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Por que o Tesouro Direto deixa a previdência no chinelo

Cinco razões que mostram que os títulos públicos podem ser mais vantajosos do que os planos de previdência para a sua aposentadoria

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2013 às 10h53.

São Paulo - Ainda que os planos de previdência pareçam o caminho mais natural para muitas pessoas que pensam onde investir para a aposentadoria, cada vez mais consultores financeiros têm sugerido o Tesouro Direto como a melhor opção de investimento para este fim. A preferência pelos títulos do governo, mais especificamente pelas NTN-Bs, é explicada por diversas razões.

Confira a seguir algumas delas e entenda por que esse pode ser o investimento ideal para quem não gosta de correr muitos riscos e quer ter uma boa renda quando a hora de pendurar as chuteiras chegar. 

1 O título do Tesouro permite sempre um rendimento acima da inflação

O Tesouro Nacional possui títulos com diferentes formas de remuneração. Dentre eles, o mais indicado para a aposentadoria é a Nota do Tesouro Nacional série B, ou NTN-B, que paga ao investidor uma taxa de juro pré-fixada mais a variação da inflação (medida pelo IPCA) durante o período do investimento.

Como o título promete um pagamento acima da inflação, ele sempre dará ao investidor um ganho real, proteção fundamental para quem investe para a aposentadoria já que em um prazo de 20 ou 30 anos, a alta da inflação é totalmente imprevisível.

2 Ainda que planos de previdência também invistam em títulos públicos, seus custos são maiores

Os fundos de previdência investem em NTN-Bs e outros títulos públicos, por isso, teoricamente, também contariam com a vantagem da proteção contra a inflação. Mas seus custos são altos. “A maioria dos fundos de previdência tem boa parte ou quase a totalidade de sua carteira composta por NTN-Bs. Justamente por isso, o que se cobra de taxa de administração é muito elevado”, afirma Fernando Meibak, sócio da consultoria Moneyplan.

No investimento no Tesouro é cobrada uma taxa de custódia, de 0,3% ao ano, e pode ou não ser cobrada uma taxa de administração pela corretora por meio da qual você compra o título. Como existem corretoras que isentam a taxa, o investidor tem a opção de pagar apenas 0,3% ao ano (veja o ranking das taxas cobradas por corretora).

Já os planos de previdência, na melhor das hipóteses, cobram taxas de 1% ao ano. Sendo que, em alguns casos, as taxas chegam a superar os 3% e alguns planos ainda descontam de cada aporte uma taxa de carregamento, que fica entre 1% e 4% do valor investido. Esses custos parecem pequenos à primeira vista, mas têm um efeito devastador sobre os rendimentos no longo prazo.

Além disso, por mais que a maioria dos fundos de previdência invista em NTN-Bs, eles podem investir em outras aplicações de renda fixa e até 49% da carteira em renda variável. A estratégia pode ser interessante já que no longo prazo investimentos arriscados podem trazer mais retorno, mas para quem é mais conservador essa pode não ser a melhor opção, já que o investidor corre o risco de não ter um ganho sempre acima da inflação como com os títulos do governo.


3 No Tesouro você conhece seu rendimento, enquanto nos planos de previdência não se sabe qual será a performance

Uma das maiores vantagens dos títulos públicos é o fato de o investidor ter a garantia de que receberá o retorno contratado no início do investimento, caso ele fique com o título até seu vencimento. “A NTN-B vai render aquilo: IPCA mais juros. Na previdência não se sabe qual será a performance ao longo do tempo porque seu desempenho é influenciado por uma série de motivos”, explica Fernando Meibak.

Mesmo que o plano de previdência invista apenas nos títulos do Tesouro, como os participantes do fundo podem querer sacar seus recursos, o gestor pode precisar vender os títulos antes do seu vencimento para pagar os investidores.

Uma NTN-B que prometa 5% de juro ao ano mais IPCA só vai pagar isso se o título não for vendido até o vencimento. Mas caso seu detentor deseje se desfazer dela antes do vencimento, estará sujeito a aceitar o que o mercado estiver disposto a oferecer pelo título. Nesse caso, o título pode acabar sendo vendido por um valor menor que o preço de compra, por causa do efeito da chamada marcação a mercado (entenda como a marcação a mercado afeta o rendimento dos títulos).

Ou seja, enquanto no investimento direto em uma NTN-B ter ou não prejuízo só depende de você, nos planos isso dependerá dos outros participantes. Isso ficou bem evidente recentemente. Como as NTN-Bs com prazos mais longos estão com preços em queda, muitos investidores quiseram resgatar as cotas de fundos que vinham tendo retorno negativo, obrigando gestores a venderem os títulos em um momento péssimo.

“O mercado exige que o fundo precifique sua carteira todo dia e como muitos clientes não entendem o processo de marcação a mercado eles ficam ansiosos para sair do fundo a cada oscilação. Nos planos, a pessoa fica sujeita às mudanças de humor dos outros cotistas”, diz Tatiana Engelmann, CFP®, planejadora financeira certificada pelo IBCPF. 

Uma pesquisa da consultoria NetQuant, divulgada em maio na revista EXAME, mostrou que nos últimos cinco anos (contados até aquele mês), enquanto as NTN-Bs renderam 125%, os planos de previdência de renda fixa tiveram rentabilidade de 54% e os planos de previdência multimercados, de 50%. Ainda de acordo com o levantamento, que analisou 536 planos, um quarto deles perdeu da inflação no período.

4 Imposto de renda pago no Tesouro pode ser menor

Muitas instituições vendem os planos de previdência exaltando a vantagem do benefício fiscal dos planos da modalidade PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), que permite que as contribuições feitas durante o ano sejam deduzidas do rendimento tributável do imposto de renda, até o limite de 12% da renda. Ocorre que, apesar da dedução no imposto de renda do ano seguinte, o investidor precisará pagar o IR de qualquer forma quando resgatar seu investimento lá na frente.

“É uma postergação do imposto para quando o investidor sacar os benefícios no futuro, e isso é muito discutível”, afirma Meibak. Segundo ele, esse abatimento só será uma vantagem em relação ao Tesouro se o participante investir o valor economizado com o imposto, já que ao longo de 10 anos essa economia poderia trazer um rendimento razoável.

Outro argumento a favor da previdência seria o fato de no Tesouro a tributação mínima do imposto de renda ser de 15% (em prazos superiores a dois anos) enquanto nos planos o investidor poder chegar à alíquota mínima de 10% se mantiver o investimento por mais de dez anos e se for usada a tabela de tributação regressiva do imposto, na qual a alíquota é reduzida quanto maior o prazo do investimento.


Por esse motivo, à primeira vista os planos podem parecer mais vantajosos em termos fiscais, mas há um detalhe que faz toda a diferença. Enquanto no Tesouro o IR de 15% recai sobre o rendimento apenas, nos planos de previdência ele incide sobre o valor total investido. “Uma coisa é tributar 15% sobre o ganho e outra 10% sobre tudo o que se saca. Até se fosse uma tributação de 40% sobre o ganho no Tesouro ainda assim seria mais vantajoso, porque só incide sobre o rendimento”, explica Meibak.

5 Taxas da NTN-B estão muito atrativas

Outro ponto a favor das NTN-Bs é a remuneração que elas estão oferecendo neste momento. “A NTN-B tem sido muito recomendada por causa da garantia de juro real independentemente do que acontece com inflação. E o nível de juro real oferecido, de quase 6%, é muito interessante e não existe nenhum país”, afirma Tatiana.

Atualmente, a NTN-B Principal (que não paga juros semestralmente, apenas no vencimento) com vencimento em 2035 está sendo vendida com uma taxa de juro anual de 5,81%. “Com esse nível de juro real faz muito sentido ter esse titulo se o cliente tiver um horizonte de investimento longo, lembrando que caso ele se desfaça do título antes do vencimento, ele pode perder dinheiro”, comenta a CFP®.

Pese também na sua decisão

Ainda que o Tesouro Direto ofereça muitas vantagens, se você já investe em um plano de previdência, resgatar os recursos pode não ser vantajoso por causa dos custos que você terá para fazer o saque. Esses custos podem variar muito de acordo com a modalidade do plano (PGBL, VGBL) o tipo de tributação de imposto de renda escolhido (regressivo ou progressivo), o período do investimento e a renda investida. 

Em matéria anteriormente publicada, EXAME.com mostrou como mensurar quanto você pagará ao resgatar os recursos do seu plano de previdência e como avaliar em quais casos vale a pena fazer isso.  

Caso você perceba que a penalização será grande, talvez seja interessante manter os investimentos no plano, mas passar a destinar os novos aportes ao Tesouro Direto.

Tatiana Engelmann ainda alerta para outra questão: o benefício dos planos de previdência em relação ao planejamento sucessório. Enquanto no Tesouro Direto, em caso de falecimento do investidor, os herdeiros precisarão pagar o Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD) para receber os recursos, os planos de previdência do tipo VGBL são transmitidos aos beneficiários sem necessidade de inventário e de pagamento do ITCMD. 

No entanto, como em muitos estados o ITCMD é de 4% e pode ser isento até um determinado limite (em São Paulo o limite é de 48 mil reais), a isenção desse imposto no VGBL pode não ser o suficiente para compensar todas as outras desvantagens dos planos apresentadas acima, como os maiores custos. Fora isso, a maior facilidade do planejamento sucessório pode não ser uma vantagem tão grande para alguém que não está pensando prioritariamente nos seus herdeiros, mas sim em qual investimento garantirá uma maior rentabilidade. 

Veja no vídeo a seguir qual é o melhor título do Tesouro Direto para quem quer investir para a aposentadoria:

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