Cofrinhos, calculadora e caderno: Se endividamento for inevitável, certifique-se de que você não está com a dívida errada (Thinkstock/Pogonici)
Da Redação
Publicado em 23 de julho de 2015 às 09h23.
São Paulo - Contrair dívidas já é algo suficientemente ruim, mas pode ser pior ainda se você contratar o empréstimo errado.
Dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostram que 40% da população adulta está endividada. Assim, tão importante quanto discutir como evitar o endividamento pode ser entender se essas pessoas estão com a dívida errada.
Segundo o Banco Central, em maio os juros do cheque especial ficaram em 232% ao ano, em média, e os juros do cartão de crédito rotativo (aquele que é cobrado quando a fatura do cartão não é paga) estavam em 361% ao ano. Enquanto isso, em linhas como o crédito consignado privado, os juros médios ficaram em 38% ao ano.
Na prática, ao considerar essas taxas médias, em um empréstimo de 50 mil reais, com prazo de um ano, o devedor pagaria: 174.922,53 reais no cheque especial; 240.895,24 reais no rotativo do cartão de crédito; e 71.288,04 reais no crédito consignado.
Como as duas primeiras linhas são muito práticas e automáticas - os juros começam a rolar assim que o cliente entra no negativo ou deixa de pagar a fatura-, muitas pessoas acabam pagando juros altos à toa, sem se dar conta de que existem opções de empréstimo mais baratas.
“As pessoas estão nas dívidas erradas. Elas entram no cheque especial porque é mais fácil e o próprio banco incentiva isso: no extrato, o cheque especial aparece como se fosse parte do nosso saldo o que leva à falsa impressão de que ele é uma extensão do salário. O rotativo do cartão, então, é ainda mais temerário”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito).
Tente eliminar a dívida antes de tudo
Antes de avaliar quais linhas de crédito são mais vantajosas, é importante checar se é possível resolver as pendências financeiras sem recorrer ao empréstimo. “A melhor coisa nesse momento é organizar o orçamento e não se endividar porque as taxas de juros estão muito altas e têm elevado muito o valor das dívidas”, diz Marcela.
Ao analisar como o orçamento pode ser enxugado, é importante verificar se você não está se concentrando apenas no corte de gastos pequenos, que não farão grande diferença de forem limados. Em alguns casos, pode ser mais efetivo repensar custos fixos e mais pesados (veja como essa estratégia pode te ajudar).
Além de verificar se é possível reduzir algum gasto no orçamento, a economista-chefe do SPC Brasil sugere também que a pessoa avalie se não seria possível vender algum bem, como um carro, para que o empréstimo não seja necessário.
Se a dívida já foi contraída, também é importante conversar com o credor para analisar a possibilidade de negociar o pagamento. "O credor tem tanto interesse em resolver a dívida quanto o devedor em pagar”, diz Marcela Kawauti.
Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, é essencial que o devedor busque a origem do descontrole e não veja o empréstimo como a solução final do problema.
“O crédito pode resolver emergencialmente a situação, mas é preciso equalizar as contas de forma sustentável. Se a pessoa está com um buraco no orçamento, o problema é estrutural, não conjuntural e o crédito resolverá a situação apenas momentaneamente”, diz Rabi.
Caso o endividamento seja a única alternativa, no entanto, aí sim é o momento de analisar qual empréstimo penalizará menos seu bolso.
A seguir, EXAME.com reuniu cinco tipos de empréstimos que, apesar de não serem propriamente baratos - afinal, nenhum deles é -, costumam praticar taxas de juros muito inferiores a de linhas de crédito como o rotativo do cartão e o cheque especial.
Vantagens: Esta é uma das modalidades mais indicadas por especialistas, e não à toa. Os juros são alguns dos mais baixos do mercado. Como as parcelas da dívida são descontadas da folha de pagamento do devedor, os bancos têm mais garantia de que receberão o pagamento em dia e oferecem taxas inferiores a de empréstimos que não têm essa segurança.
Desvantagens: Nem todas as pessoas têm acesso à linha. O consignado é oferecido apenas a pensionistas e aposentados do INSS, que são aquelas pessoas que recebem aposentadoria oficial ou pensões do governo, e a empregados de empresas privadas que possuem convênios com bancos para oferecer o crédito consignado aos seus funcionários.
“O consignado funciona como um benefício, que pode ou não ser oferecido pelas empresas aos funcionários. Por isso, é mais comum que empresas grandes ofereçam a linha de crédito, empresas menores nem sempre oferecem”, diz Marcela.
Alguns bancos cobram taxas de avaliação de crédito, tarifas de cadastro e podem tentar embutir seguros no empréstimo, por isso é essencial observar o Custo Efetivo Total (CET) da operação, taxa que inclui não apenas os juros, como todos os custos envolvidos no empréstimo.
Além isso, é essencial pesquisar o CET da operação em diferentes instituições, comparando não apenas os custos entre bancos grandes como em bancos de menor porte, que podem oferecer condições mais vantajosas.
Vantagens: Nesse empréstimo o proprietário oferece seu imóvel como garantia da dívida, por isso a linha é chamada de refinanciamento de imóvel (ou de home equity, termo importado de uma operação de crédito do mercado americano semelhante à realizada no Brasil). Como o banco tem a garantia de que poderá retomar o imóvel se não receber o pagamento da dívida, os juros são mais baixos, os valores emprestados podem passar dos milhões de reais e os prazos podem chegar a até 20 anos.
Os juros podem ser ainda menores do que os do crédito consignado, variando entre 19,56% a 26,82% ao ano, mas existem outros custos envolvidos na operação.
Desvantagens: A maior desvantagem dessa linha é o seu alto risco, já que em caso de inadimplência o banco pode retomar o imóvel do devedor. Também é um empréstimo que envolve muitos custos além dos juros.
Como é realizada uma operação de alienação fiduciária, na qual o imóvel fica no nome do banco até a quitação da dívida, é preciso registrar a operação em cartório, como em um financiamento. O custo de registro do imóvel varia conforme a região, mas no site do Santander, o banco afirma que o custo gira em torno de 0,6% do valor do imóvel. Podem ser cobradas tarifas também de avaliação do imóvel e de análise jurídica, que variam entre 500 reais e 2.500 reais e seguros.
Assim, apesar dos juros mais baixos é essencial observar o CET da operação. Reportagem anteriormente publicada em EXAME.com mostra que os custos finais podem ser bem maiores do que os do crédito consignado, mas ainda assim são inferiores aos do cheque especial e do rotativo do cartão.
Portanto, o refinanciamento pode ser mais indicado para quem não tem acesso ao consignado e precisa de um empréstimo com prazos e valores superiores aos de outras operações.
Vantagens: Como o pagamento da dívida é debitado da conta do devedor assim que a restituição de Imposto de Renda (IR) é depositada, os bancos também têm mais garantia de que receberão o pagamento e oferecem taxas reduzidas. As taxas partem de 1,93% ao mês, o equivalente a 25,78% ao ano.
Ainda que esse tipo de empréstimo se encaixe na modalidade de crédito pessoal, suas taxas costumam ser inferiores às de outras operações de crédito pessoal, que não oferecem a restituição de IR ou outros valores a serem creditados, como o 13º salário, como garantia.
Desvantagens: Se houver inconsistências na declaração de IR, o contribuinte pode cair na malha fina e o valor de restituição inicialmente previsto pode ser reduzido ou, pior, pode nem chegar a ser depositado. E mesmo que a situação com o Fisco seja regularizada, o valor da restituição pode ser pago apenas a partir do ano seguinte ao da declaração, nos lotes residuais.
Mesmo assim, o banco exigirá que o pagamento seja feito no máximo até dezembro, quando é depositado o último lote de restituição do IR. Assim, o tomador pode não ter condições de pagar a dívida.
Vale mencionar que o crédito fica disponível apenas no banco que o devedor indicou na declaração para recebimento da restituição, o que pode não ser tão conveniente.
Luiz Rabi, economista da Serasa, também lembra que nesse tipo de empréstimo o prazo é mais curto. "O cronograma da dívida segue as datas dos lotes da Receita Federal. Como o horizonte se esgota em poucos meses, o devedor deve se organizar para que o problema seja resolvido em pouco tempo", diz.
Vantagens: Por ter a contrapartida do 13º salário, também é uma linha que costuma ter taxas inferiores a de outros empréstimos pessoais que não possuem créditos a serem recebidos como garantia do pagamento, como no caso da antecipação do IR.
Desvantagens: Mesmo que o empregador não deposite o 13º salário, a dívida é descontada da conta do devedor no dia do vencimento da dívida acordado com o banco. Assim, o devedor pode correr o risco de não ter recursos para pagar o empréstimo.
Outra desvantagem é que com a antecipação o devedor abre mão de receber o 13º salário no final do ano. “A pessoa antecipa um crédito que cairia justo na época em que mais se gasta, que é o final do ano, quando temos despesas com presentes de Natal, viagens e com os gastos de início de ano, como IPVA, IPTU e material escolar, por exemplo”, afirma Marcela Kawauti.
Vantagens: Alguns sites têm oferecido crédito pessoal com juros mais baixos do que os cobrados em bancos grandes. Como esses sites não têm custos de manutenção com agências físicas e geralmente são mais rigorosos na concessão do crédito, eles conseguem montar uma carteira mais concentrada em bons pagadores, o que reduz os riscos e permite que eles ofereçam juros menores.
Alguns dos sites que oferecem esse tipo de empréstimo são o Bom Pra Crédito, o Geru e o Lendico (veja a matéria completa sobre os sites especializados em empréstimos).
Esses sites fazem parcerias com bancos de médio e pequeno porte para oferecer os recursos e funcionam como correspondentes bancários.
Desvantagens: Entre os contras está justamente a análise mais rigorosa de crédito, que pode impedir que algumas pessoas tenham o crédito aprovado.
"O interessado deve estar preparado para a burocracia. Como esses sites não conhecem o cliente e o seu histórico de pagamento, como acontece nos bancos grandes, eles exigem uma série de informações para se certificar de que o cliente pode pagar a dívida”, diz Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
Outra desvantagem ainda é que, em alguns casos, esses sites podem cobrar taxas de administração, por isso, novamente, é preciso avaliar o CET da operação e não apenas os juros.
Veja, no vídeo a seguir, como fazer seu dinheiro sobrar no fim do mês:
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