece o mercado de capitais. Como só começamos a ter estabilidade econômica em 1994, ainda não houve tempo para a população aprender a investir", diz.

Para aqueles que estão começando a se familiarizar com a Bolsa, Calil aponta os clubes de investimento como uma boa alternativa. "Mas não precisa colocar todo o dinheiro lá. Pode colocar só uma parte. Assim, se o clube tomar uma decisão com a qual você não concorda e der errado, não perderá muito dinheiro. Por outro lado, se tomarem uma decisão contrária a sua opinião e der certo, você aprende e pode aplicar a estratégia em sua carteira pessoal", diz.

Monte o seu

O primeiro passo para criar um clube de investimento é reunir os membros e definir quem será o administrador e o gestor. Ao administrador caberá a função de zelar pela parte burocrática do clube, que inclui a papelada da constituição do clube, registros, recolhimento de impostos, entre outras tarefas. Já o gestor ficará responsável pela tomada de decisão de investimentos, gerenciando a carteira do clube. O administrador obrigatoriamente será uma instituição financeira, enquanto o gestor poderá ser um ou mais integrantes do clube ou um profissional contratado. Os participantes deverão eleger também um representante para o clube ou formar um Conselho de Representantes, com no mínimo três membros.

Feito isso, o clube deverá solicitar a ajuda do administrador para redigir o estatuto social. Com o estatuto pronto e os documentos necessários levantados, será possível registrar o clube. Em geral, bancos e corretoras cobram entre 2% e 4% ao ano de taxa de administração, e os clubes terão de arcar também com outros custos, como taxa de corretagem e a remuneração do gestor, caso seja contratado um.

Os clubes também são tributados. A incidência do Imposto de Renda (IR) varia de acordo com o percentual de alocação em ações. A Bovespa determina que os clubes tenham, no mínimo, 51% de seu patrimônio líquido em ações. Os outros 49% podem ser aplicados em outros ativos, como títulos públicos, debêntures e derivativos. Para os clubes que investirem até 66% da carteira em ações, a cobrança do IR é feita como nos fundos: a cada seis meses, pelo sistema de come-cotas (descontado das cotas). A alíquota vai de 22,5% a 15%, de acordo com o tempo de aplicação. Já se o clube investir acima de 66% em ações, a tributação será feita somente no momento do resgate, à alíquota de 15% sobre o rendimento da aplicação.

As cotas do clube são proporcionais ao investimento feito por participante, e cada cota dá direito a um voto. Diferentemente dos fundos, onde não há limite para aplicação, nos clubes, um integrante não pode deter mais de 40% do patrimônio líquido. "Isso é importante para manter a saúde financeira do clube. Se um participante detiver um percentual muito elevado do patrimônio e decidir retirar o dinheiro, o gestor pode ter problemas para equilibrar a carteira de ativos", explica Priscila.

A evolução dos clubes de investimento no Brasil
Ano Número de clubes Número de membros Patrimônio líquido (R$ bilhões)
1999 180 55.849 0,3
2000 379 115.087 1,3
2001 457 140.962 1,4
2002 473 139.524 1,4
2003 755 113.028 4,0
2004 1.016 116.914 5,7
2005 1.322 155.183 6,9
2006 1.630 216.634 9,6
2007 2.160 456.557 14,8
2008 2.778 536.483 8,3
Fonte: BM&FBovespa
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