Mercado imobiliário

O que aprender com os erros de Buffett

Bilionário admitiu ter tomado três decisões que “machucaram” os investidores da Berkshire Hathaway em 2011; veja o que aprender com cada um deles

Warren Buffett: autocrítica em relação a três erros cometidos no mercado (Justin Sullivan/Getty Images)

Warren Buffett: autocrítica em relação a três erros cometidos no mercado (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de março de 2012 às 19h04.

São Paulo – Considerado o maior investidor da história, Warren Buffett divulgou na semana passada a carta anual aos acionistas da Berkshire Hathaway, em que faz um balanço das atividades de sua empresa de investimentos. O documento, como de costume, foi esmiuçado por gestores de fundos e pequenos investidores ávidos por dicas que os ajudem a ganhar dinheiro nos próximos meses. Um trecho da carta que chama a atenção é aquele em que Buffett trata das decisões equivocadas que “machucaram” os acionistas da Berkshire Hathaway em 2011. O bilionário fala, sem nenhum pudor, sobre os erros que cometeu e não poupa a si mesmo de uma ácida autocrítica. Veja a seguir os três enganos de Buffett e o que é possível aprender com eles:

1 – O mercado imobiliário não se recuperou

O que diz Buffett: No início de 2011, o bilionário acreditava que a recuperação do setor imobiliário nos Estados Unidos começaria em no máximo um ano. Baseada nessa crença, a Berkshire Hathaway manteve investimentos em cinco empresas do setor imobiliário (uma incorporadora e quatro fabricantes de materiais de construção). Mas o lucro acumulado de todas elas no ano passado não chegou a um terço do registrado em 2006. “Eu estava totalmente enganado”, admitiu Buffett.

Na carta de 2012, porém, ele voltou a afirmar que o setor imobiliário “vai se recuperar”. No longo prazo, o número de casas construídas e de novas famílias nos Estados Unidos tende a se equiparar. Nos anos que antecederam 2008, o aumento da oferta era muito maior que o da demanda. “Inevitavelmente acabamos com um excesso de residências e o estouro da bolha foi tão violento que chacoalhou todo o país.” Mas a equação de oferta/demanda agora foi revertida. A construção de cerca de 600.000 novas casas por ano nos Estados Unidos é insuficiente para atender às novas famílias que se formam e o bilionário acredita que a demografia vai trazer o equilíbrio de volta ao setor imobiliário.

O que aprender: Responsável pelo índice FipeZAP, a principal referência dos preços dos imóveis no Brasil, Eduardo Zylberstajn afirma que a equação oferta/demanda é realmente determinante para a valorização ou desvalorização das residências em qualquer país. Um estudo realizado pela Fipe/ZAP acaba de concluir que o recente boom dos imóveis no Brasil é consistente porque o crescimento da demanda foi bem maior que o da oferta.

Em São Paulo, mostra o estudo, o número buscas por imóveis no ZAP, maior site de classificados desse segmento no Brasil, cresceu 119% nos últimos dois anos. Já o número de anúncios teve alta de apenas 48%. “O desequilíbrio entre o crescimento da oferta e da demanda ajuda a explicar o aumento de preços de 57% em São Paulo no mesmo período”, diz Zylberstajn.

Para antever o futuro do mercado imobiliário como Buffett tenta fazer, no entanto, Zylberstajn afirma que é necessário buscar a fundo as causas que poderão impulsionar a oferta e a demanda nos próximos meses ou anos. A demografia certamente favorece a demanda. Mas, ao menos no Brasil, o que mais conta é o crescimento do crédito e, em seguida, o aumento da renda.

No período do boom imobiliário brasileiro, a renda e o crédito explodiram. Em dezembro de 2005, o juro médio dos financiamentos imobiliários no Brasil alcançava 20% ao ano e o prazo médio de pagamento era de apenas 3,7 anos. Agora o juro médio é de 13% e o prazo é de 13,2 anos. Já a renda mediana da população cresceu de 810 reais para 999 reais no mesmo período. “É a equação das Casas Bahia. Agora a prestação do imóvel cabe no bolso dos brasileiros”, diz Zylberstajn.


Já nos EUA, o cenário não é tão róseo. Os juros para financiamentos imobiliários de 30 anos são inferiores a 4% ao ano – uma das mais baixas taxas da história. O problema é que os consumidores estão super endividados e parecem não confiar na economia o suficiente para comprar uma casa – o que mantém a recuperação em suspenso.

2 – Perdas com títulos de renda fixa

O que diz Buffett: Anos atrás, a Berkshire Hathaway investiu cerca de 2 bilhões de dólares em títulos de dívida da Energy Future Holdings, uma empresa de energia do Texas. “Foi um grande erro.” Os resultados da companhia estão muito atrelados aos preços do gás natural, que desabaram desde o investimento da Berkshire e continuam depreciados. Ainda que a empresa já tenha honrado 102 milhões de dólares em juros desses papéis, em breve ela não terá mais capacidade de pagar a dívida a não ser que os preços do gás subam substancialmente. O valor dos papéis foi marcado a mercado e caiu em 1 bilhão de dólares em 2010 e em mais 390 milhões no ano passado. Se os preços do gás continuarem nos atuais patamares, haverá novas perdas nos próximos anos. “Calculei as probabilidades de ganhos e perdas com esse investimento de uma forma totalmente equivocada. Em linguagem do tênis, foi um grande erro não forçado”, admitiu.

O que aprender: Ainda que sejam papéis de renda fixa, títulos de empresas privadas, como as debêntures, são bastante arriscados, principalmente no Brasil, onde não há um mercado secundário ativo e o investidor pode ser obrigado a carregar o papel até o vencimento. Anos à frente, qualquer empresa que parece hoje 100% saudável pode ter sua capacidade de pagamento exaurida.

A boa notícia é que os pequenos investidores brasileiros não precisam correr o risco do crédito privado para conseguir uma rentabilidade superior à Selic ou ao CDI com renda fixa. Peter Weiss, sócio-diretor da corretora SLW, explica que a escolha do melhor papel depende do perfil do cliente, da idade, das expectativas de rentabilidade e dos motivos para a poupança. No entanto, em geral ele costuma indicar aos investidores uma cesta de papéis emitidos por bancos médios, as LCI (Letras de Crédito Imobiliário), que rendem entre 90% e 100% do CDI (a taxa de juro do mercado bancário, que segue de perto a Selic). A grande vantagem desses papéis é a isenção de Imposto de Renda. Um CDB sobre o qual incide IR deveria render entre 110% e 120% do CDI para apresentar uma rentabilidade líquida semelhante.

As LCI são emitidas pelos bancos com lastro em financiamentos imobiliários concedidos por essas instituições. O governo só concedeu isenção de IR para o papel porque também tem interesse em desenvolver o setor imobiliário. Um cuidado necessário ao investir em LCI é a diversificação. O Fundo Garantidor de Crédito indeniza os clientes bancários em até 70.000 reais caso uma instituição financeira quebre. “É por isso que recomendo aos clientes investir 60.000 reais em cada instituição para não correr riscos”, diz Weiss.


O cliente pode investir em LCI abrindo contas em diversas instituições. O banco Sofisa e a Brazilian Mortgages estão entre as que trabalham com esse papel. A segunda forma de aplicar é por meio de uma corretora que compre os papéis em lotes milionários e depois distribua pequenas frações aos clientes. A SLW é uma das que presta esse tipo de serviço. Mas a LCI também tem uma desvantagem sobre o CDB: é difícil encontrar liquidez diária. Em geral, quem investe em LCI terá de deixar o dinheiro parado entre três meses e dois anos.

Outra forma de conseguir uma rentabilidade acima da Selic é com o Tesouro Direto. A ferramenta de venda de títulos públicos pela internet possui três tipos de papéis: as LFT (que pagam a Selic), as NTN-B (que pagam uma taxa de juros mais a inflação pelo IPCA) e as LTN/NTN-F (que pagam uma taxa de juros fixa até o vencimento).

O investidor que queira ganhar mais que a Selic, portanto, precisa comprar NTN-B ou LTN/NTN-F. Apesar de serem papéis de renda fixa, esses títulos possuem um valor de face que varia diariamente no mercado. Quem compra uma NTN-B com uma taxa de juros elevada (6% ao ano mais IPCA, por exemplo) tende a ganhar muito dinheiro se a inflação subir porque o valor de face do papel tende a se valorizar - da mesma forma que na bolsa. É importante lembrar que se o cenário não se confirmar, o investidor pode ganhar menos que a Selic ou até perder dinheiro.

Hoje, a maioria dos gestores de fundos e especialistas de mercado recomendam o investimento em NTN-B. “O governo já deixou claro que vai baixar os juros para conter a entrada de dólares no país”, diz Weiss, da SLW. “Então teremos uma inflação mais elevada logo à frente.”

Em relação às debêntures, os investidores brasileiros costumam fugir dos papéis devido à falta de liquidez. A BNDESPar, por exemplo, fará uma emissão com aplicações a partir de 1.000 reais até abril. Os juros devem ficar 0,5 ponto percentual acima de títulos públicos equivalentes. Ainda que seja muito improvável que o BNDES quebre algum dia, o investidor precisa aceitar o inconveniente de ter de manter o investimento por vários anos. Já quem usa o Tesouro Direto, por exemplo, pode revender os títulos públicos para o próprio governo todas as quartas-feiras e usar o dinheiro como quiser.

Quem não precisará dos recursos por vários anos e está disposto a comprar debêntures deve tomar dois cuidados, afirma Bruno Carvalho, especialista em renda fixa da XP Investimentos. O primeiro é olhar o rating da empresa e verificar se os juros propostos estão de acordo com a média das emissões anteriores com risco semelhante. Se o investidor decide comprar uma debênture de altíssimo risco para ganhar 1 ponto percentual acima dos títulos públicos, a aplicação pode se provar desastrosa como a de Buffett.


O segundo cuidado é olhar as expectativas para o futuro de uma empresa. Carvalho diz que a XP possui uma equipe de analistas para a área de ações que já tenta prever os fluxos de caixa futuros das empresas. O mesmo trabalho serve para analisar se uma empresa não terá sua capacidade de pagamento de dívidas exaurida. Algumas das maiores empresas brasileiras trabalham com commodities e possuem os melhores ratings do Brasil. Se os preços dessas matérias-primas tiverem forte queda dentro de alguns meses, é provável que os lucros também desabem. “É o analista que sabe avaliar se uma empresa considerada brilhante hoje continuará em boa forma daqui a alguns meses”, diz Carvalho.

3 – Lucros menores com resgates antecipados

O que diz Buffett: Três grandes e atrativos investimentos em renda fixa que a Berkshire Hathaway havia feito foram resgatados pelos próprios emissores em 2011. Swiss Re, Goldman Sachs e General Eletric pagaram 12,8 bilhões de dólares para comprar de volta títulos que estavam produzindo 1,2 bilhão de dólares em juros anuais para a Berkshire. “Teremos de nos esforçar para repor receitas tão representativas”, diz Bufffett.

O que aprender: Para Bruno Carvalho, da XP, o erro nesse caso foi não prestar tanta atenção aos detalhes do investimento. Buffett comprou ações preferenciais (que são semelhantes às debêntures no Brasil) do Goldman Sachs no olho do furacão da crise de 2008. Conseguiu obter dividendos gordos por isso porque o banco precisava desesperadamente de dinheiro naquela época. Mas a alegria durou pouco. O Goldman Sachs exerceu o direito de recomprar os papéis no ano passado e deixou Buffett a ver navios.

Para Carvalho, qualquer investidor vai prestar muito mais atenção à rentabilidade de um papel na hora de escolher uma aplicação. Mas isso é um erro. É necessário verificar todo o conjunto de regras do investimento, que são explicitadas no prospecto da emissão.

Em geral, debêntures possuem cláusulas de resgate antecipado tanto a pedido do emissor quanto do investidor. Recentemente a Suzano Papel e Celulose descumpriu as metas para o teto da dívida, o que deu aos detentores de suas debêntures o direito de revender os papéis para a própria companhia. Em assembleia, os investidores decidiram manter a aplicação – mas uma decisão oposta poderia ter sido desastrosa para a companhia.

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