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Preço negativo para energia é realidade em alguns países

Custo negativo da eletricidade está virando realidade durante centenas de horas e, dessa forma, virando a economia do negócio do avesso

Linhas de transmissão de energia elétrica (Ueslei Marcelino/Reuters)

Linhas de transmissão de energia elétrica (Ueslei Marcelino/Reuters)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 6 de agosto de 2018 às 13h35.

Última atualização em 6 de agosto de 2018 às 13h39.

Os dias ensolarados e ventosos estão virando o maior pesadelo das distribuidoras de energia, que têm dificuldades para conseguir retorno com usinas de energia tradicionais.

Com o surgimento de parques eólicos e solares em mais áreas -- e pelo fato de a energia produzida estar recebendo prioridade na hora de alimentar a rede em muitos lugares --, a quantidade de eletricidade gerada está ultrapassando a demanda em determinadas horas do dia.

O resultado disso é que os preços da energia estão caindo mais vezes para zero, ou mesmo para território negativo, em mais jurisdições. Isso aumenta a dor de cabeça de geradoras como NRG Energy, na Califórnia, RWE, na Alemanha, e Origin Energy, na Austrália. Antes confinado à curiosidade de algumas horas durante os ventosos feriados natalinos, o custo negativo da eletricidade está virando realidade durante centenas de horas em muitos mercados e, dessa forma, virando a economia do negócio do avesso.

“Não há um padrão de horário para os preços negativos na Bélgica”, disse Marleen Vanhecke, representante da administradora da rede do país, a Elia System Operator. “Esse fenômeno é determinado principalmente pela elevada geração eólica na Alemanha e pela capacidade de importação suficiente da Bélgica.”

Os períodos com preços negativos ocorrem quando há mais oferta do que demanda, normalmente com o brilho do sol de meio-dia ou com as rajadas de vento matinais quando a demanda já é baixa. O preço negativo é, em essência, um sinal do mercado para que as distribuidoras desativem certas usinas de energia. O fenômeno não faz ninguém receber reembolso nas faturas -- nem os medidores de eletricidade rodarem para trás.

Em vez disso, a situação geralmente leva as proprietárias de usinas tradicionais de carvão e gás a desativarem a produção por um tempo, embora muitas instalações não tenham sido projetadas para serem ligadas e desligadas rapidamente. Isso faz as distribuidoras reclamarem de que não conseguem os retornos esperados pelo investimento feito em capacidade de geração.

“Os sinais de preço do mercado de energia são fundamentais para dizer às geradoras onde construir novos recursos”, disse Abe Silverman, vice-conselheiro-geral da NRG Energy, que está preocupado com a anomalia na Califórnia. “À medida que os preços negativos se tornarem mais predominantes teremos que aprimorar nossas estratégias de formação de preço para o mercado de energia para garantir que continuaremos estimulando investimentos eficientes.”

Os preços estão ficando abaixo de zero com mais frequência na Alemanha, que foi a primeira economia importante a dar um grande impulso às energias renováveis. O país está descontinuando progressivamente reatores nucleares e geração de energia por meio do carvão, levando a oscilações mais frequentes no mercado de eletricidade. Além disso, exportou os custos negativos para os mercados vizinhos. A Dinamarca, a Bélgica, a República Checa, a Suíça e até a França registraram horários com preços negativos neste ano ou no ano passado.

Nos EUA, na maioria dos mercados só ocorrem preços negativos quando as entregas de energia em tempo real ficam abaixo das expectativas do dia anterior ou quando a oferta é maior do que a prevista, disse William Nelson, analista da Bloomberg New Energy Finance.

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