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A artimanha por trás do site que leiloa apartamento a partir de R$ 0,01

Comprar em sites de leilões virtuais só é um bom negócio para os sortudos e pacientes

Nos leilões online, até os lances são leiloados. É preciso se policiar para não perder o controle. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Nos leilões online, até os lances são leiloados. É preciso se policiar para não perder o controle. (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 2 de dezembro de 2010 às 08h20.

São Paulo - Os sites de compras coletivas não são os únicos no universo dos superdescontos virtuais. Sites especializados em leilões andam vendendo produtos como celulares, notebooks e TVs de LCD com descontos na ordem dos 90%, e agora se preparam para leiloar até carro e apartamento. A ideia é que usuários pacientes arrematem os bens por preços quase simbólicos. Mas ter sucesso numa transação como essa não é tão fácil como parece.

Apartamento de um centavo

Que tal um iPhone 4 por 86 reais? Ou um Xbox 360 por 3 reais? Tentador, certo? Nos sites de leilões virtuais, cada lance acrescenta apenas um centavo ao preço do produto. E, como nos leilões tradicionais, quem der o último lance leva. Mas para isso, é preciso ser persistente. Na hora em que o leilão começa, um contador de 15 ou 30 segundos entra em contagem regressiva, mas retorna ao ponto de partida cada vez que alguém dá um lance. Quem quer arrematar de qualquer jeito precisa continuar dando lances, até que todos desistam, o que já chegou a levar mais de 24 horas. Zerado o contador, o mais persistente leva a pechincha.

Depois de vender tantos produtos caros a preço de banana, os sites de leilões virtuais se preparam agora para dar saltos maiores. No dia 9 de dezembro, o site Olho no Click realizará o primeiro leilão virtual brasileiro de um apartamento, em parceria com a construtora e incorporadora Rossi. Avaliado em 250.000 reais, o imóvel - localizado numa área nobre do Rio de Janeiro - será o produto mais caro já leiloado em um site desse tipo. No dia 10, o Martela segue os passos do concorrente e realiza outro leilão virtual de grandes proporções, dessa vez de um Renault Clio, carro popular na faixa dos 20.000 reais.

Atenção para o custo total

Pode parecer um excelente negócio, mas é bom tomar cuidado para não ser levado pela empolgação da brincadeira e acabar gastando mais do que se o produto fosse comprado na loja. Ao se cadastrar no site, o usuário ganha cinco lances de cortesia, mas para arrematar um produto normalmente são necessários inúmeros lances, talvez mais de cem.

Acontece que cada lance de um centavo custa, na realidade, entre 50 centavos e um real. Eles são vendidos em pacotes. No Olho no Click, por exemplo, um plano de 30 lances sai por 30 reais, mas um de 150 lances sai por 120 reais, ou seja, 80 centavos por lance. No Martela, o custo dos lances para leilões de produtos mais caros também é mais alto. No caso do carro, cada “martelada”, sairá por 1,50 real. Não são raros os leilões de pacotes de 100, 200 e até 500 lances, arrematados com bastante desconto em relação ao preço original.

Isso significa que, ao levar o produto, o usuário não paga apenas pelo valor do arremate, mas também pelos lances “gastos” e, na maior parte das vezes, pelo frete. O baixo preço na tela pode dar ao usuário uma falsa sensação de economia ou então induzi-lo algo que não necessita. É preciso, portanto, se policiar para que a soma de todas as despesas com os produtos arrematados não acabe superando seus preços originais.

Além disso, mesmo quando não consegue arrematar o produto, o usuário gasta dinheiro na forma de lances. O custo com os “lances perdidos” também deve ser considerado na hora de calcular o custo final da brincadeira. Como numa loteria, os compradores frustrados bancam o prêmio do vencedor. Se um usuário gastar 500 lances - comprados por 500 reais - e, no final de todos os leilões só conseguir arrematar uma bicicleta de 499 reais, ele já saiu no prejuízo, mesmo que o preço de arremate tenha sido de alguns poucos reais.


Problemas na entrega

Mas, afinal, como é possível vender um produto desse tipo por um preço tão baixo? É simples. O site compra os produtos de grandes fornecedores pelo preço normal e os leiloa, cobrindo seus custos e gerando lucro por meio da venda dos lances. “Preferimos fornecedores que já tenham experiência em vendas online, como Americanas, Submarino e CompraFácil, até para não atrasar a entrega”, explica Sidnei Pedrotti, sócio do Martela. Por isso mesmo, todos os produtos vêm com nota fiscal em nome de quem arrematou e garantia.

Sidnei explica que, no caso do Martela, o prazo para entrega do produto é de até 20 dias úteis. Mas imprevistos não devem ser descartados. Pode acontecer, por exemplo, de o site vender um produto que ainda não adquiriu, efetuando a compra apenas após o leilão. Se o produto estiver em falta, por exemplo, pode ser que o arrematante tenha algum aborrecimento. De qualquer maneira, o site é legalmente obrigado a cumprir o prometido.

Sidnei relembra o caso de um iPhone 4 que estava em falta na grande São Paulo, de onde sai a maioria dos produtos do Martela. A solução para não atrasar a entrega foi comprar um aparelho na cidade do cliente, para que o próprio pudesse retirá-lo na loja. Nesse caso, evidentemente, não houve cobrança de frete.

No caso do Renault Clio, especificamente, o veículo será adquirido na concessionária mais próxima à casa do comprador, para que o frete não pese. “Nossa intenção é que o comprador gaste o mínimo possível”, diz o sócio do Martela. O apartamento leiolado pelo Olho no Click, por sua vez, já tem escritura em nome do site e as despesas com a transferência para o nome do arrematante ficam por conta da construtora.

Segurança dos sites

Por ser ainda um negócio muito novo no Brasil - o pioneiro Olho no Click tem apenas dois anos de vida - os leilões virtuais por centavos podem causar desconfiança em muitos usuários. Como saber se o site é idôneo, se os produtos são novos e de origem lícita, e se não há robôs dando lances para impedir que o leilão chegue ao fim antes de atingir determinado preço?

Em primeiro lugar, leia os termos de uso com atenção e verifique se os fornecedores são empresas de renome no varejo e se os produtos vêm com nota fiscal e garantia. É aconselhável checar no registro.br se o site de leilões é registrado e tem CNPJ, além de procurar por reclamações em sites como o Reclame Aqui, o Lance Seguro e o Vigilante dos Leilões. Verifique também se o site é blindado contra hackers, o que normalmente é designado por um selo na página inicial.

De acordo com Sidnei Pedrotti, o internauta também deve ficar de olho nos valores dos arremates. Se forem sempre muito altos, é bom desconfiar do site. “Nesse negócio, alguns produtos dão lucro e outros prejuízo, dependendo da procura”, esclarece. Segundo ele, todos os leilões do Martela são auditados externamente, e os dados dos arrematantes são checados para garantir que cada usuário tenha apenas um cadastro.

No caso do Olho no Click, a auditoria externa ocorre apenas para casos especiais, como o leilão do apartamento, em que foram contratados os serviços da Deloitte.

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