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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
As principais empresas de cartão de crédito brasileiras começaram a compartilhar os terminais de pagamento com cartão, conhecidos como POS. Segundo a Redecard, no final de junho mais de 5 mil máquinas de processamento de transações com cartões de crédito e débito já eram compartilhadas com a Visanet e a American Express. Apesar de ainda ser um avanço pequeno comparado aos milhões de terminais existentes no país, o número praticamente dobrou em relação ao primeiro trimestre.
O maior compartilhamento das máquinas é defendido pelo governo. O Banco Central acredita que os comerciantes teriam duas economias: não precisariam pagar o aluguel do terminal para mais de uma empresa - apesar de haver uma taxa de conexão para cada uma - e poderiam ter um menor número de linhas telefônicas. No Brasil, para cada 100 reais em transações pagas com cartão de crédito, em geral o lojista fica com só 97 reais. Os demais 3 reais são divididos entre as bandeiras de cartão como Visa e MasterCard, as empresas de processamento das transações como a Visanet e a Redecard e os bancos emissores dos plásticos. Segundo a Fator Corretora, trata-se de uma das maiores taxas do mundo, capaz de tornar as empresas do setor bastante lucrativas. A margem Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) da Redecard, por exemplo, foi de 63% em 2007, uma das maiores entre as grandes empresas do país.
O BC atribui as altas taxas cobradas pelas empresas à baixa concorrência existente no mercado. Juntas Redecard e Visanet processam cerca de 80% das transações realizadas no país. O BC ainda não definiu qual seria a melhor forma de reduzir as barreiras de entrada para o surgimento e crescimento de outras empresas. No entanto, o banco tende a estipular regras para apressar o compartilhamento de terminais.
Em entrevista ao Portal EXAME, o presidente da Redecard, Roberto Medeiros, disse ser favorável ao aumento do compartilhamento. A empresa tem cerca de 1,3 milhão de estabelecimentos comerciais credenciados e aposta que o compartilhamento poderia facilitar a penetração do cartão em locais onde têm dificuldade em chegar: as periferias das grandes cidades e municípios do interior. Também favorecerá a adoção de meios eletrônicos de pagamento em estabelecimentos comerciais com forte sazonalidade como os turísticos, entre profissionais liberais ou taxistas. Além disso, a empresa vai investir 140 milhões de reais neste ano com a aquisição de terminais. Esse número não deverá cair com o compartilhamento devido ao crescimento do mercado, mas o custo por máquina poderá ser reduzido.
Tanto a Redecard quanto a Visanet alertam, entretanto, que há limites tecnológicos para a expansão de terminais compartilhados. Cada empresa tem que embarcar seu próprio software nas máquinas. Por isso, os terminais compartilhados serão capazes de processar transações de crédito e débito, mas não haverá capacidade para fazer também outros tipos de transações, como recarga de créditos de celular e pagamentos parcelados no débito ou com tíquetes eletrônicos. Dessa forma, o compartilhamento não vai atender às necessidade de restaurantes, por exemplo.
Analistas de mercado concordam com o potencial crescimento da penetração dos cartões com o compartilhamento, mas fazem duas ressalvas. A Fator Corretora lembra que as taxas de conexão são menores que os aluguéis dos terminais - que hoje representam nada menos que 21% da receita da Redecard. Já o Unibanco lembra que uma importante barreira para a entrada de outras empresas nesse setor é que seria necessário um investimento inicial de 500 milhões de reais apenas na compra de terminais. Caso o BC determine que o compartilhamento das máquinas passe a ser obrigatório com qualquer empresa, esse investimento poderia ser bastante reduzido.
As líderes de mercado, no entanto, continuariam a ter uma série de vantagens competitivas. Novos concorrentes teriam que desenvolver tecnologias para a segurança das transações, ganhar a confiança dos estabelecimentos comerciais, enfrentar uma possível reação agressiva de Visanet e da Redecard e conseguir o apoio dos bancos que emitem os cartões - sendo que as maiores instituições financeiras são sócias das duas empresas e não têm nenhum interesse em prejudicá-las.
As empresas de cartão admitem que o compartilhamento deve ser acelerado nos próximos anos, mas não está claro qual será a velocidade de transição para o novo sistema. O BC deve encaminhar em setembro um estudo para os órgão de defesa da concorrência dos ministérios da Fazenda e da Justiça com propostas para aumentar a concorrência no setor. A expectativa é que da parceria do banco com as duas pastas surjam medidas para obrigar as empresas a investir mais no compartilhamento. Especialistas no setor lembram, no entanto, que propostas semelhantes já são discutidas em Brasília há mais de uma década - sem que nada tenha sido feito.