Preocupação: Colocar as contas no débito automático é uma das dicas para não perder os vencimentos (Thinkstock/Jupiterimages)
Da Redação
Publicado em 8 de setembro de 2015 às 16h28.
São Paulo - Se você já tinha dificuldades para pagar as contas em dia, a crise econômica pode ter piorado sua situação.
Um levantamento realizado neste mês pela Serasa Experian mostrou que 56,4 milhões de brasileiros estão inadimplentes, ou seja, suas contas estão atrasadas em mais de 90 dias. Ao entrevistar 1.274 consumidores, a Serasa também verificou que 73% deles afirmaram que sua situação financeira piorou em 2015.
Diante desse cenário, EXAME.com reuniu algumas dicas simples para manter o orçamento no azul e não atrasar o pagamento das contas. Confira a seguir.
Sem descobrir qual é a causa do descontrole financeiro, as chances de o problema voltar são grandes. Por isso, para colocar as finanças de volta nos trilhos, é fundamental refletir sobre a raiz do seu problema.
De acordo com a pesquisa da Serasa, as principais razões apontadas pelos entrevistados para a decadência das finanças em 2015 são: a inflação, que aumenta o custo de vida (32,18%); a perda de emprego (31,87%); a redução da renda (17,82%); e o descontrole nos gastos (12,56%).
“O aumento desemprego contribui para que as pessoas não consigam pagar as contas, mas muitos não pagam suas despesas em dia porque estão gastando mais do que ganham. Essas pessoas precisam ir atrás da causa desse descontrole”, diz o consultor financeiro André Massaro.
É importante pensar se você não está exagerando nos gastos para compensar eventuais frustrações. Ao perceber que você gasta mais sempre que tem um dia difícil no trabalho, por exemplo, é possível refletir e concluir que talvez o problema a ser solucionado é o seu trabalho, e fazer algumas comprinhas no shopping não resolverá a questão.
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Você sabe exatamente qual é a sua receita mensal e suas depesas ou tem apenas uma ideia? Se você se encaixa melhor na segunda opção, pode ter certeza de que essa imprecisão também contribui para que suas contas não sejam pagas em dia.
E você não está sozinho. Uma pesquisa do SPC Brasil, realizada em 2014, revelou que 42% das pessoas não sabem exatamente qual é sua renda. Para controlar melhor as finanças, verifique qual é o seu salário líquido, que é o valor que de fato cai na sua conta depois de descontados o Imposto de Renda, a contribuição ao INSS e eventuais contribuições ao plano de previdência da empresa e plano de saúde.
Em seguida, levante quais são seus gastos fixos e variáveis e suas dívidas, como os financiamentos e as próximas faturas do cartão de crédito. “Algumas pessoas nem sequer olham o extrato mensal da conta para não se aborrecer. É como aquela pessoa que vai na churrascaria, exagera na comida e depois não quer se pesar para não ver o estrago que fez", comenta André Massaro.
Ao colocar na ponta do lápis suas receitas, despesas e dívidas, é possível identificar com mais facilidade o que está desequilibrando seu orçamento. Para facilitar a tarefa, vale usar planilhas em Excel, apps, cadernos, ou a ferramenta que você considerar mais efetiva para não deixar o controle do orçamento de lado (confira 15 opções de planilhas e apps para controlar o orçamento no fim da matéria).
Em primeiro lugar, vale prestar atenção aos gastos que você tem realizado e que não fazem sentido, como altas tarifas bancárias, planos de academia que não têm sido 100% usufruídos e serviços de telefonia fixa e assinaturas que podem ser cortados sem grandes problemas (veja 10 coisas pelas quais você pode estar pagando caro demais).
Se ao eliminar esses gastos, seus problemas não forem resolvidos, busque maneiras criativas de acomodar suas despesas, seja pensando em formas de lazer mais baratas ou em maneiras de ampliar sua receita obtendo rendas extras (confira algumas dicas).
Agora, se o buraco for mais fundo e as sugestões acima forem insuficientes, talvez seja o caso de atacar os gastos mais pesados do orçamento, como as suas contas fixas.
Nesse caso, a solução pode exigir medidas mais drásticas, como a mudança para um imóvel menor, para reduzir gastos com o financiamento e condomínio, ou a venda do seu carro, o que pode exigir uma mudança no seu estilo de vida.
Como são mudanças significativas, é importante refletir com calma se para você faz mais sentido manter esse tipo de bem, mesmo que eles exijam grandes sacrifícios financeiros, ou se valeria mais a pena abrir mão desses bens para ter mais liberdade no seu orçamento.
Em alguns casos, a dificuldade em cortar gastos não está em encontrar despesas que podem ser reduzidas, mas sim em encarar que é preciso mudar o seu padrão financeiro.
“Por causa da crise, algumas pessoas que tiveram avanços na sua situação financeira e passaram a viajar para fora todo ano, por exemplo, agora precisam dar um passo para trás e é muito duro fazer isso porque muitos interpretam essa mudança como um fracasso pessoal”, comenta André Massaro.
O consultor acrescenta que, ao compreender que a redução de gastos é a atitude certa a ser tomada e que reduzir o padrão de gastos não é um fracasso, mas sim uma forma de ajustar as finanças ao cenário de crise, os cortes podem ser menos dolorosos.
Se você tiver mais contas do que seu bolso pode arcar, o jeito é elencar quais débitos são mais urgentes e quais contas não trarão grandes prejuízos se forem atrasadas.
As contas mais importantes são aquelas que geram cortes de serviços essenciais, como é o caso do plano de saúde e das contas de luz e água. Vale lembrar que, no caso da conta de luz, o corte de energia só pode ser feito em 15 dias após o comunicado de atraso da fatura e o fornecimento de água só pode ser suspenso após 30 dias, contados também a partir do comunicado de atraso pela fornecedora.
Em seguida, as contas mais importantes são aquelas que geram altos prejuízos, como mensalidades escolares, que podem comprometer a educação dos seus filhos, as dívidas com juros altos e empréstimos que podem levar à retomada de bens, como financiamentos de imóveis (veja quando seu imóvel pode ser retomado pelo banco).
Depois de elencar as dívidas mais urgentes, ordene-as pelo tamanho dos juros. Mesmo se uma dívida for de 1.000 reais e outra de 1.500, se a primeira tiver juros de 15% e a segunda de 5%, apesar de a primeira dívida ser menor, no primeiro caso seriam pagos juros de 150 reais e no segundo de 75 reais, portanto é preferível quitar antes a dívida com maior taxa de juro.
Por fim, as dívidas de menor importância são aquelas referentes a serviços não essenciais, como o plano da academia e a TV por assinatura.
Com as recentes elevações da taxa básica de juros da economia, Selic, os juros dos empréstimos também ficaram mais altos. Por isso, é ainda mais importante fugir de linhas de crédito automáticas, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito (cujos juros passam a ser cobrados quando o cliente não paga a fatura do cartão), e buscar empréstimos mais baratos, caso sua renda seja insuficiente para pagar todas as contas.
Uma alternativa para fugir da cobrança de juros, segundo Massaro, é buscar a ajuda financeira de pais e familiares. Mas, ele lembra que esse tipo de empréstimo também pode custar caro. “O custo pode não ser financeiro, mas moral. Por isso é importante avaliar se esse empréstimo não trará prejuízos à sua relação", diz o consultor.
Se essa não for uma boa saída para você, a linha mais barata do mercado hoje é o crédito consignado, empréstimo no qual as parcelas da dívida são descontadas diretamente da folha de pagamento do tomador. Enquanto os juros no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito estão em 246,9% e 395,3% ao ano, respectivamente, os juros do crédito consignado para trabalhadores do setor privado estão em 39,9% ao ano.
Como o consignado é oferecido apenas a aposentados e pensionistas do INSS e a trabalhadores de empresas que oferecem o crédito consignado como benefício aos seus funcionários, caso você não consiga obter esse tipo de crédito, a segunda linha mais barata do mercado hoje é o crédito pessoal, cujos juros giram em torno de 113,8% ao ano (veja cinco opções de crédito que costumam ter juros baixos).
Para manter o orçamento no azul, a palavra de ordem é organização. Mas, se você não leva muito jeito para isso, alguns recursos e ferramentas podem te ajudar.
Uma das principais dicas para não esquecer suas contas é colocá-las no débito automático, serviço oferecido pelos bancos que permite programar o pagamento de contas. Infelizmente, nem todos os prestadores de serviço oferecem essa opção, por isso é preciso consultar a empresa que receberá as prestações para verificar se ela aceita o pagamento por débito automático.
Para que você consiga separar parte do seu orçamento para investimentos com frequência, em vez de fazê-lo apenas quando sobra algum dinheiro no fim do mês, também é possível recorrer à aplicação programada. A funcionalidade pode ser usada para agendar investimentos na poupança, no Tesouro Direito e em fundos de investimento, mas é preciso verificar se o seu banco oferece essa opção.
Alguns bancos também disponibilizam aos clientes o serviço de envio gratuito do saldo atualizado da conta corrente e dos gastos realizados no cartão por SMS.
Aplicativos como o GuiaBolso também podem ajudar na organização: ao inserir dados da sua conta e cartão, o app registra automaticamente todas as suas entradas e saídas (veja no fim da página opções de apps para controlar os gastos).
Na mesma linha, o cartão de crédito Nubank também permite um controle mais apurado dos gastos. O aplicativo do cartão registra todos os pagamentos feitos com o plástico e permite alterar o nome dos estabelecimentos nos quais foram realizadas as compras. Os gastos são apresentados em um mapa, que facilita a visualização de cada despesa.